Sustentado pela extrema direita, Netanyahu está de volta
0
0

Sustentado pela extrema direita, Netanyahu está de volta

Benjamin Netanyahu retorna ao poder. Ele lidera a sua sexta coalizão num total de 15 anos no cargo político mais importante do país com a formação de governo mais à extrema direita de toda a história de Israel. Netanyahu deixou a função ao se...

Henry Galsky01/04/2023
4 min
0
0

Benjamin Netanyahu retorna ao poder. Ele lidera a sua sexta coalizão num total de 15 anos no cargo político mais importante do país com a formação de governo mais à extrema direita de toda a história de Israel. Netanyahu deixou a função ao ser derrotado pela aliança de partidos mais diversa do país liderada por Naftali Bennett em junho de 2021 e nunca desistiu de retornar para um cargo que considera naturalmente seu. Equilibrando um tanto de messianismo e arrogância, parece realmente acreditar que, além de si mesmo, não há ninguém mais adequado para ocupar a posição. Assim, fez o que pôde para derrubar Yair Lapid, que assumiu na sequência de Bennett. Para voltar, assumiu compromissos que possivelmente não assumiria em outros momentos ao longo de sua carreira política, empoderando partidos, pessoas e valores que chocam e ameaçam parte importante da própria sociedade israelense.

Benjamin Netanyahu cumprimenta Itamar Ben Gvir, político radical que agora é parte da coalizão de governo
Benjamin Netanyahu cumprimenta Itamar Ben Gvir, político radical que agora é parte da coalizão de governo

Os líderes dos partidos Otzma Yehudit e Sionismo Religioso personalizam a extrema direita local. Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich ganharam ainda mais relevância durante o curto período de Netanyahu fora do poder. Netanyahu apostou em ambos para retornar. Em troca do apoio, ganharam também posições no governo. Ben Gvir e Smotrich encabeçam os ministérios da Segurança Nacional e das Finanças, respectivamente.

Representam também alguns dos valores mais retrógrados da sociedade. Orit Strock, eleita ao Knesset, o parlamento israelense, na lista do Sionismo Religioso, causou revolta no país ao afirmar que os médicos podem se recusar a conceder atendimento ou tratamento a partir dos princípios de sua fé, desde que haja outro médico interessado no atendimento. Pelo raciocínio dela, um médico religioso judeu, muçulmano ou cristão poderia legalmente recusar-se a atender um paciente homossexual. É uma contradição à democracia israelense, mas não apenas. Contraria anos do discurso oficial do país sempre reforçado durante mandatos de Bibi de que a comunidade homossexual usufrui de direitos em Israel que não existem nos demais países do Oriente Médio - o que é um fato, importante ressaltar.

Esta situação é simbólica porque mostra também o desafio que Netanyahu precisará enfrentar de modo a manter a coesão interna, mesmo diante dos protestos que já começaram no país e, ao mesmo tempo, convencer a comunidade internacional de que será capaz de controlar os membros mais extremistas de seu governo. Esta é a grande questão que se coloca diante do primeiro-ministro e que será provavelmente o foco de seus maiores esforços de dentro para fora de Israel. Tanto que em sua primeira reunião de governo declarou que "essa minoria que tem medo não tem o que temer", referindo-se aos cidadãos LGBTQIA+. Ao mesmo tempo deu a Amir Ohana, membro do Likud, o cargo de porta-voz do Knesset, tornando-o o primeiro homossexual assumido a exercer a função.

Nada disso, no entanto, será suficiente para convencer os EUA que temem, além desta questão, a mudança de status na Cisjordânia, território que deverá compôr a maior parte de um futuro estado palestino. Uma outra bandeira da coalizão de Netanyahu é defender de forma aberta a impossibilidade de haver qualquer estado palestino e, mais ainda, aumentar as construções de assentamentos israelenses no território. A reivindicação da Cisjordânia - chamada de Judeia e Samária por parte dos judeus, em especial pelos que a consideram parte de Israel - é um ponto fundamental e inegociável da agenda política dos partidos de Ben Gvir e Smotrich, por exemplo.

Ao mesmo tempo, Netanyahu tem um problema também a resolver neste aspecto. Se ao longo da maior parte dos 15 anos de mandato ele assumiu postura ambígua em relação a um estado palestino e empurrou o assunto de forma a enfraquecê-lo sem precisar tomar qualquer decisão, em setembro 2020 ele assumiu um compromisso importante a partir da assinatura dos chamados Acordos de Abraão. Mediados pelo então presidente Donald Trump, os tratados normalizaram as relações diplomáticas entre Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein - posteriormente, aderiram também Sudão e Marrocos. Em troca dos acordos históricos, Netanyahu na ocasião se comprometeu a não anexar a Cisjordânia a Israel. A mensagem que envia neste momento contradiz a decisão tomada há apenas dois anos. Por ora, é apenas uma mensagem, não uma decisão prática, importante também ressaltar.

É improvável que Netanyahu abra mão dos acordos de forma a satisfazer Ben Gvir e Smotrich. Possivelmente, irá repetir a mesma estratégia adotada em relação ao processo de negociação com os palestinos; empurrar qualquer decisão e, vez por outra, mandar mensagens ambíguas. E deve usar como justificativa o principal aliado, simultaneamente algoz e salvador, os EUA sob a presidência do Democrata Joe Biden. No próximo texto, abordarei como devem ser as relações entre os governos de EUA e Israel num dos momentos de maior oposição entre esses dois países aliados.

Support
More Options