O tradicional time de Bragança Paulista passava por momentos ruins. Em 2019, correu risco de ser
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O tradicional time de Bragança Paulista passava por momentos ruins. Em 2019, correu risco de ser rebaixado no campeonato paulista e caminhava a passos largos para ser esquecido na mente dos torcedores brasileiros. Em ocasiões normais, apenas os mais saudosistas soltariam frases do tipo: "Lembra do Bragantino? Era um clube simpático". Até que boom!O impossível aconteceu. Imerso no contexto de clubes geridos como empresas, o time anunciou, em abril do ano em que quase foi para a vala, a fusão com o Red Bull Brasil. Naquele momento, no interior do estado de São Paulo, surgia o principal representante brasileiro dos Reis do Camarote - nesse texto aqui, eu explico quem eles são - . Surgia uma proposta bem diferente de tudo que havia sido planejado no país desde então. | ||
Tudo seria novo: o escudo, o uniforme, o centro de treinamento, os jogadores e, principalmente, o modelo de gestão. De forma análoga, e ainda distante, cita-se o Grupo City, dono de times ao redor do mundo todo, como um conglomerado empresarial que faz negócios semelhantes aos da marca Red Bull. Na época de lançamento, vieram à tona muitas impressões difusas, como ocorre com tudo que é novo. Uma ala da torcida, digamos que a mais "raiz", se opôs às mudanças, sob o pretexto de que o clube abandonaria as próprias origens. Em geral, ninguém sabia como o projeto seria entendido pelos jogadores e se a famosa identificação, por parte de todos que circundam a instituição, seria afetada. Após duas temporadas, o saldo é positivo e cada vez mais surpreendente, pelo menos para mim, que assisto tudo apenas como um admirador do futebol, não um apaixonado pelo Massa Bruta. | ||
A partir do instante em que o time passou a fazer parte de uma marca, o escudo foi padronizado, de forma semelhante às outras equipes "Red Bull", surgiu uma terceira camisa vermelha, o nome, obviamente, foi alterado, um novo CT foi alugado em Bragança Paulista, um projeto de estádio foi apresentado para substituir o saudoso Nabi Abi Chedid e, o mais importante de tudo, pingaram 100 milhões, por pix, na conta bancária, destinados apenas ao investimento no elenco. Eu diria que 80% daquele Braga foi embora. Nasceu algo novo, que, apesar dos pesares e dos pormenores, é muito interessante. Naquilo que importa, ou seja, no campo, os resultados são perceptíveis. Em 2019, campeão, com folga, da serie B. Em 2020, foi o melhor time da fase de grupos do Paulista e campeão da Taça do Interior. Para quem estava na terceira divisão nacional por longas temporadas, é um avanço e tanto. | ||
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O principal do trabalho, no entanto, é o estilo de jogo. O irmão já citado Grupo City, por exemplo, contratou Pep Guardiola para o time que é seu principal representante, com o objetivo de torná-lo um "case" de futebol bonito para o mundo todo e, assim, associar a imagem do grupo a um jogo envolvente, que proporciona entretenimento aos fãs do esporte. Em Bragança Paulista, o caminho do comando técnico foi traçado por Marcelo Veiga, Felipe Conceição e Maurício Barbieri. Do primeiro para o segundo, os ventos mudaram bastante. O Marcelo era caracterizado pela reatividade, pelos contra ataques, pela exploração de espaços. O Felipe buscou instituir o jogo com a posse, com mais trocas e proatividade de ações. E, como é super comum nesse esporte, vieram o desgaste e a queda de rendimento já no início do campeonato brasileiro de 2020. Agora sim, chegamos à cereja do bolo. O técnico mais promissor do futebol nacional chegou e alavancou de vez a equipe. Instituiu o outro patamar. Barbieri, que anos antes havia feito um trabalho muito bom no Flamengo, montou um time excelente. O ótimo analista Téo Benjamin, por meio do Twitter, disse que não entendia por que muitas pessoas tratavam o RB Bragantino como "arrumadinho", afinal o time é muito bom. Algo simples, mas que diz muito sobre o papel desse atual trabalho, que ultrapassa o campo de grama com quatro linhas. | ||
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Todo ano, algum time menor desponta na liderança. E, com certeza, é algum cavalo paraguaio. Essa temporada foi o RB Bragantino. Entretanto, na contramão das certezas, esse não é um caso de que "subiu ninguém sabe como e vai descer logo logo". O time chegou para ficar. Aí mora a principal contribuição do projeto. A mobilidade social no futebol brasileiro. Uma equipe que veio pra ficar e provar que é possível se libertar dos vícios que rondam os clubes menores desde sempre por aqui. Com uma dose considerável de notas, claro. O principal componente dessa extensa série é: contra times grandes, ou mais investidos, é necessário jogar de forma reativa, ou até mesmo na retranca, quase tendo aversão à bola. Em contraposição a isso, o Massa Bruta contratou jogadores que estavam encostados, como Artur, vindo do Palmeiras, Claudinho, pouco aproveitado no Corinthians, e Raul, criticado no Vasco, além de prospectar alguns que estavam esquecidos no cenário nacional, como Léo Ortiz e Aderlan. Atualmente, a equipe é segunda colocada no brasileirão, apresenta uma proposta de jogo propositiva, é dono da melhor pressão alta do país e não se intimida em nenhum cenário. As vitórias sobre o São Paulo no Morumbi e sobre o Flamengo no Maracanã não me deixam mentir. | ||
Completamente inovador, com certeza. Agora, resta saber se a instituição será meramente uma exportadora para outras equipes da marca e para grandes da Europa ou "incomodará" de forma permanente. Com o novo horizonte da construção de uma arena para 20 mil pessoas nos próximos dois anos, aposto que não tem ninguém de brincadeira. Inserido na lógica do nosso país, o clube será obrigado a negociar jovens para alimentar os países desenvolvidos (rs) e manter as próprias contas, mas não se resumirá a tais ações. A partir daí, estará apto a reinvestir no próprio elenco e figurar na alta competitividade, lutando contra Flamengo, Atlético MG, Palmeiras e São Paulo. Em três anos, já estará visitando a libertadores sem fazer muito esforço, chegando às fases finais da Copa do Brasil e se apresentando muito bem no caldeirão que está por vir. Projeção de médio prazo. Não tão imediato, nem tão no fim do século. É mais um na brincadeira. Seja muito bem vindo, RB Bragantino! | ||
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