🟣 O cenário ideal

Edição 111

O sonho dourado dos investidores de VC.

Mais: Megadeals de volta aos EUA e a curiosa sede da OpenAI.

O cenário ideal que todo investidor de VC espera

Nos últimos anos, os mercados de venture capital e startups experimentaram um crescimento meteórico, com avaliações disparadas, investidores competindo pela velocidade em vez da diligência, fundadores focados exclusivamente em levantar a próxima rodada de financiamento, e uma fonte quase ilimitada de capital para perseguir o crescimento a qualquer custo. 

Esses dias terminaram abruptamente com uma série de golpes significativos no ecossistema, incluindo o colapso do Silicon Valley Bank, guerras globais e taxas de juros crescentes.

O "novo" novo normal

Agora, a indústria se estabilizou em um novo normal saudável, onde as avaliações retornaram a níveis razoáveis, apenas as startups de mais alta qualidade conseguem atrair capital significativo, a diligência voltou à moda enquanto os investidores desaceleraram, e a eficiência de capital voltou a ser o foco principal para as startups.

Mas a maré está para mudar: os mercados globais têm se mantido, os IPOs estão descongelando, o mercado de criptomoedas se recuperou e a IA está em alta — todos sinais de renovado interesse dos investidores. 

À medida que o pessimismo começa a diminuir, todos nos perguntamos: qual é o cenário ideal que investidores e fundadores esperam?

Sentimento dos investidores

“O ecossistema precisa de liquidez. Os IPOs precisam começar a acontecer novamente, as taxas de juros devem cair ou os mercados públicos precisam crescer. Qualquer uma dessas coisas, ou idealmente todas, precisam começar a acontecer para que o ecossistema de venture capital se recupere”, disse Courtney McCrea, da Recast Capital. “O venture capital é um jogo de longo prazo, então será necessária alguma paciência.”

O consenso geral é que, antes de tudo, os IPOs precisam começar a acontecer novamente, e sinais recentes do Reddit e da Astera Labs indicam que isso pode estar próximo.

Os eventos de liquidez trazidos pelos IPOs são a força vital do capital de risco, e uma vez que os investidores de venture em todos os estágios começarem a receber capital de volta, eles podem devolver capital aos LPs, criar novos fundos e fazer novos investimentos em todo o ecossistema de startups.

À medida que esse ciclo fundamental continua a mostrar mais força, o impulso do ecossistema aumenta e outro ciclo começa.

“Os gestores de fundos estão vendo alguns sinais de vida esperados há muito tempo no mercado, apesar das diversas adversidades. As startups estão se tornando mais eficientes e lucrativas, enquanto uma grande quantidade de exuberância foi removida do mercado. Há um senso palpável de otimismo emergindo de que o cenário ideal pode realmente acontecer”.

A peça que está faltando

Inevitavelmente, a peça mais crucial desse quebra-cabeça é a taxa de juros e o clima macroeconômico. 

Se os mercados globais conseguirem evitar uma recessão e as taxas de juros forem geridas de forma a promover o crescimento sob controles monetários mais rígidos, então o capital institucional voltará a fluir em direção ao crescimento.

Em um mundo onde os IPOs estão constantemente acontecendo e os gestores de fundos estão mostrando um desempenho forte, os ecossistemas de venture capital e startups estarão no cenário ideal.

O melhor momento para investir: agora!

É um momento particularmente interessante para investir; as balanças parecem equilibradas e até ligeiramente otimistas.

Este é um momento ideal para investir, pois podemos estar testemunhando o início de um novo mercado em alta. No entanto, os riscos persistem com a continuidade da turbulência global.

O conflito na Ucrânia permanece prolongado e novos conflitos surgiram em Israel. As taxas de juros estão se estabilizando, mas permanecem elevadas em relação ao ciclo anterior.

Mas os mercados globais têm mostrado resiliência e uma recuperação definitiva — combinada com alguns IPOs bem-sucedidos — poderia fornecer confiança direcional para os investidores nos próximos meses.

Rodadas de mais de US$ 100 milhões voltam a ocorrer nos EUA

Cada vez mais startups parecem estar conseguindo com mais facilidade assegurar grandes rodadas de financiamento — que pareciam secar no ano passado — dos investidores.

Rodadas de $100 milhões ou mais — ou megadeals — explodiram este ano, com startups baseadas nos EUA arrecadando 115 dessas rodadas até meados de maio, de acordo com o The Crunchbase Megadeals Board. 

Isso representa um aumento de 58% em comparação com as 73 megadeals arrecadadas no mesmo período do ano passado.

Setores variados

Uma das coisas que se destacam sobre as startups que arrecadaram rodadas de $100 milhões ou mais este ano é a variedade de setores de onde elas emergiram.

De jogos (Epic Games) a entrega de alimentos (Wonder) e computação quântica (PsiQuantum), os investidores continuam distribuindo grandes cheques em diferentes áreas.

Embora muitos possam pensar que essa lista é dominada pela IA, não é. Na verdade, apenas 11 startups nos EUA com uma classificação principal de IA arrecadaram essas rodadas este ano — com a startup de infraestrutura de nuvem de IA CoreWeave se destacando, após garantir uma rodada de $1,1 bilhão liderada pela Coatue no início deste mês.

Biotecnologia e saúde em destaque

Na verdade, são as startups de biotecnologia e saúde que estão dominando as megadeals, com essas startups arrecadando impressionantes 38 rodadas até agora este ano.

