Benjamin Netanyahu está de volta ao cargo de primeiro-ministro de Israel apenas 18 meses depois de ser derrotado pela coalizão de governo liderada por Naftali Bennett e Yair Lapid, este último ainda premiê do país. Importante destacar que amb...
Benjamin Netanyahu está de volta ao cargo de primeiro-ministro de Israel apenas 18 meses depois de ser derrotado pela coalizão de governo liderada por Naftali Bennett e Yair Lapid, este último ainda premiê do país. Importante destacar que ambos conseguiram conduzir a coalizão mais diversa da história de Israel formada por partidos de esquerda, centro, direita e também pelo partido árabe Ra'am, de Mansour Abbas, que representa o Movimento Islâmico em Israel. | ||
Os resultados que emergem das urnas são de certa maneira a antítese da coalizão anterior. E há elementos complicadores inclusive a Netanyahu neste quinto processo eleitoral em menos de quatro anos. | ||
A busca por alguma estabilidade política era uma das pautas de todos os atores que disputaram os votos de eleitores pressionados por um cenário econômico instável e em decadência. O apelo à escolha estratégica foi parte da propaganda política em torno do número 61 que marca a maioria mínima no Knesset, o parlamento israelense formado por 120 cadeiras. Netanyahu continua a ser uma liderança importante no país, embora cada vez mais questionado internamente em seu partido, o tradicional Likud. | ||
Anos de estigmatização da esquerda e de discurso de ódio a adversários políticos por vezes chamados abertamente de traidores nacionais podem explicar ao menos em parte a ascensão da extrema direita. Símbolos desta corrente, os parlamentares Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir conseguiram obter uma quantidade de votos suficiente para colocar o partido Sionismo Religioso como a terceira força do Knesset com 15 cadeiras (como este texto foi escrito antes da finalização da contagem dos votos totais, este número pode variar um pouco). | ||
O primeiro-ministro Netanyahu terá de encarar o problema a partir de agora. Aliás, os muitos problemas que virão a partir da nova configuração de governo, em especial em função do longo histórico de Ben-Gvir, um especialista em incitação (em breve publicarei um texto dedicado a este personagem). | ||
De acordo com o portal de Jornalismo Axios, apesar de ainda não ser decisão fechada do governo norte-americano, a tendência é que a Casa Branca não se mostre disponível a qualquer forma de relação com Ben-Gvir. Como aponta o site, caso de fato opte por este caminho, esta seria a primeira ocasião no longo relacionamento entre EUA e Israel que Washington boicotaria um ministro israelense - graças à significativa quantidade de votos obtida, também é provável que Ben-Gvir esteja à frente de algum ministério no novo governo. | ||
Mas aqui retornamos a Netanyahu, o primeiro-ministro. Apesar da resistência que seu nome provoca em parte da comunidade internacional, Bibi, como é popularmente conhecido, não é um isolacionista. Ao contrário. Costuma trafegar com habilidade e conhecimento pelos fóruns internacionais e é reconhecido como um especialista em política externa. Orgulha-se também de seus feitos, como é o caso dos chamados Acordos de Abraão, assinados em 2020, que marcam o estabelecimento de relações diplomáticas plenas entre Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein (posteriormente o Marrocos também aderiu ao tratado). | ||
A tendência é que os países árabes que mantêm relações diplomáticas com os israelenses protestem de forma mais ou menos aberta a partir da inclusão de Ben-Gvir num cargo da primeira prateleira. Na verdade, uma manifestação já teria ocorrido. Segundo o jornal Times of Israel, o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah bin Zayed, já teria enviado no mês passado uma mensagem demonstrado insatisfação ao próprio Netanyahu quanto à presença de Ben-Gvir no governo. | ||
Num cenário global onde Israel já não conta com tantos aliados, as perspectivas ao novo governo Netanyahu são preocupantes. Caso confirmado, o eventual boicote norte-americano a um ministro israelense representaria uma das principais derrotas internacionais de Bibi. Diante disso tudo, a política externa possivelmente será um dos maiores desafios de Israel a partir da formação da nova coalizão. Netanyahu terá de investir bastante para se livrar de uma armadilha que ele mesmo ajudou a criar. |