Como lidamos com ocorrências extremamente complexas e surpreendentes?
Como lidar com ocorrências que exigem tanto do nosso psicológico ? | ||
Pouco depois das 15h de uma sexta-feira (5 de novembro), o Corpo de Bombeiros de Caratinga (MG) atendeu a uma ligação. Do outro lado, uma mulher relatava a queda de uma aeronave em uma cachoeira próxima ao aeroporto da cidade, localizada a 294 km de Belo Horizonte. | ||
O bombeiro militar Johnn Leno atendeu a uma das muitas ligações recebidas no quartel que informado acidente. Segundo ele, uma moça falou que havia caído um avião e que, aparentemente, as vítimas estavam bem. Até o momento ninguém sabia que se tratava do avião que levava a cantora Marília Mendonça, nem mesmo Jhon Leno. | ||
“Eu trabalho no setor administrativo. Como muita gente deve ter ligado, o 193 estava ocupado e caiu no setor em que eu trabalho." | ||
Ele estava ansioso pra poder ir no show que a cantora faria na cidade no dia seguinte, e já tinha tudo combinado com a esposa. Disse ainda que é fã desde o início da carreira e dos primeiros sucessos. Mais tarde quando já estava na ocorrência o bombeiro descobre que uma pessoa que admirava, era agora sua difícil tarefa de resgate. | ||
Como lidamos com o estresse e a ansiedade, além de toda a adrenalina que é despejada em nosso corpo no momento de uma ocorrência? | ||
O fator agravante de ser alguém não só conhecida, como amada por todo o país, o luto que vamos viver ao sentir que alguém que admirávamos se foi, a quantidade de olhos e câmeras gravando cada segundo da sua atuação, tudo isso se em segundos na cabeça do socorrista, que precisa pensar tecnicamente enquanto os pensamentos jorram. | ||
"Eu estava no meio da cachoeira para poder receber os corpos e levar para a parte mais seca. Quando olhei e vi que era o rosto dela, pensei: ‘agora não tem como falar que não é ela’, contou." | ||
Desastres são desencadeadores de estresse, tanto em decorrência da exposição a um perigo iminente, quanto pelo risco à integridade física e emocional das pessoas envolvidas, vítimas ou socorristas. | ||
Mariana Batista Leite Leles, Psicóloga Hospitalar Intensivista diz que os profissionais atuantes saem de sua zona de segurança para se tornarem “profissionais participantes” da catástrofe. Na maioria das vezes essas situações não estão nem mesmo controladas minimamente, mas lá estamos. | ||
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Muitos de nós, no meio militar, temos dificuldade de conversar uns com os outros ou com alguém sobre o lado emocional dessas ocorrências, dizemos apenas "pau de bosta", "pesado" e em seguida "cê trouxe marmita de casa ou vai pedir de alguma lugar?" | ||
Ainda vou discorrer em outros textos sobre essas e outras muitas formas de fugir do que nos incomoda no serviço, mas por enquanto trouxe aqui um lembrete de que somos humanos e não heróis. | ||
Não temos um botão que nos desliga do lado emocional pra agir, e sinceramente muito me intriga o lado fisiológico da atuação em emergências. Meu amigo de farda citado acima foi de telefonista a fã arrasado em poucas horas, de bombeiro atuando em queda de aeronave pra um fã carregando o corpo do ídolo. | ||
Não existe preparo | ||
Não existe um treinamento específico pra cada situação e convenhamos, quantas variáveis existem pra cada tipo de acidente? | ||
Existe o básico, que é manter um certo nível de atividade física, fazer terapia, comer de forma saudável e claro, procurar um serviço médico caso haja alteração no sono ou indícios de estresse pós-traumático. a maioria não sabe identificar sinais e sintomas de adoecimento mental e pouco se fala no assunto. Significa que todo afeto e compaixão que temos, na maioria das vezes é demonstrado ao outro em formato de simples palavras : "pesado". | ||
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