O cenário pós-eleitoral no Líbano
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O cenário pós-eleitoral no Líbano

É improvável que qualquer mudança real ocorra num período curto de tempo, até porque essas algumas das principais forças do Oriente Médio não vão desistir de exercer influência e pressão sobre o política do país

Henry Galsky06/01/2022
3 min
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É improvável que qualquer mudança real ocorra num período curto de tempo, até porque essas algumas das principais forças do Oriente Médio não vão desistir de exercer influência e pressão sobre o política do país

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A diminuição da presença do Hezbollah no parlamento libanês é também uma oportunidade para a Arábia Saudita, a principal liderança entre as monarquias sunitas do Golfo Pérsico e protagonista no confronto mais amplo do Oriente Médio sobre o qual trato por aqui com frequência: a disputa entre os eixos sunita e xiita.

Como aliado fundamental do Irã (a maior potência xiita), a retração do grupo e o questionamento interno no Líbano (mesmo que de forma mais ou menos tímida e lenta) são boas notícias aos sauditas, que chegaram mesmo a romper relações com os libaneses no ano passado justamente em função das questões regionais.

Em outubro de 2021, o então ministro da Informação do Líbano George Kordahi fez críticas aos esforços de guerra sauditas no Iêmen, onde um conflito entre o movimento Houthi - apoiado pelo Irã - e a Arábia Saudita tem deixado um rastro de consequências humanitárias gravíssimas, como já escrevi em outros textos publicados aqui. Na ocasião, o ministro libanês defendeu a posição dos Houthis.

Mas a hostilidade entre sauditas, o Hezbollah e o Irã não é exatamente nova. Numa configuração distinta do Oriente Médio, a Arábia Saudita perdeu um dos seus principais apoiadores no Líbano quando o ex-primeiro-ministro Rafik al-Hariri foi assassinado num atentado terrorista realizado com um carro-bomba em Beirute, em 2005. Hariri era um aliado saudita contrário à presença síria no país. A ocupação Síria, inclusive, foi encerrada no ano seguinte na esteira do atentado que matou Hariri.

Em junho de 2011, um tribunal da ONU que investigava o assassinato emitiu mandados de prisão a quatro suspeitos que acabaram identificados por oficiais libaneses como associados ao Hezbollah. Em agosto de 2020, um deles, Salim Ayyash, foi condenado por participar do ataque a Hariri. No entanto, a posição oficial do tribunal é de que não foi possível obter qualquer prova do envolvimento da liderança do Hezbollah no caso.

Mas as feridas ficaram abertas. O assassinato de Hariri também acentuou as divisões sectárias no país, inclusive no que diz respeito a suas alianças regionais. Parte da representação política sunita no Líbano encontra respaldo e apoio das monarquias sunitas do Golfo Pérsico; ao mesmo tempo, a grande oposição estratégica entre esses grupos no cenário regional também se faz presente em todas as arenas do Oriente Médio. No Líbano, claro, não é diferente.

Após as eleições, há agora uma realidade distinta no país, uma configuração onde os diversos setores que se opõem ao Hezbollah representam pelo menos um quarto dos parlamentares libaneses. O maior grupo cristão, as Forças Lebanesas (LF), demanda abertamente que o Hezbollah abra mão de seu arsenal militar - que inclusive é superior ao das forças armadas regulares do país.

Para finalizar esta grande análise sobre o cenário libanês, é preciso dizer que há desafios em todos os setores. O Hezbollah é um grupo que é parte do tecido social, econômico e militar do país, mas também é símbolo de impasse. Ao mesmo tempo, o Líbano é um jogador regional muito relevante e, apesar da dança das cadeiras no parlamento, é improvável que qualquer mudança real - seja lá qual for - ocorra num período curto de tempo, até porque essas duas forças opostas (simbolizadas em especial por Arábia Saudita e Irã) não vão desistir de exercer influência e pressão.

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