Quantas vezes nos afogamos em piscina rasa? Quantas vezes precisamos apenas ficar de pé? Quantas vezes a queda é de uma altura tão alta, tão amedrontadora que fechamos os olhos e nos negamos a abri-los novamente? E não conseguimos ver que já podemos
- Vamos, Menina! - Fabricio - meu irmão - gritou, enquanto passava por mim correndo. | ||
- Corre!! Bora! Vai logo, Meri. - Ellen - minha irmã - veio logo atrás, com suas gaiatices. | ||
Estávamos no Ecopark - um parque aquático que tínhamos aqui em Maceió, num cenário bem arborizado, naturalmente lindo, com algumas piscinas e uns três escorregadores, um deles mais alto - para onde estávamos indo. | ||
Eu amo uma boa aventura, mas meus irmãos... Ah! Eles são bem mais loucos que eu. Confesso que muitas das estripulias que fizemos juntos, foram culpa deles. | ||
Eles encaram com empolgação e sem medo, eu vou junto na empolgação, mas com medo. | ||
Acho que o medo desiste dos dois e fica todinho comigo. | ||
Na euforia, brincando, rindo, tirando onda... vou junto. | ||
Quando chego na 'zona de perigo'... | ||
- Como vim parar aqui? Por que simplesmente não mantenho distância quando eles têm essas ideias? | ||
E, mais uma vez... lá estou eu. | ||
Dessa vez, escutando as recomendações do que fazer e não fazer pra não me acidentar ao descer o escorregador de cerca de não sei quantos metros de altura - essa parte não consegui escutar - enquanto o instrutor falava eu pensava se seria uma morte rápida ou apenas uma queda bem ensanguentada. | ||
Ah! Deixa eu te contar: Não simpatizo muito com altura. | ||
Entende o pavor? | ||
Chega a minha vez... | ||
Sento, estico as pernas bem juntinhas, cruzo os braços sobre os peitos, deito e... não desço, precisa de um empurrãozinho pra... Uauuuu! | ||
Não tem freio! | ||
Aaaahhhhhhh! | ||
É só ladeira abaixo. | ||
Nesse caso... | ||
Escorrega abaixo! | ||
Altos gritos!!! | ||
Desesperada! | ||
Vabei! | ||
Caio na água. | ||
Continuo... | ||
Desesperada! | ||
Ai meu Deus!!! | ||
Eu tô me afogando!! | ||
Agora, sou o desespero em pessoa. | ||
E lá, me debatendo na água, vejo um par de pernas se aproximar e falar num tom masculino: | ||
- Moça, fique de pé. | ||
- Me ajude! Eu não consigo! - Respondi engolindo água. | ||
- Se eu lhe ajudar vai ser muito pior. Vá por mim, apenas fique de quatro e levante. | ||
Abri os olhos. Apoiei as mãos no chão - foi quando percebi que já estava ajoelhada - e me levantei. | ||
Agora de pé, olhando nos olhos desse rapaz que estava bem de frente pra mim, rimos descabreados. | ||
Eu morta de vergonha e ele com vergonha alheia. | ||
Foi quando entendi que o seu "muito pior" se referia a tamanha humilhação que eu passaria sendo resgatada por um salva vidas numa piscina rasa, tão rasa que a água ficava na altura dos nossos joelhos. | ||
Quantas vezes nos afogamos em piscina rasa? | ||
Quantas vezes precisamos apenas ficar de pé? | ||
Quantas vezes a queda é de uma altura tão alta, tão amedrontadora que fechamos os olhos e nos negamos a abri-los novamente? | ||
E não conseguimos ver que já podemos ficar de pé. | ||
Não foi a queda do escorrega que me desesperou, ela foi tão rápida, desci em menos de um minuto. Foi o estar de olhos fechados que aumentou a profundidade da piscina na minha mente. | ||
Eu estava com tanto medo que não queria nem ver, só sobreviver. | ||
Poucos anos depois desse 'mico aquático'... | ||
Lá estava eu, novamente sendo levada por livre e espontânea folia entre irmãos para um brinquedo que balançava de um lado para o outro, continuamente, aumentando a velocidade até quase girar todo, dando a sensação de que em algum momento ficaria de cabeça para baixo e começaríamos a despencar. | ||
Nesse parque de diversões, nossa turminha, animada como sempre, atraiu uma turminha que estava lá e se empolgou com nossas resenhas. Nos misturamos, uns sentaram de um lado da barca e outros do outro, só pra rir da cara de pavor que faríamos e pra agitar a brincadeira. | ||
Liga o motor... | ||
A Barca começa a balançar, começamos a resenhar, brincar, tirar onda da cara do outro. | ||
Agora, estou lá no alto, eles lá embaixo. | ||
O medo do alto me pega novamente, começo a brincar quando estou embaixo e a gritar apavorada de olhos fechados quando volto pra cima. | ||
Nesse vai e vem, o condutor do brinquedo se empolga com a nossa agitação e parece não querer acabar mais o nosso tempo, estica um tiquinho mais. | ||
- Essa turma é bem animada. - Ele repetia. | ||
Eu já estava louca pra acabar, cansada desse pavor sob euforia. | ||
Cansei. Não fechei mais os olhos. | ||
Pude ver as luzes da cidade lá do alto, um cenário lindo. | ||
Descobri que o segredo era não olhar pra baixo e curtir a vista lá de cima. | ||
Assim é a vida, algumas vezes caímos numa situação onde o medo nos afoga em preocupações, angustias, incertezas, perdemos totalmente a noção de onde estamos, perdemos o chão, a noção de como ficar de pé. | ||
Fechamos os olhos, pra não ver a profundidade da dor, ao ponto de não perceber que estamos nos afogando numa situação tão rasa. | ||
O mesmo medo que se apodera de você numa queda, sussurra ao seu ouvido, quando está subindo, coisas do tipo: | ||
- Olha lá pra baixo! Quanto mais você subir, mais alta será a queda. | ||
- Tá muito feliz, nem parece que tudo isso está acontecendo. | ||
- Vai, se apaixona... depois... decepciona. | ||
Poderia dizer: "Encare o medo!" | ||
Era isso que eu achava que fazia, quando me permitia viver aquelas estripulias. O famoso "Vai com medo mesmo" - E haja tensão. | ||
Hoje, prefiro dizer: Se permita ver exatamenta onde está, assim vai saber como ficar de pé ou terá uma vista incrível. | ||
Consciente de que a vida tem seus altos e baixos, seus dias bons e outros não tão bons assim. | ||
Enfim... | ||
Mantenha os olhos abertos. | ||
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