Eleições e Teoria dos Jogos
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Eleições e Teoria dos Jogos

Por que os candidatos agem da maneira que agem?

João Vitor Vasconcelos de Araujo
8 min
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Se você gosta de economia ou política, ja deve ter ouvido falar da Teoria dos Jogos. Ela é um ramo da matemática que avalia diversas situações estratégicas em que os entes envolvidos, ou  jogadores, tomam decisões em diversos "jogos" buscando os melhores resultados para si. De maneira resumida, podemos dizer que é uma estrutura de análise para podermos entender os possíveis resultados das interações entre um jogador e seus concorrentes.

A Teoria do Jogos é amplamente utilizado em diversos ramos de estudo e estratégia. Desde no estudo da economia, táticas de guerra e até mesmo na tomada de decisão de grandes empresas, entender o que os demais players do jogo estão pensando e suas estratégias é essencial para qualquer jogador que tenha interesse em tirar valor do jogo sendo jogado, na política não poderia ser diferente. Em uma eleição, diversos candidatos estão lutando para convencer um numero limitado de eleitores que suas ideias e propostas são as melhores para a nação e que, por isso, eles deveriam ser eleitos. Para podermos entender como as interações acontecem, vamos passar primeiro por quais são os principais tipos de jogos encontrados na teoria dos jogos.

Jogo de Soma Zero, ou Jogo de Ganha-Perde

Em um jogo de soma zero os ganhos de um jogador são equivalentes as perdas de um outro jogador , então ganhos + perdas = 0. Para ilustrar melhor vamos usar o exemplo do poquer: em uma partida de poquer, os jogadores fazem suas apostas baseados nas cartas que eles tem em suas mãos e a depender da mão sortuda dos jogadores, e de sua intuição, as apostas gradualmente sobem.

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Ao final da rodada os jogadores mostram suas cartas e aquele com o melhor conjunto de cartas, considerando as que estão à mesa, leva a aposta dos demais jogadores. Percebam que em um jogo como esse, não há oportuidade para colaboração entre os jogadores, pelo menos não de maneira que mais de um jogador leve o prêmio para casa de maneira oficial (se é que me entende), você está sozinho no jogo e vê todos jogadores como adversários. Usando um cenário onde há somente 2 jogadores na partida, podemos ver que não há uma situação onde ambos ganham, a não ser que os jogadres tenham mãos iguais, neste caso ambos recebem suas apostas de volta. De maneira geral, quando as cartas são reveladas um dos jogadores levará consigo o prêmio.

Possíveis resultados em um jogo de poquer
Possíveis resultados em um jogo de poquer

Jogo de Soma Positiva, ou Jogo de Ganha-Ganha

Quando falamos do jogo de soma positiva, temos uma situação em que todos os jogadores envolvidos no jogo saem ganhando com a interação em questão e onde a soma dos ganhos e perdas é positiva, ou seja, os recursos são de alguma forma aumentados satisfazendo todos os envolvidos. Um exemplo de jogo de soma positiva seria um concurso onde todos os participantes são premiados, mesmo que não sejam os vencedores.

Jogo de Soma Negativa, ou Jogo de Perde-Perde

Em oposição ao jogo de soma positiva, temos os jogos de soma negativa. Um jogo que, quando jogado, leva a destruição de valor. Um exemplo de jogo de soma negativa é a aplicação de protecionismo para defender produtos de origem nacional. O governo impõe taxas e barreiras que dificultam a entrada de concorrentes internacionais, limitando o valor gerado neste mercado e privilegiando os os players nacionais em detrimento dos concorrentes, e também dos clientes desse mercado que agora não tem acesso a produtos de maior qualidade.

O Jogo das Eleições

Assim como nos exemplos acima, as eleições também são um jogo a ser jogado por seus players, e um jogo com apostas altas. Em periodo eleitoral vemos um verdadeiro Xadrez entre os candidatos que buscam não só uma estratégia que permita a eles expor suas ideias e propostas para o maior numero possível de eleitores, mas também preparar agendas que buscam contrapor os esforços de seus concorrentes a fim de tomar a frente na corrida eleitoral. É necessário colocar muito pensamento em cada passo tomado no periodo de campanha e vou trazer alguns exemplos dessa eleição e de outras passadas para falar desse ponto.

PSDB e a eleição de 2018

A eleição de 2018 foi um marco político recente no Brasil, uma vez que ela representou uma quebra da hegemonia PT x PSDB que tomava conta do campo político do Brasil desde a eleição de 1994. Entretanto, poucas pessoas se lembram que até o inicio do ano de 2018 o PSDB ainda aparecia como um dos favoritos a vencer o pleito com seu candidato veterano, e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Alckmin era o candidato com mais tempo de TV, um nome conhecido ao público com uma estrutura partidária gigantesca para apoiá-lo, visto isso, o que deu errado?

