A Reforma do Judiciário e a aproximação entre Israel e Ucrânia
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A Reforma do Judiciário e a aproximação entre Israel e Ucrânia

Enquanto a política interna israelense é tema central dos debates do país, os acontecimentos internacionais seguem seu curso, rendendo, inclusive, notícias alarmantes para o estado judeu. De acordo com informações divulgadas pela Bloomberg, i...

Henry Galsky
4 min
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Enquanto a política interna israelense é tema central dos debates do país, os acontecimentos internacionais seguem seu curso, rendendo, inclusive, notícias alarmantes para o estado judeu. De acordo com informações divulgadas pela Bloomberg, inspetores da Agência Atômica da ONU teriam descoberto urânio enriquecido com pureza de 84% no Irã. A produção de armamento nuclear pode ocorrer quando a pureza atinge a marca de 90%. Portanto, a partir da confirmação deste dado, a capacidade atômica de um dos principais inimigos de Israel é apenas uma questão de tempo (pouco tempo) para se tornar realidade, dependendo apenas da decisão a ser tomada por parte das autoridades iranianas.

Em Kiev, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversa com Eli Cohen, ministro das Relações Exteriores de Israel
Em Kiev, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversa com Eli Cohen, ministro das Relações Exteriores de Israel

Este cenário contrasta com a posição histórica dos governos israelenses que se comprometem a fazer o que for possível para impedir a concretização das ambições nucleares do Irã. E aqui é importante ressaltar que o compromisso israelense é público e não depende da linha ideológica da coalizão de governo.

Neste momento, a arena internacional apresenta desafios a Israel. Enfrentando condenações externas pelo projeto de Reforma do Judiciário e pela decisão de legalizar assentamentos judaicos na Cisjordânia, o governo liderado por Benjamin Netanyahu tem procurado encontrar pontos de apoio e de consenso na comunidade internacional, em especial no Ocidente. Provavelmente por isso, em 16 de fevereiro o ministro das Relações Exteriores Eli Cohen esteve em Kiev, onde se reuniu com o seu equivalente ucraniano Dymitro Kuleba e também com o presidente Volodymyr Zelensky.

Zelensky lembrou a Cohen que o Irã é um inimigo comum a ambos os países. A invasão russa à Ucrânia tem servido como uma espécie de laboratório de testes aos drones iranianos que têm sido amplamente usados na ofensiva em ataques contra infraestrutura civil. O ministro israelense prometeu desenvolver na Ucrânia um sistema de alarmes capaz de auxiliar a população tal como o existente em Israel. Mas, entre promessas e declarações, um ponto do discurso de Cohen chama a atenção: "Israel apoia a integridade territorial e a soberania da Ucrânia".

Este é um aspecto fundamental; até aqui, Israel tem se preocupado em se manter distante de condenações mais firmes aos russos. Não que a declaração de Cohen marque uma virada de posicionamento, mas explicita que o país não concorda com um dos itens mais caros a Moscou, a anexação de partes da Ucrânia. Pensando numa rota de saída da guerra, é bastante improvável imaginar que a Rússia irá retroceder quanto às reivindicações de partes do país. Importante lembrar que Moscou já anexou, em setembro do ano passado, as regiões de Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk - 15% do território ucraniano.

Quando por meio de seu ministro das Relações Exteriores Israel declara que sua posição oficial é pela manutenção do território da Ucrânia em sua concepção moderna (portanto, antes da anexação), o país está, no final das contas, tomando posição contrária aos interesses russos. De forma clara.

Israel mantém relação pragmática e cuidadosa com a Rússia, em especial desde que o país passou a atuar de forma direta na Síria, em 2015, na primeira operação militar russa no exterior desde o fim da União Soviética. As tropas foram enviadas por Moscou para intervir na Guerra Civil síria e salvar seu aliado, o ditador Bashar al-Assad. Israel também atua no país pontualmente, mas com interesses distintos: realiza ataques periódicos principalmente contra comboios de transporte de armamento do Irã para o Hezbollah, no Líbano, e contra os esforços iranianos de estabelecer bases em território sírio. Israel e Rússia mantêm coordenação de forma a impedir que se alvejem mutuamente na Síria.

Agora, há leves indicações - a declaração do ministro Eli Cohen na Ucrânia é um sinal mais evidente - de que Israel começa a mudar seu posicionamento. O pragmatismo de Netanyahu em relação aos russos passa a ser aplicado a partir de uma nova ordem de prioridades; diante das condenações internacionais à atual coalizão de governo do país, Netanyahu parece buscar ganhar pontos ou aliviar a pressão em outras arenas. A guerra na Ucrânia é o item mais caro à comunidade internacional neste momento. E como a cooperação entre russos e iranianos se torna cada vez mais intensa, o caminho de Israel passa a ser ainda mais óbvio.