Breves princípios sobre liderança de produto
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Breves princípios sobre liderança de produto

Assim como quando começamos o Papo de Produto, que havia poucos conteúdos brasileiros sobre produto no geral, vejo que esse é o mesmo momento para o tópico de liderança. Portanto, resolvi compartilhar o meu primeiro conteúdo sobre o tema, acho que de

Gabriel Breves
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Já preciso iniciar pedindo desculpas pela péssima piada com o meu sobrenome, é que eu to acostumado a ouvir toda semana uma piada assim. Mas garanto, os princípios são realmente breves - e espero que sejam úteis para você.

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Tenho muito a aprender ainda sobre liderança de produto, e também sobre a disciplina de gestão de produto, mas genuinamente continuo acreditando no ditado "Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar". Aliás, esse texto é só uma continuidade ao que eu, Vinicius Maia e Vitor Ferreira começamos quando criamos o Papo de Produto: uma vontade incansável de ajudar outras pessoas a terem uma fonte de inspiração e acesso a compartilhamento de ideias sobre o dia a dia de produto.

Sobre princípios

De acordo com o dicionário, os princípios são regras ou preceitos morais, e que dificilmente são negados por quem o detém. Desde criança sempre ouvi que deveria ter bons princípios e que ele estava completamente relacionado ao caráter que eu iria construir para a minha pessoa.

Em 2019, quando li "Princípios" de Ray Dalio entendi que além dos princípios éticos eu poderia ter princípios que conciliassem a vida e o trabalho. No livro, um dos investidores mais bem sucedidos da história descreve uma série de princípios que desenvolveu ao longo da vida e como criou um processo que descreve bem sua tese sobre sucesso. Definindo princípios como: “verdades fundamentais que servem como base para um comportamento que proverá aquilo que você deseja da vida”.

<i>Ray Dalio: “Todo dia cada um de nós enfrenta uma tempestade de situações que exigem uma reação. Sem princípios, seríamos forçados a reagir a tudo que a que a vida joga sobre nós, individualmente, como se estivéssemos vivenciando tudo pela primeira vez. Porém, se classificarmos essas situações em categorias e se tivermos bons princípios para lidar com elas, como resultado vamos tomar decisões melhores mais rapidamente e levar vidas melhores. Ter um bom conjunto de princípios é como ter uma boa coleção de receitas para o sucesso. Todas as pessoas bem sucedidas agem de acordo com princípios que as ajudam a ter êxito, embora seus princípios variem enormemente, conforme a área em que escolheram estabelecer conquistas.”</i>
Ray Dalio: “Todo dia cada um de nós enfrenta uma tempestade de situações que exigem uma reação. Sem princípios, seríamos forçados a reagir a tudo que a que a vida joga sobre nós, individualmente, como se estivéssemos vivenciando tudo pela primeira vez. Porém, se classificarmos essas situações em categorias e se tivermos bons princípios para lidar com elas, como resultado vamos tomar decisões melhores mais rapidamente e levar vidas melhores. Ter um bom conjunto de princípios é como ter uma boa coleção de receitas para o sucesso. Todas as pessoas bem sucedidas agem de acordo com princípios que as ajudam a ter êxito, embora seus princípios variem enormemente, conforme a área em que escolheram estabelecer conquistas.”

Criando consciência

O livro foi extremamente importante para a minha vida (e eu conto sobre isso aqui), pois estava em um momento onde precisava conciliar a minha vida pessoal com o meu trabalho, visto que estava metendo os pés pelas mãos em ambos os setores. Desde então, desenvolvi meus princípios como Product Manager - determinantes para que eu evoluísse na carreira de gestão de produtos e conseguisse obter bons resultados junto as pessoas que estavam comigo nos squads e times que passei; tanto em consultoria, como no Pally; na Stone, PicPay e agora na TC.

Em 2021, em uma das eventuais idas ao escritório do PicPay em São Paulo, quando conversava com um amigo PM de outra estrutura fui questionado "O que você está fazendo para ser um bom líder?". Lembro que respondi  “Cara, eu simplesmente peguei tudo que meus líderes faziam de bom e tentei replicar do meu jeito, mas o mais importante foi evitar as coisas que eu via e não curtia - que eu pensava que podia ser diferente”.

Com certeza a resposta ficou bem vaga, afinal, não descrevi - fui subjetivo. Por isso, resolvi escrever esse artigo, aproveitando um conjunto de princípios que eu busco praticar no dia a dia como líder de pessoas gestoras de produto, e que talvez possa ajudar lideranças que estão começando nessa jornada.

Os meus 5 princípios de liderança em gestão de produto

Toda vez que falo sobre produto reforço sempre que a disciplina é um eterno: depende.

Como assim depende? O que funciona pra mim pode não funcionar para a fulana, ou pode funcionar muito bem para a ciclana, tudo depende: do contexto, do produto, da empresa, da cultura, das necessidades e assim por diante.   

