A SAF continua agitando o futebol brasileiro!
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A SAF continua agitando o futebol brasileiro!

A lei da SAF agita o mercado e já mostra velhos e novos desafios ao futebol do país.

Délio Mendes
7 min
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Como era esperado a Lei da SAF continua agitando os clubes brasileiros. Cruzeiro, Botafogo, América-MG , Cuiabá, Figueirense e Chapecoense, por exemplo, já criaram suas respectivas SAF e em momentos diferentes cada um já vive essa nova realidade.

<i>O dinheiro da SAF que pode salvar os clubes brasileiros</i>
O dinheiro da SAF que pode salvar os clubes brasileiros

O Cruzeiro está em um momento chamado de due diligence, ou diligência prévia. Onde as 2 partes envolvidas na negociação (Cruzeiro e Tara Sports - Ronaldo Fenômeno) fazem uma "investigação" mais aprofundada da situação do possível parceiro. Oficialmente esse é o momento, mas segundo o próprio Ronaldo, não há possibilidade do negócio não ser concretizado. "No contrato, há essa saída, mas está longe da minha cabeça, do meu pensamento, desistir do projeto. No momento, estamos em um processo de análise do clube, entender o tamanho do buraco, da dívida, os credores. Meu desejo é continuar e ficar aqui até fazer com que o clube volte a ser grande como era antes."

O Botafogo, segundo a imprensa, já recebeu um primeiro aporte financeiro de John Textor (R$50mi) que funciona como um empréstimo e a expectativa é a de que até o final do mês de Fevereiro o acordo entre as duas partes seja assinado.

América-MG já criou sua SAF (legalmente) mas segundo o clube, não há pressa para a busca por um investidor. O clube entende que o momento atual financeiro/administrativo não exige um investimento imediato e que devido à boa gestão recente o Coelho pode planejar com calma os próximos passos.

Chapecoense e Figueirense também já aprovaram a criação da SAF mas não foi tornado público ainda nenhum outro movimento em relação à busca por capital para investimento.

O Cuiabá, que já era um clube-empresa, "apenas" mudou seu regime jurídico - o que alivia a carga tributária - e agora é uma Sociedade Anônima do Futebol. Nesse momento o clube continua com seu "dono", a família Dresch. "Isso também abre possibilidade de receber investimento nacional e internacional, mas a venda de parte do clube não é um plano a curto e médio prazo", palavras do vice-presidente Cristiano Dresch.

Nesta semana 3 notícias sobre clubes brasileiros e suas buscas por uma solução para suas dificuldades financeiras/administrativas chegaram até nós.

Primeiro o GAMA. Clube do Distrito Federal que já disputou a primeira divisão do futebol nacional (1999-2002) anunciou no final do ano de 2021 a criação de sua SAF e assinatura de um acordo com a empresa Green White Investiments LLC. A empresa teria como responsabilidade gerir a SAF e encontrar investidores para o novo momento do clube. Esportivamente o Gama hoje disputa somente o campeonato regional - Candangão BRB 2022 - pois na temporada passada sequer conseguiu classificação para Copa do Brasil e/ou série D. Administrativamente a situação é bem parecida com o que acontece em campo. Problemas de dívidas, falta de projetos, categorias de base abandonadas... presente e futuro muito comprometidos. A SAF então seria o caminho para dar solução a estas questões.  Acontece que, no último dia do mês de Janeiro (1 mês após o anúncio da SAF) o clube emitiu um comunicado oficial informando que após reunião dos conselheiros, foi decidido que o acordo com a empresa gestora da SAF seria desfeito por falta de cumprimento de cláusulas do contrato assinado. Batalha jurídica à vista. O clube, na figura dos conselheiros (lembrando que aqui trata-se do clube associativo original, Sociedade Esportiva do Gama), alega que inclusive há atraso no pagamento de valores. Do outro lado, a empresa diz que já foram investidos R$600 mil, que essa posição do clube não faz sentido e que nada mudará em relação ao contrato assinado. Inclusive o representante da empresa levanta a hipótese de ser um "boicote" de parte da antiga administração. "Os antigos gestores que não têm credibilidade e estão tentando reverter o negócio, tendo atitudes de interesse pessoal e não para o Gama."

Um cenário que reflita melhor "Expectativa X Realidade" impossível. Como já levantamos por aqui, a simples criação da SAF e até mesmo a assinatura de um contrato não garantem a mudança de realidade num clube de futebol. Existe uma cultura de gestão que precisa ser totalmente modificada. A perda do poder por parte dos atuais "administradores" é uma barreira difícil. E a busca por investidores bons pra um mercado sem maturidade como o do futebol brasileiro não é tão simples como pode parecer. Vamos acompanhar os próximos acontecimentos desse caso.

