Como o armamento de maior sucesso da indústria de Defesa brasileira foi parar na Rússia
A aliança entre Irã e Rússia vai além de encontros para debater o futuro da Síria, declarações de apoio mútuo e a busca por caminhos para burlar as sanções internacionais. De acordo com o jornal britânico Guardian, o Irã estaria transferindo armamento e hardware militares para os esforços russos na guerra contra a Ucrânia. Para tornar o assunto mais complexo, isso estaria ocorrendo por meio da presença iraniana no Iraque, país impactado por uma agora distante invasão norte-americana cujas consequências continuam a reverberar como ondas na geopolítica que se estende para além do Oriente Médio. | ||
Entre os armamentos transferidos pelos iranianos estaria também um dos principais produtos da indústria de Defesa do Brasil, o sistema de lançamentos de foguetes Astros 2. Este e outros equipamentos chegaram até as milícias xiitas pró-Irã estabelecidas no Iraque também como uma das consequências da ora longeva invasão norte-americana ao Iraque, em 2003. Isso porque, apesar de essas milícias lutarem contra a presença dos EUA no Iraque, elas acabaram recebendo armamento de forma legal porque também aderiram à campanha militar para conter a expansão do Estado Islâmico (EI). | ||
Lembrando sempre que o Irã é o maior país xiita do mundo e arma e apoia milícias que combatem o EI. De forma resumida, o grupo terrorista sunita nasceu também a partir do momento em que, durante o processo de desintegração do Iraque após a invasão norte-americana, iniciou-se um redesenho do jogo político iraquiano. Saddam Hussein era sunita, grupo que representa entre 29% e 34% da população do país. Na realidade que se impôs a partir de sua queda, havia a promessa de reconfiguração também da balança de poder, dando mais cargos e relevância aos cerca de 60% de xiitas que, durante a ditadura de Hussein (1979 a 2003), não ocupavam os postos mais importantes da estrutura de governo. Parte da população sunita iraquiana apoiou inicialmente o EI por considerar que o grupo poderia protegê-la num eventual processo de vingança por parte da população xiita. | ||
Neste novo reordenamento, o armamento brasileiro caiu nas mãos dos iranianos, que o repassaram aos russos. E aí é preciso retornar no tempo para entender como o Astros 2 foi parar no Iraque. | ||
O sistema de lançamento passou a ser usado pelas forças armadas brasileiras em 1983. E se tornou popular em diversos conflitos militares ao redor do mundo. Foi usado em ação de forma eficiente pelo exército iraquiano nas duas guerras contra os EUA. A Avibrás Indústria Aeroespacial, empresa brasileira fabricante de equipamentos bélicos e de defesa civil, vendeu cerca de 66 sistemas de artilharia Astros 2 ao Iraque. As vendas deste equipamento especificamente atingiram um bilhão de dólares entre 1982 e 1987. O Iraque também produziu o Sajil-60, uma versão licenciada dos foguetes brasileiros SS-60 usados no Astros 2. |