O Super-Homem bissexual e instrumentalização da cultura
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O Super-Homem bissexual e instrumentalização da cultura

A escritora Rachel de Queiroz costumava contar que pertenceu ao Partido Comunista por 24 horas. Em 1932, logo após ingressar no partido, ela foi chamada para uma reunião com dirigentes do Rio de Janeiro. Eles tinham lido os originais do livro...

Leandro Narloch
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A escritora Rachel de Queiroz costumava contar que pertenceu ao Partido Comunista por 24 horas. Em 1932, logo após ingressar no partido, ela foi chamada para uma reunião com dirigentes do Rio de Janeiro. Eles tinham lido os originais do livro “João Manuel” e decidiram exigir mudanças para que a história ficasse “mais marxista”.

Os personagens pobres deveriam ser boas pessoas; os ricos, os vilões da história. “Por exemplo: uma das heroínas, moça rica, loura, filha de coronel, era uma donzela intocada. Já a outra, de classe inferior, era prostituta. Eu deveria, então, fazer da loura a prostituta e da outra a moça honesta. João Miguel, ‘campesino’, bêbedo, matava outro ‘campesino’. O morto deveria ser João Miguel, e o assassino passaria de ‘campesino’ a patrão”, conta Rachel em sua autobiografia.

A escritora considerou os pedidos risíveis, abandonou a reunião sem abrir a boca e nunca mais se envolveu com o Partido Comunista.

Sempre lembro dessa história ao ler sobre polêmicas como a Super-Homem desta semana. O novo herói, filho do original, se assume bissexual na mais recente edição do quadrinho. Não estou nem aí para a sexualidade do Super-Homem, desde que ele derrote Lex Luthor - e na verdade sempre achei bem modorrenta a história entre Clark Kent e aquela sem-gracinha da Louis Lane.

O que incomoda a mim e a tanta gente não é a homossexualidade em si, mas a pregação politicamente correta. O proselitismo em forma de quadrinhos, a visão da cultura como instrumento de disseminação de ideologias – o mesmo comportamento que Rachel de Queiroz considerou absurdo em 1932.

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