Por isso, eu gostaria de destacar que nada disso é uma verdade incontestável e que nenhum desses princípios fazem parte de uma receita de bolo. São princípios que hoje funcionam para mim e para o time que trabalhou/trabalha comigo. Amanhã podem ser que não funcione, ou simplesmente você - leitor - me questione e eu veja que alguns deles (ou todos) não fazem sentido. Talvez um dia, esses mesmos princípios podem se tornar um total de 6, 10, 15 ou até mesmo diminuir a quantidade.

1. Comunicação

Parece óbvio, mas até o óbvio precisa ser dito. Comunicação é uma habilidade primordial na vida de uma pessoa gestora de produto, quem dirá quando você está em uma posição de liderança fazendo a gestão de pessoas gestoras de produto. Sendo assim, prezar por uma comunicação assertiva, saudável e não agressiva é um princípio que não abandono. É muito comum você ouvir em empresas que existe um gap na comunicação, que as pessoas não se falam, que as estruturas não se comunicam, que o entendimento da mensagem foi outro, e assim por diante. 

E esses problemas vão continuar acontecendo, por mais que também seja um princípio no seu modo de trabalhar e por mais que você preze, a comunicação vai ser um fator dentro do seu time que deverá ser constantemente iterado e aprimorado.

Uma das coisas que fiz no passado junto com a Engineering Manager, e o Design Lead que trabalhavam comigo foi criar uma cerimônia chamada Papo de Tribo. Era um evento que rolava mensalmente, onde as lideranças e squads comunicavam sobre os principais desafios dos 30 dias que haviam passado, do que estava por vir no mês em seguida, e até de e-NPS tratávamos. Foi legal por que conseguimos deixar todos alinhados (membros das squads, stakeholders de outras áreas e diretoria) em comunicações únicas. 

2. Transparência

Esse foi um princípio que trouxe da minha vida pessoal para o trabalho. Prezo para que as relações sejam como uma água por que fica sempre visível o alinhamento de expectativas, pois quando há esse alinhamento a chance de se gerar frustrações nas relações são bem menores, por mais que sempre existam chances... E no fim do dia, como uma pessoa de produto não é isso que queremos? Reduzir incertezas, frustrações e riscos? 

Quantas expectativas ou frustrações em nossas vidas profissionais poderíamos ter evitado se tivéssemos uma pessoa transparente nos guiando? Se tivessem falado que nossa promoção tão esperada não ia rolar? Se tivessem alinhado muito bem o que era esperado e não apenas deixado o alinhamento de forma subjetiva? Portanto, hoje eu prezo por ser muito transparente com o time que eu trabalho: comunicando as minhas fraquezas, deixando bem claro as minhas expectativas, absorvendo ao máximo as expectativas das pessoas que trabalham comigo e abrindo sempre um caminho em que as pessoas se sintam a vontade para trocar ideias, desabafos e feedbacks sinceros.

É importante você saber que a transparência é construída na confiança, e a confiança é sempre uma via de mão dupla, para você receber, você precisa dar. Se você não conseguir ser transparente, não é justo esperar o mesmo das pessoas que estão sendo lideradas por ti. Sempre começo uma relação com uma pessoa PM com 100% de confiança e as vezes essa porcentagem até aumenta :)

3. Feijão com arroz (bem feitinho)

Os americanos gostam de usar a expressão "back to basics", que podemos transportar para o nosso dia a dia como o velho ditado “feijão com arroz bem feito”. E vamos concordar, nada supera um feijão com arroz bem feito. Mas se tratando de praticar esse ditado, na minha opinião, tenho observado que pouco dele é feito no dia a dia de produto. 

Em 2020, entrevistei e mentorei mais de 40 pessoas no cargo de Product Manager e o que mais pude observar foi um amplo conhecimento teórico sobre frameworks e metodologias, mas uma carência extremamente relevante em prática de produto. Pessoas muito embasadas em como fazer, mas poucas pessoas focadas em por que fazer ou em como eu fiz/faria. 

É normal que estejamos hoje nesse cenário em gestão de produto no Brasil, afinal, tem muito conteúdo foda no mercado. Ainda mais se você ler Inspired, ou consumir qualquer conteúdo da Teresa Torres, Shreyas Doshi, Melissa Perri, entre outros profissionais referências que trabalham em um mercado diferente do nosso. Sim, diferente do nosso, com mais maturidade de mercado, com mais maturidade sobre PLG, e com mais estrutura. 

Mas ok, qual é o feijão com arroz ao que estou me referindo?

A pessoa de produto precisa primeiramente entender o contexto em que está trabalhando:

- Qual o objetivo da minha empresa?

- Qual o tipo de produto que estou trabalhando?

- Quais as limitações que eu tenho hoje junto a squad em que eu trabalho?

- Quais são as dores dos usuários que são impactados pelos meus produtos?

- Por que a minha squad existe?

- Dado todo esse cenário de entendimento, o que eu e o squad que trabalho podemos fazer para interagirmos com os usuários, testarmos e aumentarmos resultados da empresa? 