O  erro crasso da campanha de Alckmin é o que costumo chamar de erro de foco. A campanha de Alckmin decidiu desde cedo apontar suas armas a seu concorrente direto a vaga de "candidato da direita", Jair Bolsonaro. Até esse ponto Bolsonaro aparecia em segundo lugar na disputa, Lula ainda não estava impedido de concorrer, 7 pontos percentuais a frente de Alckmin. A escolha por atacar Bolsonaro parecia óbvia, desmoralizar seu concorrente direto, diminuir a diferença e tomar a frente da direita, o PSDB estava acostumado com uma dicotomia entre PT e PSDB e não imaginou que ali seria diferente. 

Entretanto, esse movimento não foi bem recebido pelo eleitorado da direita, que via Alckmin atacando ferozmente Bolsonaro e dando menor atenção a Lula e ao PT. Além disso, na reta final da eleição o candidato chegou até mesmo a dedicar um programa eleitoral inteiro para atacar o, até então, candidato do PSL o que resultou somente em mais destaque a Bolsonaro. A falha em entender o que seu eleitorado queria ouvir, combinada a recusa em polarizar com o PT, em uma eleição extremamente polarizada, culminou em Alckmin atigindo somente 4% dos votos, pouco a frente de candidatos como Marina Silva e João Amoedo.

Aécio Neves na eleição de 2014

A eleição de 2014 possui um background bem diferente daquele visto em 2018. Neste caso a dicotomia PT x PSDB ainda estava a todo vapor e o candidato do PSDB era o mineiro Aécio Neves.

Aécio possui diversos defeitos como político, porém uma qualidade que ele possuia quando comparado a Geraldo Alckmin, e também boa parte dos "cabeças brancas" do PSDB, era que ele não tinha medo em polarizar. Essa característica trouxe muita força a sua campanha em uma eleição de embate direto com Dilma Rousseff e com o PT, um partido que historicamente tem essa característica de polarização. Apesar disso, uma escolha tomada pela campanha de Aécio viria a assombrá-lo no segundo turno e pode tê-lo custado sua eleição ao final do dia.

O Fator Minas Gerais

Se pegarmos os dados históricos, Minas Gerais sempre foi um estado estratégico nas eleições presidenciais. Desde 1950, quando Getulio Vargas foi eleito, nenhum candidato se tornou presidente sem vencer na terra do café e pão de queijo. Em 2014 a história não foi diferente. Acreditando que sua anterior popularidade como governador seria o suficiente para trazer uma vitória em Minas Gerais, o candidato do PSDB negligenciou o estado buscando garantir apoios em outras regiões e circulos eleitorais, afinal, Aécio foi um dos governadores mais populares ao final de seu mandato. Em 2009, 73% dos mineiros classificavam seu governo como bom ou ótimo.

Infelizmente, ou felizmente visto a "bomba fiscal" armada naquela eleição, sua popularidade ja não foi suficiente para garantir a vitória do PSDBista, que perdeu em Minas Gerais nos 2 turnos daquela eleição.

Vencedores por estado no primeiro turno da eleição de 2014
Vencedores por estado no primeiro turno da eleição de 2014

A relativa negligência do PSDB, combinada aos esforços da campanha de Dilma a ligar suas raizes ao estado, culminaram na derrota de Aécio Neves no segundo turno daquela eleição.

Vencedores por estado no segundo turno das eleições de 201
Vencedores por estado no segundo turno das eleições de 201

Eleições de 2022

Agora que ja falamos das eleições passadas, vamos a o que importa: as eleições de 2022. Este ano estamos vendo novamente uma eleição majoritariamente polarizada entre 2 candidatos, Bolsonaro e Lula, e é na interação dessas duas campanhas que focarei minha análise.

O primeiro ponto a comentarmos está relacionado a decisão de participar de certos programas e eventos. Temos um verdadeiro jogo da galinha acontecendo na tomada dessa decisão, a escolha de não participar de um debate por um dos candidatos, por exemplo, pode deixar todos os holofotes a seu concorrente,ou até mesmo passar a impressão que o candidato está fugindo do escrutinio do debate. É óbvio que nem todos eleitores mudariam de candidato por conta disso, entretanto, para o eleitor médio, esse é um fator a ser levado em conta em sua decisão final. 

Além das decisões relacionadas a eventos e programas, temos também a decisão relacionada ao foco regional das campanhas, assim como na eleição de 2014, ela pode ter grande influência no resultado final do pleito. Foco nos estados onde estou liderando ou tento ganhar mais espaço em estados que estão no meio termo? Decisões como essa devem ser cuidadosamente calculadas pois custam tempo e, ao final do pleito, podem custar a uma campanha muito mais que só dinheiro.


Espero que tenha curtido o texto e que tenha entendido um pouco mais sobre teoria dos jogos na política. Se quiser ver mais clica no botão aqui em baixo pra seguir o canal e receber os textos no seu email.

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Pra entender um pouco mais de teoria dos jogos, e ver mais alguns exemplos de jogos, podem clicar no link a seguir: Teoria dos jogos: entenda o que é com exemplos do cotidiano

Eu sou João Vitor de Araujo e este foi mais um texto da Dutconomics.