A Volta do Dragão Inflacionário
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A Volta do Dragão Inflacionário

Após alguns anos de pleno controle da inflação estamos vendo pela primeira vez desde a gestão Dilma Roussef um aumento desse índice cujo o nome desperta medo no coração de banqueiros centrais, empresários e membros do executivo. Mas do que ex...

João Vitor Vasconcelos de Araujo
8 min
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Após alguns anos de pleno controle da inflação estamos vendo pela primeira vez desde a gestão Dilma Roussef um aumento desse índice cujo o nome desperta medo no coração de banqueiros centrais, empresários e membros do executivo. Mas do que exatamente se trata a inflação e quais suas consequências em nossa vida?

Dividi o texto em algumas partes, passando por:

  1. O que é inflação?
  2. Tipos de inflação
  3. Hiperinflação
  4. Desinflação 
  5. Deflação

Dessa maneira você pode pular para a parte que mais te interessa.

O que é inflação?

De maneira resumida, inflação é o aumento generalizado de preços ou diminuição do poder de compra da moeda em circulação, ambos acontecimentos com fins similares, sendo sustentada por grande quantidade de moeda em circulação, ela pode ter resultados catastróficos para a sociedade se não for tratada. A inflação é um fator perverso pois afeta todos os entes do mercado, desde o governo até empresários e cidadãos. Apesar de parecer simples, ela pode ter causas diversas que demandam respostas diferentes dos formuladores de política pública.

Tipos de inflação 

Normalmente, a inflação tem 2 causas principais:

1. inflação puxada pela demanda

A inflação por demanda ocorre quando gastos com bens e serviços impulsionam os preços na economia, em outras palavras, é uma inflação alimentada pela renda. Para dete-la é necessário buscar maneiras para redução da renda da população, podendo-se utilizar a tributação para isso, ou, a melhor solução ao meu ver, gerar incentivos para a poupança deste capital, podendo fazê-lo através do uso da taxa de juros. A inflação causada pela demanda persistirá se o governo não alinhar suas políticas podendo chegar a o que chamamos de uma hiperinflação, mais sobre isso a frente. Exemplos de políticas que podem piorar uma inflação causada por demanda são: Reduções grandes de tributos, exagerados gastos governamentais e tentativas de monetizar dividas (usar a emissão de moeda para financiar gastos e dividas do governo).

2.Inflação empurrada pelos custos

Também conhecida como estagflação, ela ocorre quando o preço dos insumos aumentam. Para operar, empresas precisam adquirir matéria-prima, mão de obra e capital. Se os custos desses insumos sobem, a capacidade de produção dos produtores é reduzida, ja que o custo unitário da produção aumenta.

Se o aumento nos custos for relativamente grande e disseminado, pode ser criada uma inflação mais elevada, tendo como consequência uma redução do PIB real e um aumento do desemprego. Apesar de ser ruim, essa inflação ainda é melhor que a inflação puxada pela demanda, uma vez que é autolimitante. Com a queda do PIB e a resultante elevação do desemprego, os preços para o produtor tendem a cair em médio prazo.

O maior perigo desse tipo de inflação é ela ser confundida com uma inflação de demanda, nesse caso a aplicação errônea de "remédios" pode criar ainda mais problemas do que resolver. Assim como em incêndios, existem recomendações diferentes para diferentes casos, um incêndio causado por óleo é diferente de um incêndio florestal. E com a inflação não é diferente, o uso de recomendações erradas pode resultar, no pior dos casos, naquilo que chamamos de hiperinflação.

Hiperinflação

Por vezes a inflação pode chegar a casos extremos que são conhecidos como cenários de hiperinflação.  Cenários como esse são compostos de momentos em que a inflação passa a marca dos 50% mensais, ou seja, a cada 2 meses os preços mais que dobram. Praticamente todos casos históricos de hiperinflação foram acompanhados de emissão excessiva de moeda ou monetização descontrolada de dividas do governo.

No livro "A moeda e a lei" Gustavo Franco enumera alguns dos piores casos em que foi registrada Hiperinflação na história
No livro "A moeda e a lei" Gustavo Franco enumera alguns dos piores casos em que foi registrada Hiperinflação na história

Como é possível ver na tabela, apesar de hiperinflação começar em uma taxa de 50% mensal, isso é só o piso. Em casos extremos, ela pode alcançar valores estratosféricos, alcançando até mesmo valores na casa dos milhares. 

