Não é um fato isolado
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Não é um fato isolado

Há poucos dias, estava eu rolando os stories do Instagram, quando me deparei com um repost em um perfil de vinho. "Racismo é crime".

Jussara Marra
3 min
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Há poucos dias, estava eu rolando os stories do Instagram, quando me deparei com um repost em um perfil de vinho. "Racismo é crime".

Ok. Eu sei que é. Aliás, falo tanto disso e em tantos ambientes e com tantas abordagens diferentes, que se o repost fosse meu, estaria tudo normal. Misturar assuntos é minha especialidade. Talvez por isso ainda mantenha meu perfil bem fechadinho. Bagunças a gente só mostra para alguns.

Mas não era. E aquele post não condizia com o que eu costumava ver ali. Cliquei e fui ler. 

Suzana Barelli, colunista de vinhos do caderno Paladar, do Estadão. Branca. Mãe de dois filhos negros (fato que eu até então desconhecia). Pra quem não viu e quer entender o contexto, dá um pulo lá no @suzanabarelli.

Ela era a autora do post. E a razão? Seu filho, de 10 anos, tinha sido impedido pelo segurança de entrar em uma loja em um centro comercial (branco! claro!) em São Paulo sob o argumento de que seria norma do estabelecimento que ali não era permitido pedir.

É um absurdo. Uma agressão. Uma falta de respeito. E poderia aqui seguir adjetivando a situação por um longo tempo. Mas me limito a dizer que, por mais terrível que seja, é uma gota no oceano, se comparado às violências que negros (estejam eles em famílias inter-raciais ou não) sofrem absolutamente todos os dias.

Algumas questões emergem daí e merecem uma atenção maior, já que não nos conformamos em simplesmente repostar um ou dois conteúdos no Instagram:

1. A inter-racialidade acaba por colocar negros em ambientes majoritariamente brancos, criados muitas vezes inconscientemente para brancos. E esses ambientes são automaticamente mais hostis para os negros. Precisamos ter um olhar crítico. Precisamos enxergar e mudar essa realidade.

2. A decisão por uma adoção inter-racial deve levar em conta os desafios de preparar os nossos filhos para um mundo que vai bater neles mais forte. Muitas vezes forte até demais. E não cabe o discurso simplista de "se eu não tenho preconceito, vai ficar tudo bem". Não vai. 

É preciso ter em mente que não seremos capazes de blindar nossos filhos das violências (das grandes e das micro) que eles sofrerão durante toda a vida por simples (simples?) decorrência da cor da pele.

Nunca fomos levados a pensar sobre isso porque nunca experimentamos essa dor. Então aqui o exercício de pensar a nossa branquitude, entender o papel que ostentamos e, a partir daí enxergar o mundo pelos olhos dos nossos filhos, é ainda mais difícil e mais necessário.

A questão é profunda. Incita inúmeras abordagens. Algumas já fizemos, algumas repetimos diuturnamente, outras virão... só não deixaremos com que situações como essa aconteçam em silêncio.

Deixo aqui o papo que tive no Instagram a respeito e também o artigo da Suzana Barelli ao qual faço referência. 

LINK PARA O ARTIGO

LINK PARA O PAPO EM VÍDEO

Leiam, compartilhem. 

Sejam, cada um, instrumento da mudança que querem ver no mundo.

E amanhã, quando tomarem o café antes do trabalho, sigam se indignando com o que já passou...