Roteiro incinerado

Na grande história roteirizada da vida, que folha por folha dita o destino de cada um, minha página é a mais adorada pelos 4 elementos do desespero humano. É como se a vida fosse um livro: ao abrirem acham minha folha, ao achá-la fazem com que ela seja campo de batalha. Com a terra me enterram, me sufocam ao solo, abafando cada grito de desespero, absorvendo cada lágrima de sofrimento, tornando cemitério o meu poço de esperanças; com o ar me abalam, me empurram para fora com o vento, me desnorteiam de meus ideais, me confundem do caminho, balançam meus sentimentos; com a água me trazem ondas de sentimentos frios, tsunamis que congelam meus sentimentos, lavam minhas memórias boas e trazem consigo a lembrança de todo o mal que já passei, me lembrando vergonhas que já senti ao tentar me aproximar demais de sentimentos calorosos; com o fogo queimam tudo o que sobrou, a fumaça leva consigo minha aflição, minha angústia, minha ânsia por querer ter sido mais do que aquele fogo queimou, de querer ter sido de ferro para que não conseguissem incinerar minha desesperança, e só assim eu teria tempo de transformá-la em esperança. Me faltou tempo? Eu fui cautelosamente escolhido para padecer? A culpa é minha? O roteiro previa isto desde o começo? Sofro de injustiça? Calúnia? Talvez seja apenas muito jovem, talvez as páginas ao meu lado já eram de ferro enquanto eu era apenas papel. Eu deveria ter me preparado melhor? Eu deveria ter nascido em uma armadura? Eu sou apenas um grande poço de dúvidas que teve seu roteiro incinerado.