Para se ter ideia do impacto da hiperinflação em seus piores casos trarei o exemplo do surto inflacionário do florin Húngaro entre os anos de 1945 e 1946, considerado o pior surto inflacionário da história. A inflação húngara foi tão severa que os preços não eram mais medidos pelas dezenas ou centenas, mas em bilhões, trilhões. Ao final da saga inflacionária húngara o total da oferta de florins valia menos que o valor de 1 florim em 1944. A situação foi tão absurda que para representar o real valor dessas taxas foi necessário o uso de potência de dez, como pode ser visto na tabela acima. 

Economistas e banqueiros centrais quase sempre tentarão combater a inflação e fugir da hiperinflação. No combate a inflação alcançamos o que chamamos de cenários de desinflação.

Desinflação: O bom...

Se dizemos que a inflação é algo ruim, por outro lado podemos dizer que a desinflação é algo benéfico ao funcionamento da economia. Por trazer maior estabilidade aos preços, ela diminui as pressões para aumento de salários, além de permitir uma redução das taxas de juros, o que diminui o custo do capital, tornando-o mais acessível para todos os entes da economia. Entretanto, o mais importante efeito da desinflação está relacionado ao controle das expectativas inflacionarias futuras, o que traz maior estabilidade e controle para a economia.

A Importancia das expectativas 

Na economia temos um conceito chamado "profecia autorrealizável", de maneira resumida ela é um prognóstico, ou profecia, que ela própria causa sua concretização. Quando falamos de inflação, podemos perceber que o medo ou excesso de confiança do público causa mudanças na taxa de inflação. Isso ocorre pois consumidores, com medo da inflação, deixam de poupar e passam a gastar mais com medo dos efeitos inflacionários, o efeito direto disso é a inflação por demanda . Essa inflação reforça as expectativas futuras, exigindo aumentos nos salários nominais por partes dos empregadores para compensar esses efeitos. Esse aumento, por sua vez, leva a um aumento da inflação por custos, levando a um aumento cíclico de preços. Se o Banco Central não conseguir administrar as expectativas quanto a inflação ele sempre enfrentará níveis de preços acima do esperado.

Por esse motivo o  banqueiro central administra não só a inflação real de hoje, mas também as expectativas futuras da inflação, não só em palavras mas também em ações. É necessário que o Banco Central alinhe seus discursos com suas ações para não prejudicar sua credibilidade, sem ela o Banco central perde ainda mais o controle de suas próprias políticas . Não adianta bradar aos 4 ventos contra a inflação se na hora H você não age contra ela.

Deflação: O "Não Tão Bom"

Ja falamos de inflação e desinflação, portanto resta falar da deflação. Temos um cenário de deflação quando o nível médio de preços diminui e o poder de compra da moeda aumenta, portanto o contrário do que vemos na inflação. Pela lógica, se a inflação é ruim e a desinflação é melhor, a deflação só pode ser ótima certo? Bem, nem tanto. Infelizmente nem tudo na economia é lógico e um cenário de deflação pode ainda ser muito prejudicial para a economia. O grande problema de um cenário de deflação, são os incentivos que ele gera sobre a economia e seus atores. Se os preços estão constantemente diminuindo, os consumidores são incentivados a adiar suas compras diante do prospecto de melhores ofertas no futuro. Se esse comportamento se perpetua por tempo o suficiente a industria de transformação acaba saindo prejudicada, levando a demissões e consequentemente aumento do desemprego. O desemprego, por sua vez, reforça os efeitos da deflação pois menos consumidores estariam em condições de adquirir bens e serviços. O mesmo acontece com os empresários, que postergam investimentos à espera de um cenário mais favorável.

O Dilema da Deflação

A deflação representa um dilema para o Banco Central, que costuma combater inflações utilizando a taxa de juros, assim reduzindo o crédito e arrefecendo a pressão inflacionária. Enquanto não existe um teto para 0s juros da economia, o mesmo não pode ser dito sobre o piso. Quando um banco central enfrenta um cenário de deflação, ele reduz os juros a fim de incentivar investimento e consumo. Se a redução inicial não surtir efeito, continuarão a baixar as taxas até atingir o que chamamos de limite zero, ponto onde não podemos mais baixar os juros. O economista John Maynard Keynes cunhou o termo "armadilha de liquidez"para se referir a essa fragilidade da política monetária: se consumidores e investidores não contraem empréstimos a juros de 0%, então você fica sem opções.

Uma solução para deflação

A solução mais direta, e mais comum, para a deflação é a busca pelo aumento de liquidez da economia por meios além dos juros. O economista da Escola de Chicago Milton Friedman costumava dizer que a deflação dificilmente se torna um problema em economias modernas, uma vez que não é difícil gerar inflação nessas economias. Em economias com padrão de moeda não conversível basta a emissão de mais moeda para que se possa gerar um grau de inflação, ja no caso de economias com banco central independente o método mais utilizado é a monetização de dividas para geração de inflação.


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