Isso inclui a maior rodada de abril: a Xaira Therapeutics saiu do modo stealth e anunciou que garantiu mais de $1 bilhão de capital comprometido dos principais investidores Arch Venture Partners e Foresite Capital — ambos incubaram conjuntamente a empresa. 

A Xaira é a mais recente — embora provavelmente a mais bem financiada — startup a tentar usar modelos de IA para encontrar novos medicamentos.

Cibersegurança também em alta

A cibersegurança também teve sua parcela de grandes rodadas de $100 milhões ou mais este ano, com 10 dessas arrecadações indo para startups do setor. 

A maior foi a startup de segurança em nuvem Wiz, que recentemente arrecadou $1 bilhão com uma avaliação de $12 bilhões — a maior rodada de cibersegurança do ano globalmente até agora.

Acelerando o ritmo

Como pode ser visto pelas rodadas mencionadas acima — todas ocorrendo no último mês — o ritmo de tais grandes negócios aparentemente ganhou velocidade à medida que o ano avançou.

Embora janeiro tenha sido lento, fevereiro viu o início do aumento das rodadas de $100 milhões ou mais.

Os números parecem fora do lugar no atual mercado de venture capital, mas podem ser explicados.

A explicação: reorganização

Como os números gerais de venture capital permaneceram estáveis, até mesmo diminuindo ligeiramente, os investidores claramente estão tirando dinheiro de possíveis outros negócios de crescimento em estágio avançado, e talvez até de alguns negócios em estágio inicial. 

Não seria possível tirar dinheiro suficiente de negócios em estágio inicial para causar um impacto significativo quando se trata de rodadas de nove dígitos.

No entanto, o influxo de megadeals este ano parece mostrar que os investidores estão novamente dispostos a investir alto em empresas nas quais veem um potencial significativo.

Até o final do ano passado, os investidores participaram de 210 rodadas de $100 milhões ou mais. Parece que os VCs e investidores estratégicos estão bem prontos para superar esse número este ano.

A curiosa biblioteca na sede da OpenAI

Uma biblioteca foi construída dentro do escritório da OpenAI em São Francisco a pedido do executivo-chefe Sam Altman. 

O espaço é abastecido com títulos sugeridos por sua equipe e é uma metáfora adequada para a empresa de tecnologia mais quente do mundo, cujo sucesso foi impulsionado pelo extenso treinamento com tipos variados de conteúdo – incluindo livros.

A biblioteca de dois andares, decorada com tapetes orientais, abajures espalhados pelas mesas e fileiras de livros de capa dura nas paredes, é o coração arquitetônico dos escritórios da OpenAI.

A startup, conhecida por seu chatbot ChatGPT, mostrou ao mundo que máquinas podem criar instantaneamente poesia e prosa.

O prédio, que antes era uma fábrica de maionese, hoje se assemelha a um típico escritório de tecnologia, com espaços de trabalho compartilhados, micro cozinhas bem abastecidas e salas de descanso distribuídas por três andares no Mission District de São Francisco. 

No entanto, a biblioteca se destaca com seu ambiente que lembra uma sala de leitura da Era Vitoriana. 

A importância da biblioteca

Altman pediu a construção da biblioteca e escolheu os títulos junto com sua equipe, tornando-a uma metáfora apropriada para a OpenAI.

O sucesso da empresa foi impulsionado pela linguagem, com o ChatGPT aprendendo suas habilidades ao analisar grandes quantidades de textos escritos, incluindo enciclopédias, notícias, poesia e livros.

A biblioteca representa o paradoxo central da tecnologia da OpenAI. Autores e editores, incluindo o The New York Times, estão processando a empresa por uso ilegal de conteúdo protegido por direitos autorais. Muitos temem que a tecnologia possa afetar suas fontes de renda. 

Por outro lado, colaboradores da OpenAI acreditam que a empresa está usando a criatividade humana para alimentar mais criatividade. Eles argumentam que seu uso de obras protegidas por direitos autorais é "uso justo" perante a lei, pois estão transformando essas obras em algo novo.

Além de metafórica, a biblioteca tem função

A biblioteca não é apenas decorativa. Em uma tarde recente, dois livros de bolso estavam lado a lado, à altura dos olhos: “Birds of Lake Merritt” (um guia de campo das aves encontradas em um refúgio de vida silvestre em Oakland, Califórnia) e “Fake Birds of Lake Merritt” (uma paródia escrita pelo GPT-3, uma versão inicial da tecnologia que impulsiona o ChatGPT).

Alguns colaboradores usam a biblioteca como um local tranquilo para trabalhar. Long Ouyang, um pesquisador de IA, mantém uma mesa com rodinhas encostada na parede. Outros a veem como uma sala de descanso elegante.

Inspiração e futuro

Para alguns, a biblioteca é um lugar inspirador para trabalhar. Greene começou a inserir listas de seus livros favoritos no ChatGPT e pedir novas recomendações. 

O chatbot sugeriu “O livro do desassossego”, de Fernando Pessoa, que um amigo também havia recomendado. “Dadas as tendências e padrões de coisas que aconteceram no passado, a tecnologia pode sugerir coisas para o futuro”, disse Greene.

Gaffney acredita que essa mistura entre humano e máquina continuará. Ela concluiu: “Isso, pelo menos, é o que espero e sinto”.

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