Depois dos mísseis na Polônia, membros da OTAN buscam saída honrosa
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Depois dos mísseis na Polônia, membros da OTAN buscam saída honrosa

Às vésperas do inverno no Hemisfério Norte, a possibilidade de uma guerra aberta em território europeu se torna ainda mais assustadora. A Europa lida com a realidade de alta de inflação, juros e crise energética em função da invasão russa à U...

Henry Galsky
3 min
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Às vésperas do inverno no Hemisfério Norte, a possibilidade de uma guerra aberta em território europeu se torna ainda mais assustadora. A Europa lida com a realidade de alta de inflação, juros e crise energética em função da invasão russa à Ucrânia, um conflito logo ao lado que já dura nove meses e que apresenta poucas perspectivas de solução para breve. Tudo sempre pode mudar, evidentemente, mas os acontecimentos reais no solo ucraniano não são exatamente animadores para quem espera a interrupção da guerra.

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Os mísseis lançados na Polônia e que resultaram na morte de dois cidadãos poloneses adicionam ainda mais elementos complicadores a este quadro. O debate persiste quanto à autoria do ataque por uma razão simples: membro da OTAN, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, a Polônia investiga se o seu território foi alvejado pelas forças russas. Se foi, poderia lançar mão do já famoso Artigo 5 do estatuto do bloco que prega a defesa coletiva. Ou seja, para efeito prático, os países-membros consideram que um ataque a qualquer de seus integrantes deve ser considerado como um ataque a todos os demais membros de forma conjunta.

No final das contas, embora se trate de uma decisão em bloco, as atenções se voltam ao presidente norte-americano, Joe Biden. Maior potência militar e econômica do mundo, os EUA lideram a OTAN, aliança criada em 1949 e cujo propósito inicial era impedir a expansão soviética no continente europeu no pós-Segunda Guerra Mundial. As razões de existência da organização ainda nos dias atuais também é fator relevante na análise do conflito entre russos e ucranianos, como já escrevi por aqui em textos anteriores.

Por sua vez, os EUA também lidam com problemas domésticos graves neste momento, como a alta de inflação três vezes superior à meta estabelecida pelo Fed, o banco central do país (embora apresente tendência de queda neste momento), a grande disputa política ainda de resultados incertos entre Democratas e Republicanos pelo controle da Câmara e do Senado, e até a possibilidade de ter de lidar com uma nova variante do Coronavírus.

Por tudo isso, mesmo tendo se reunido de forma emergencial com lideranças do G7 e de países da OTAN na Indonésia - onde ocorre o encontro do G20 - Biden evitou reações mais firmes, preferindo seguir o protocolo de enviar condolências ao presidente polonês Andrzej Duda em conversa telefônica e se mostrar favorável a uma investigação a ser realizada pela própria Polônia para descobrir a origem dos ataques.

É provável também que o sinal de alerta da OTAN enviado à Rússia seja o estabelecimento de consultas a partir do Artigo 4 do estatuto. Ou seja, a Polônia reivindicaria consultas urgentes aos demais membros em função de, segundo o estatuto do bloco, um de seus membros considerar que está sob ameaça em "sua integridade territorial, independência política ou segurança". É um passo anterior ao Artigo 5, o da defesa coletiva sobre o qual comentei no início deste texto.

Na prática, é um aviso. Este é um caminho para obter o que costumo chamar aqui de "saída honrosa", uma vez que ampliar o conflito entre Rússia e Ucrânia para uma guerra europeia e até mesmo transatlântica não interessa a nenhum dos atores envolvidos.