Sobre livros, encontros e acasos
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Sobre livros, encontros e acasos

Muitos anos atrás, ouvi um “já que você gosta tanto de escrever, escreve um livro”. Por mais que pareça algo legal de se escutar. Isso não era um incentivo. Não no contexto que foi dito.

Jussara Marra
3 min
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Muitos anos atrás, ouvi um “já que você gosta tanto de escrever, escreve um livro”. Por mais que pareça algo legal de se escutar. Isso não era um incentivo. Não no contexto que foi dito.

Os anos passaram, a vida girou muito mais do que eu imaginei e no lançamento do meu primeiro livro, lá em 2019, lembro da sensação de medo… ver aquelas pessoas com os livros na mão me deu a sensação de concretude e permanência.

Não era mais como postar algo nas redes sociais e apagar caso eu desistisse. O que eu escrevi tinha saído do meu controle e acabaria chegando nas mãos de pessoas que eu mesma não conhecia.

O tempo foi passando, recebi alguns feedbacks, todos  positivos. Tenho certeza que deixei de receber tantos outros, negativos, mas que as pessoas preferiram guardar para si.

Tive um processo completamente diferente na escrita do meu segundo livro e o medo se apoderou de mim mais uma vez, especialmente pela temática.

A resposta aos meus questionamentos sobre se tinha valido à pena encarar as inseguranças vieram em diversos momentos, mas a última foi saber que ele tinha esgotado no stand da editora no meio do segundo de três dias de evento em Araxá no mês passado.

Acontece que a gente nunca tem ideia dos caminhos que as nossas palavras vão tomar depois que materializadas em um livro e no último sábado fui surpreendida por uma das abordagens mais legais até hoje.

Encontrei por acaso uma conhecida que não via há mais de 10 anos.. quando me viu, ela imediatamente disse que queria falar comigo.

Resumindo a história, ela disse que sempre havia pensado em adoção como uma das formas de ser mãe e estava fazendo tratamento de fertilização, morando em outra cidade, quando soube do lançamento do meu primeiro livro.

Comprou um pra ela e um para o médico que a atendeu.

Ela engravidou, a filha nasceu, ela voltou a morar aqui, mas não tinha ainda entregado o livro para o médico. Queria que eu fizesse uma dedicatória. Tinha como entrar em contato comigo, mas ia deixando para depois.

Nesse meio tempo (pense... o lançamento do livro foi em maio de 2019), o médico também lançou um livro sobre as várias formas de se tornar mãe, com um capítulo sobre adoção. 

Da mesma forma que fez com o meu livro, fez com o dele. Comprou um pra ela e um pra mim, e pediu pra que ele fizesse a dedicatória.

Estava com o livro em casa para me entregar há mais de 2 anos.

E o meu aguardando para ser entregue. Há mais tempo que isso.

O encontro, que aconteceu por acaso, também se deu, por coincidência, no salão de festas do prédio onde ela mora. E lá foi ela buscar os livros. O dele, com a dedicatória para mim, e o meu, para ser levado para ele.

Me voltou todo aquele sentimento de "não temos ideia do poder que as nossas palavras ganham depois de materializadas e jogadas para o mundo".

Foi a resposta para muitas perguntas internas. Ficamos ambas felizes e emocionadas.

E para aquele "se você gosta tanto de escrever, deveria escrever um livro" de muitos anos atrás, a minha resposta é: que bom MESMO que eu resolvi escrever!