Também acho extremamente importante que a pessoa de produto entenda que "tudo é custo".  Sabe aquele conjunto de reuniões improdutivas, as 1001 dinâmicas que foram feitas, o discovery do discovery, as horas gastas tentando implementar um processo que não vai funcionar no seu contexto? Muitas vezes isso tudo tem um custo maior do que você lançar algo rápido, falhar e corrigir. 

Você, PM, quantas vezes já parou para pensar em quanto custa por mês a squad em que você atua? O que vocês estão construindo realmente tem ROI? Essa funcionalidade, essa interação realmente vai ajudar a chegar mais perto do objetivo da empresa? Esses tipos de questionamentos são válidos não só para quando a pessoa gestora de produto quer validar suas hipóteses, mas até para quando ela recebe um top down sem pé nem cabeça e não sabe como contra-argumentar em uma discussão com seus próprios superiores e stakeholders.

"Tira casaco, bota casaco" - o foco no "feijão com arroz" que funcionou e que ajudou o Dre vencer a luta em Karate Kid
"Tira casaco, bota casaco" - o foco no "feijão com arroz" que funcionou e que ajudou o Dre vencer a luta em Karate Kid

4. Ninguém é melhor do que todos nós juntos 

O que vou comentar agora - na maioria das vezes - é apenas uma questão de alocação de palavras em uma frase, mas você já viu alguma pessoa PM apresentar resultados ou entregas da squad em que ela atua e chamá-lo de "meu time"? Pois bem, o time não é dela, ela faz parte do time. Pra mim, é mega importante que a pessoa PM tenha a consciência disso e passe o discernimento para o restante da empresa que a pessoa gestora de produto não faz absolutamente nada se estiver sozinha.  Convenhamos, a pessoa PM vai codar? Vai utilizar as melhores práticas de UI e de UX na hora de desenhar um fluxo? Vai segurar a bucha em uma war-room quando o produto simplesmente cair? 

Pode ser que você até responda alguma dessas últimas perguntas com sim, mas não fazem parte do papel (PM). Conhecer sobre, questionar ou opinar sobre essas tarefas é diferente de exerce-las ou possuir responsabilidades sobre elas. Elas são para quem detém essa cadeira e esse papel.

É muito comum ver em empresas e startups a figura da pessoa PM como um(a) herói/heroína, como se ela fosse a detentora dos sucessos e dos fracassos, dos prazos e das entregas. E não, ela não é. Por mais redundante que seja: a pessoa gestora de produto não faz absolutamente nada se estiver sozinha - E as empresas precisam reforçar isso, afinal, se for esperado isso da pessoa PM, para que se paga salários a desenvolvedores, designers, analistas de dados, de negócio e de growth? 

Squads funcionam melhor quando estão nesse nível de sintonia.
Squads funcionam melhor quando estão nesse nível de sintonia.

5. Esforço é diferente de resultado

Esse último ponto (dos atuais 5 princípios), na minha visão está completamente relacionado ao ponto 3, do Feijão com arroz (bem feitinho). Na carreira de gestão de produto, o esforço é importantíssimo, e ele deve ser visto e alinhado entre PM e a pessoa que está no papel de liderança, pois é um fator que precisa ser visto. Mas, puxando um paralelo aqui com "the hard thing about hard things"... o esforço nem sempre é visto.

Sendo assim, em alguns momentos ou em algumas empresas, você precisa traduzir muito bem quais os resultados que as suas ações trouxeram para a empresa. Sejam estes resultados atrelados a uma melhora na satisfação do usuário, ao aumento de uma métrica chave para vocês, ou simplesmente a redução de um custo operacional. Seja qual for o resultado trazido, ele precisa ser evidenciado, e todo o esforço realizado nas semanas, meses, quarters de trabalho precisam ser direcionados a resultado. 

Você acha que o Diretor ou o CEO está preocupado se você usou triple track agile? Se você usou kanban ou scrum? Se você fez uma priorização usando RICE ou a Matriz de Eisenhower? Se você usou a árvore de oportunidades da Annina Koskinen ou da Teresa Torres? 

Não, na grande maioria das vezes eles não estão. Eles estão basicamente preocupados com a maneira em que você identificou um problema, do por que aquilo é um problema para a empresa e os usuários, em como você identificou que aquilo era uma oportunidade para atingir os resultados da empresa e em como você testou isso rápido e iterou com qualidade para entregar o produto certo, no momento certo, juntamente a squad em que você atua.

Pra fechar

É possível que eu não tenha sido tão breve assim (querendo ou não esse tema é complexo e cheio de variáveis, e talvez caiba um artigo para cada princípio), mas espero que tenha sido útil de alguma forma o meu compartilhar de ideias e de práticas que venho aplicando nesse pouco tempo de liderança em gestão de produto.

Ficaria extremamente feliz em ler ou ouvir um feedback seu para continuar trocando e aprendendo com a comunidade, grande parte do que eu aprendo é por causa dela e bora continuar fomentando isso juntos!

Por último e não menos importante, não esqueça de acompanhar o Papo de Produto, a gente cria todo o conteúdo com muito carinho e sempre aprendemos muito com os convidados - e o nosso intuito é que quem esteja escutando, também consiga tirar alguma coisa de valor.

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