Agtechs sofrem para captar recursos. Mais: Um panorama da tecnologia no agro; e as veteranas puxam a fila do IPO.
Edição 84 | ||
Agtechs sofrem para captar recursos. | ||
Mais: Um panorama da tecnologia no agro; e as veteranas puxam a fila do IPO. | ||
Agtechs enfrentam dificuldade para acessar capital | ||
Considerando o mercado local e a representatividade do agro na economia brasileira é fácil perceber o tamanho do mercado potencial das soluções de tecnologia para esse mercado. | ||
No entanto, as startups do agro brasileiro enfrentam dificuldades quando o assunto é captar recursos. Acessar capital e ganhar escala, especialmente para os negócios iniciais, costuma ser uma luta árdua. Isso é o que indica o relatório Radar Agtech 2023 – produzido pela Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens. | ||
Cerca de 72% dos empreendedores das 247 startups que participaram do estudo sobre fontes de financiamento afirmam já ter tomado empréstimos com familiares e amigos. Depois, as fontes de financiamento mais frequentes das agtechs são: investidores-anjo (22,1%), aceleradoras (17,4%) e investidores de venture capital (15,4%). | ||
Fabrício Pezente, CEO e fundador da agtech/fintech Traive, afirma que: | ||
“É muito difícil captar no Brasil, principalmente quem está criando tecnologia”. | ||
O cofundador e sócio da Homo Ludens, Luiz Sakuda, declara que muitas vezes o empreendedor precisa de recursos para expandir o negócio através de investimento em marketing e não encontra abertura em bancos tradicionais. Já as alternativas do VC implicam em diluir o controle das empresas. | ||
Tendências em agtechs | ||
O mesmo relatório também destaca as tendências para as agtechs nos próximos meses. Dentre elas, inteligência artificial, IoTs (equipamentos e sensores que enviam e recebem dados), automação, digitalização e machine learning (uso de dados para treinar algoritmos a reconhecer padrões), aumento de conectividade e uso de sensores. | ||
Ainda que as tecnologias de ponta representem o futuro da agropecuária no país, o Brasil ainda conta com alguns limitadores para essa expansão, como a baixa presença de redes de telefonia e a lenta instalação da rede 5G em regiões rurais do Brasil. | ||
Outra dificuldade é o acesso a times de profissionais de desenvolvimento dessas tecnologias. São profissionais disputados por empresas de diferentes portes e segmentos. Aline Oliveira, cofundadora e diretora de IA na Traive, essa barreira impede que várias startups brasileiras ganhem escala. | ||
Brasil já tem quase 2 mil startups do agro | ||
Apesar da dificuldade para levantar capital, o número de startups do agro no Brasil cresceu cerca de 15% em um ano, segundo o mesmo levantamento. São 1953 agtechs em operação, 250 a mais que em 2022. | ||
Outro destaque positivo é que está em curso uma desconcentração de startups do segmento no Sudeste: a região detinha 61,4% das agtechs do Brasil, agora detém 56,9%. São Paulo segue como principal pólo de inovação, com 43,4% das empresas. | ||
Enquanto isso, a região Norte saltou de 1,5% para 5,9% em participação de 2022 para 2023. Também, empresas atuando na Amazônia Legal foram de 36 no ano passado para 100 neste ano. O forte crescimento tem a ver com programas de fomento na região. | ||
Quando se olha para o nível municipal, das 22 cidades brasileiras com 16 ou mais startups do agro, 12 são capitais. A cidade de São Paulo, assim como o estado, lidera em número de agtechs, são 385. | ||
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Dentro, antes ou depois da fazenda? | ||
Para entender melhor a distribuição das agtechs de acordo com o modelo de negócio, há uma categorização das startups do segmento. Dentro da fazenda, aquelas que atendem às necessidades diárias da produção agropecuária; antes da fazenda, aquelas startups que operam primariamente com serviços financeiros para esse público; e depois da fazenda, que lidam com distribuição e logística. | ||
São 815 startups, ou 41,7% das startups atuando 'dentro da fazenda', como plataformas de gestão da propriedade (o maior subgrupo, com 170 empresas), irrigação e sensoriamento remoto. | ||
Outras 331, 17% das startups, atuam em processos 'antes da fazenda', como crédito para aquisição de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas. Neste rol estão as fintechs (85), que oferecem serviços de financiamento, seguro e outros. | ||