O Athletico anunciou a contratação do executivo Alexandre Mattos no final de Janeiro e um dos seus primeiros atos como CEO de Negócios de Futebol e Áreas Nacional e Internacional do Furacão foi uma viagem para os Emirados Árabes Unidos (Dubai) em busca de possíveis investidores para o clube. A ideia é que Alexandre Mattos busque por investimentos para negociar até 40%  do clube paranaense no modelo de SAF (projeto foi aprovado no final do ano passado). "A visão é de longevidade e perpetuidade. Vai entrar o dinheiro. O que faremos com ele? Fui atrás do Alexandre para que ele viesse nos ajudar a pensar, com o conhecimento que ele tem do negócio futebol." palavras do presidente Mario Celso Petraglia. Lembrando que esse modelo de "venda" de parte minoritária ainda não aconteceu no Brasil e não é muito comum nos modelos mundo a fora (exceção clássica da Alemanha que não permite investidor majoritário).

E por fim, o Vasco da Gama. Foram apresentadas aos sócios do clube carioca 3 propostas para criação da SAF Vasco. Cabe destacar uma informação. Antes dessas 3 possibilidades de SAF, a direção do clube apresentou aos conselhos 3 alternativas para o clube escolher: criar a SAF, entrar com um pedido de recuperação judicial (podendo levar à falência) ou continuar como clube associativo (em um cenário de austeridade financeira durante 5 ou 6 anos para ter resultados esportivos após isso - me parece que nenhum clube está disposto a fazer isso). A opção pela SAF é a que tem mais força dentro do clube e muito provavelmente será seguida.

Ao optar pela criação da sociedade anônima do futebol o Vasco decidirá entre 3 modelos diferentes, a saber:

SAF 100% do Vasco: nesse caso o clube criaria sua SAF mas não negociaria a venda para investidores. Caberia ao próprio clube buscar por novos capitais para diminuir suas dívidas e fazer investimentos. A própria lei da SAF possibilita algumas ferramentas para isso, como a emissão de debêntures ou empréstimos com ações da SAF como garantia. Mas o clube já identificou que neste momento esse cenário possui mais desvantagens do que o contrário.

SAF com principal acionista o Vasco: aqui o clube venderia até 49,99% das ações da SAF para investidores mas teria maioria da sociedade para tomar suas próprias decisões sem nenhuma interferência externa. Os exemplos de Cruzeiro e Botafogo já deixaram claro que os investidores não estão dispostos a colocar dinheiro, em um negócio que hoje não dá resultados, sem poder tomar as decisões. Nesse modelo aqui o Vasco teria muita dificuldade de encontrar bons investidores e bons valores.

SAF com minoria do Vasco: esse é o modelo adotado por Cruzeiro e Botafogo. O Vasco ficaria com 10% da SAF (chamadas ações de classe A) para garantir - por lei - poder de decisão em assuntos como alteração de nome, mudança de localização e alterações de "signos identificativos da equipe de futebol profissional, incluídos símbolo, brasão, marca, alcunha, hino e cores". Alguns atores do mercado já deixaram claro que essa opção é a mais viável para o Brasil no momento. Principalmente em clubes onde a situação financeira/administrativa não são boas e o endividamento é muito grande. O que é o caso.

Independente do modelo definido, o Vasco será mais um dos considerados grandes do futebol brasileiro a buscar na criação da SAF uma possibilidade de voltar a competir esportivamente sem causar estragos financeiros e na imagem do clube. Uma vida financeira sustentável do futebol e que permita investimentos e gastos minimamente esperados pelo seu torcedor.

Como já disse aqui... que esses primeiros exemplos de SAF sejam de sucesso. Parece estar iniciando uma nova era no futebol do país e caminhando para um futuro mais profissional e responsável. Mas que fique claro: a SAF não é um fim, mas sim um meio para novas práticas nos nossos clubes.

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fontes:

https://oglobo.globo.com/esportes/vasco-confira-argumentos-da-diretoria-favor-da-saf-em-resposta-conselhos-25376513

https://www.correiobraziliense.com.br/esportes/2022/02/4981951-em-nota-gama-saf-trata-calote-como-inveridico-e-explica-situacao-do-clube.html

https://ge.globo.com/pr/futebol/times/athletico-pr/noticia/alexandre-mattos-viaja-para-dubai-em-busca-de-parcerias-para-o-athletico.ghtml

https://ge.globo.com/sc/futebol/times/figueirense/noticia/figueirense-finaliza-processo-e-oficializa-a-criacao-da-saf.ghtml

https://chapecoense.com/pt/noticia/de-forma-unanime-conselheiros-aprovam-a-transformacaeo-da-chapecoense-em-saf

https://ge.globo.com/futebol/times/america-mg/noticia/apos-negociacao-de-acoes-da-saf-travar-america-mg-e-grupo-dos-eua-encerram-exclusividade.ghtml