Leonin, o Mestre
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Leonin, o Mestre

Entre os séculos II e III, a manutenção do exército e do vasto território do Império Romano acarretou uma grave crise econômica que afetou a estabilidade de seus governantes, vindo a desagregar e pôr um fim a glória romana. Mas esta crise só ...

Gesiel
4 min
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Entre os séculos II e III, a manutenção do exército e do vasto território do Império Romano acarretou uma grave crise econômica que afetou a estabilidade de seus governantes, vindo a desagregar e pôr um fim a glória romana. Mas esta crise só piorou a situação da Europa, sendo um dos fatores do que posteriormente ajudou a denominar o período de a “Idade das Trevas”.

Após a passagem demorada desta triste situação e com a recuperação e estabilização da economia, a partir do Século XII muito se investiu nas artes, e principalmente na arquitetura, como uma maneira de formar uma identidade cultural própria.

Em Paris, um ambicioso projeto arquitetônico começou a ser erguido em 1160, a Catedral de Notre Dame, e embora só tenha sido totalmente concluída em 1250, já a partir de 1185 missas começaram a ser realizadas neste ambiente. E como a igreja não queria passar a ideia de uma instituição retrógrada, um grupo de compositores foi convocado a trabalhar um estilo musical totalmente voltado a esta nova construção eclesiástica.

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A este grupo deu-se futuramente o nome de “Escola de Notre Dame”, e com estes compositores começou-se a tecer os panos da harmonia na música ocidental. Mas houve um a quem se atribui boa parte destas inovações, um a quem chamaram “Leonin, o Mestre”.

Não há muitos registros sobre a produção musical ou até mesmo sobre compositores do período medieval, mas um estudante de Música do século XIII, conhecido apenas como “Anonimous IV”, por volta de 1270 deixou anotações sobre suas aulas de música onde há relatos de um tal Leonin, a quem chama de Mestre, e a quem atribui a fama de excelente organista, provavelmente advindo do fato, não de criar, mas de trazer à perfeição, o estilo conhecido como “Organum”.

Este estilo é algo simples, mas à época foi uma verdadeira revolução musical, pois foi acrescentado uma voz melismática ao cantochão, com quartas e quintas formando um agradável som harmônico. Vale lembrar que isto não foi inventado por Leonin, mas este, juntamente com seu pupilo, Perotin, contribuíram para a formação de um estilo musical próprio que veio a ser responsável pelo surgimento da harmonia como a conhecemos.

“Organum” de Leonin consistia em seis modos rítmicos específicos:  

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De acordo com este sistema de modos rítmicos, Leonin compôs seus Organi, plural de Organum, basicamente em duas seções: uma conhecida como “Descant”, e outra chamada “Clausulae”.

No Descant uma nota do Tenor era contraposta a cerca de quarenta notas do organum, nome homônimo dado a segunda voz. No Clausulae este contraponto era na proporção de três por um. Nos dois casos era sempre utilizado os modos rítmicos criados por ele. Seu aluno usou os mesmos modos para acrescentar mais duas vozes ao Organum.

A Leonin também são atribuídas muitas peças literárias, mas a publicação do seu trabalho musical resume-se a um tratado do estilo Organum conhecido como “Magnus Liber Organi”, Grande Livro de Organum, basicamente dividido em quatro partes: W1 (Wölfenbuttel 677), W2 (Wölfenbuttel 1099), Codex Florenz e Codex Madrid.

Como Perotin modificou alguns Organi e acrescentou obras suas ao Magnus Liber, fica difícil dizer com exatidão quais peças são de Leonin, quais peças são de Perotin, porém, acredita-se que o W1, pelo estilo mais simples da composição, seja do mestre, e o Codex Madrid seja do aluno pelo fato de ser uma típica condensação do Maguns Liber.

A importância desta obra reside no fato de ser o primeiro trabalho a conter cenários musicais para o serviço eclesiástico de todo um ano litúrgico, incluindo os dias de festa, os dias santos, e respostas polifônicas a duas vozes para cada leitura das escrituras. Foi utilizado pelo coro da catedral antes mesmo da conclusão da construção, e publicado por volta de 1170. 

Especula-se que Leonin tenha morrido no início do século XIII, provavelmente 1201 em Paris, mas a sua obra seguiu viva influenciando novos compositores a combinar sons, criar novas técnicas e a entender como o contraponto se iniciou e se desenvolveu.

Sobre a vida e obra de seu aluno, Perotin, veja a matéria "Perotin, o Grande", e se demonstra interesse em personagens da história da música, não deixe de visitar o canal "No Tempo da Música" e assistir a série "Quem é Quem".  

Um bom complemento para este assunto são as matérias:

"Bach e os Concertos de Brandenburgo"

"O Cantochão e o Canto Gregoriano na Liturgia Católica"


"O Surgimento e os Primeiros Desenvolvimentos da Polifonia"






REFERÊNCIAS:


https://www.britannica.com/biography


https://www.allmusic.com/artisthttp://biography.yourdictionary.com


http://www.stevenestrella.com/composers/composerfiles


https://spinditty.com/industry