Já no segmento 'depois da fazenda', são 807 empresas, que representam 41,3% das agtechs, que atuam com distribuição, logística e aquelas que desenvolvem alimentos inovadores e atuam nas novas tendências alimentares – esse subgrupo totaliza 277 negócios. | ||
O perfil das startups do agro | ||
De acordo com os organizadores da pesquisa, o perfil tecnológico do produtor brasileiro direciona a inovação para cinco categorias: alimentos inovadores/novas tendências alimentares; sistemas de gestão de propriedade rural; plataforma integradora de sistemas/dados; marketplaces e plataformas de venda de produtos agropecuários; e drones, máquinas e equipamentos. Esses cinco nichos representam 40% do todo. | ||
Outra característica destacada é que a maioria das startups (66%) foi criada em 2018 ou após. Ou seja, há um perfil mais jovem desses negócios, como resultado, os dados indicam que 40,4% dessas empresas têm faturamento anual de até R$ 81 mil e somente 9,3% delas supera receita de R$ 3,6 milhões – nenhuma ultrapassa R$ 90 milhões. | ||
Outro avanço foi percebido através de dados levantados em parceria com o Sebrae: do total de agtechs, 36,4% delas têm ao menos uma mulher na estrutura societária – um aumento em relação a 2022, quando apenas 28,7% contavam com presença feminina na sociedade. | ||
As veteranas puxam a fila dos IPOs | ||
Não são mais as novatas as candidatas mais prováveis ao IPO nos EUA nos próximos anos. O mercado de tecnologia começa a indicar uma tendência de volta das aberturas de capital pelas startups. Mas, dessa vez, essa realidade está longe das empresas com poucos anos de vida e que captaram milhões de dólares em poucos anos. As apostas para estreantes são as empresas veteranas. | ||
Essa é uma realidade que vem se materializando com as últimas notícias – o Wall Street Journal, por exemplo, divulgou que a Shein apresentou um pedido confidencial para listar suas ações nos EUA. A empresa existe desde 2008. | ||
O Reddit, uma rede social, é outro provável estreante, assim como a Klarna, de meios de pagamento, o Stub Hub e a SeatGeek, de vendas de ingressos, a Ibotta, uma fintech de cashback e a ServiceTitan, de construção civil. Todos esses negócios são ainda mais antigos que a Shein. | ||
De fato, os IPOs estão mais maduros. Em um estudo realizado pela Universidade da Flórida, foi identificado que as startups que abriram capital entre 2001 e 2022 levaram 11 anos desde a fundação para realizar o movimento. Entre 1999 e 2000, na época da "bolha das pontocom", a média era de cinco anos para chegar ao IPO. | ||
Karen Snow, chefe global de listagens da Nasdaq, afirma que essas empresas tiveram mais tempo para construir um histórico e, também, organizar as finanças. | ||
Para os investidores enquanto empresas privadas, essa será uma chance de fazer o cash out e rentabilizar com os investimentos. Esse é o caso de Andreesen Horowitz e Sequoia, que investiram no Reddit. | ||
Claro, as expectativas de rentabilidade dos IPOs são diferentes daquelas de anos anteriores. O Reddit, por exemplo, esperava que a companhia abrisse capital valendo US$ 15 bilhões. Com base nos múltiplos de receita recentes, no entanto, a expectativa é que o valuation no IPO seja de US$ 5 bilhões. | ||
A Shein foi avaliada em US$ 66 bilhões na última rodada divulgada. Agora, segundo a Bloomberg, o valor previsto gira em torno de US$ 90 bilhões. No entanto, o escrutínio da empresa nos EUA e o declínio na receita no último ano podem atrapalhar os planos. | ||
As exceções | ||
Não são só as veteranas que encaminham IPOs para o próximo ano. As novatas, Skims, de peças íntimas, fundada por Kim Kardashian em 2019 e a Liquid Death, de água em lata, criada em 2017, também são candidatas. | ||
E no Brasil? | ||
No fim de agosto, Alex Szapiro, managing partner do Softbank para a América Latina, declarou ao NeoFeed que a janela de IPOs para empresas de tecnologia no Brasil só deve abrir a partir do segundo semestre de 2024. | ||
Ainda que haja a previsão de IPOs para o ano que vem, não há consenso sobre as favoritas ao movimento. Em 2022, o Pitchbook chegou a mencionar Facily e Loft como candidatas – porém, com o declínio no valor de mercado desses negócios, o movimento parece improvável para o futuro próximo. | ||
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