Escolher a atividade adequada para cada fase é fundamental. Listei para você as mais adequadas para desenvolver habilidades nessa idade.
Escolher a atividade adequada para cada fase é fundamental. Listei para você as mais adequadas para desenvolver habilidades à partir dos 4 anos, porém não se limita apenas a essa idade. Afinal, mais importante do que idade, é o desenvolvimento de habilidades. | ||
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Se ao ler o texto abaixo identificar que mesmo crianças mais velhas, de 7,8 e 9 anos ou mais não desenvolveram tais habilidades e consequentemente não aprenderam a ler ou demonstram muita dificuldade, considere ensiná-los e desenvolver as habilidades listadas no texto. | ||
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Atividades educativas visam contribuir com a aprendizagem da criança e deve incluir atividades explícitas que se sabe onde se deseja alcançar através de uma educadora bem instruída e que sejam aplicadas de forma sistemática, do mais simples ao mais difícil para a criança executar. Nas atividades educativas não visa apenas à recreação, mas espera-se que no final da atividade a criança tenha aprendido efetivamente algo útil para o seu avanço na educação formal. | ||
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Para que as atividades educativas sejam úteis é essencial que sejam bem selecionadas. Pensando nisso é importante saber o que se espera desenvolver em cada fase da aprendizagem da criança. Para isso é importante uma educadora bem formada que sabe o que a criança deve aprender e desenvolver. | ||
E a seleção correta de atividades educativas deve começar ainda durante a educação infantil. Afinal, de acordo com a Constituição Federal, art. 208, I, com redação da Emenda Constitucional 59/2009, a educação básica é obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a pré-escola deve ser oferecida às crianças de 4 e 5 anos (art. 30, II) e o ensino fundamental obrigatório inicia-se aos 6 anos de idade (art. 32, caput). Se a criança deve estar na escola desde os seus 4 anos de idade o que esperamos que ela aprenda por lá? | ||
Para mim faz sentido pensar que a escola é local de ensino explícito e que é uma das principais responsáveis pela educação formal de uma criança e o natural é que então se utilize bem do tempo disponível da criança durante a sala de aula. Não se trata de ensinar a criança a ler e escrever aos quatro anos, mas, prepará-la o melhor possível para a aprendizagem da leitura. | ||
Para José Morais (2003) a aprendizagem do reconhecimento das letras deve começar muito cedo, certamente antes da instrução na escola. Ela é de responsabilidade dos pais e das professoras da escola maternal. As atividades de escrita espontânea, a partir de alguns pares de “letra-som” conhecidos, devem ser favorecidas, porque contribuem para a compreensão das relações entre a forma escrita e a forma falada das palavras. Elas são de fato atividades de pesquisa fônica, por parte da criança pré-leitor. E para isso, deve estar claro para a professora ou mãe que ensina que a letra tem uma relação com o que falamos, essa relação letra-som não está clara e evidente para todas as educadoras, o que dirá depender das crianças para perceberem isso sozinhas? | ||
Para isso não há idade pré-estabelecida, uma criança que tenha um desenvolvimento cognitivo e linguístico normal e desenvolva as habilidades preditoras, é provável que consiga aprender a ler bem antes de entrar na escola primária - primeiro ano (Morais, 2003). Por exemplo, nesse caso, uma criança que aos 3 anos teve uma instrução explícita, chegará facilmente a conclusão aos 4-5 anos: e agora o que posso fazer com as letras que estão diante de mim e que eu sei que têm um som e se relacionam com uma forma gráfica? Foi isso que Maria Montessori observou em sua Casa dei Bambinni na Itália quando iniciou o ensino da relação letra-som. | ||
Inclusive ela relatou em seu livro “A descoberta da criança” (2017) o seguinte: | ||
“[…] eu também me achava enganada pelo preconceito de que somente mais tarde é que se deveria encetar o ensino da leitura e da escrita, aprendizado esse que deveria ser evitado até a idade dos seis anos. Mas, no decorrer desses poucos meses, as crianças pareciam perguntar que conclusão tirar desses exercícios que as haviam tão surpreendentemente desenvolvido.” | ||
menos a motivação deve ser em responder uma ansiedade dos pais, mas, sim de bem preparar a criança para o seu pleno desenvolvimento da leitura. Ler antes dos cinco anos de idade não garantirá que ela lerá melhor do que outra que aprendeu da mesma maneira estruturada aos 6-7 anos. Mas, também mal não fará, o desenvolvimento cognitivo está apto para isso. A chave está em preparar bem as crianças, em qualquer idade, dessa forma a aprendizagem da leitura e o desenvolvimento de um leitor hábil será consequência. | ||
Nesse sentido, a alfabetização não se trata apenas de idade, mas do desenvolvimento de habilidades, que seguramente podem ser bem desenvolvidas desde o ano escolar obrigatório. | ||
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Durante a primeira infância a neuroplasticidade, que se refere à capacidade do cérebro de adquirir novas habilidades, é mais intensa. Esse já seria um dos motivos para a defesa da estimulação precoce da aprendizagem durante a educação infantil. Nessa fase as crianças encontram-se mais aptas à aprendizagem, sendo considerada como um período crítico e importante para o desenvolvimento humano, pois fornece os alicerces para aquisição de outras habilidades mais complexas que serão desenvolvidas nos anos seguintes. Sendo, ainda, possível identificar atrasos no desenvolvimento de funções cognitivas que podem se relacionar com diversos quadros clínicos precursores de problemas para a saúde mental (Mecca et al, 2012). | ||
Em 2008 o National Early Literacy Panel (NELP) (2008) apontou onze habilidades desenvolvidas na educação infantil que são preditoras do desenvolvimento da alfabetização, entre elas 5 se destacaram, pois apresentaram alto poder preditivo para o desenvolvimento da leitura e anularam a interferência entre o quociente de inteligência (QI) e nível socioeconômico, igualando as crianças de diferentes contextos sociais e econômicos. Ou seja, ao serem aplicadas e desenvolvidas, essas habilidades seriam capazes de equiparar as condições de aprendizagem das crianças independente de fatores externos. E são elas: | ||
Conhecimento do princípio alfabético: reconhecer que a letra tem uma forma gráfica, um nome e principalmente, representa um som; | ||
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Todas essas habilidades principais são preditoras de sucesso na alfabetização, pois terão relação com a capacidade da criança desenvolver a decodificação de palavras, bem como a facilidade maior de acesso ao dicionário léxico mental, etapa essencial para desenvolvimento da leitura e fluência leitora. | ||
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Agora que você já sabe da importância de preparar bem a criança a partir dos 4 anos para a aprendizagem da leitura, vamos à algumas ideias práticas? | ||
1 - Os sons das letras | ||
No artigo disponível aqui listei atividades criativas para apresentar o alfabeto para as crianças desde a educação infantil. Uma atividade que pode ser realizada nos primeiros dias de ensino explícito sobre as letras na educação infantil é selecionar textos que citem sobre as letras e ao apresentar cada letra evidenciar o seu som. Dois livros que tratam desse tema são: “O batalhão das letras” de Mário Quintana e “Palavras, muitas palavras” de Ruth Rocha. Nessa atividade oral além de desenvolver a leitura em voz alta, excelente estratégia para aumento do vocabulário e compreensão leitora, ainda contribui para a apresentação do alfabeto. Lembre-se de selecionar as letras que serão apresentadas diariamente e sempre que aparecer a letra evidencie o seu som, prolongando-o. Em seguida peça para as crianças repetirem e dê novos exemplos de objetos que também começam com a letra evidenciada. Ao longo do tempo você verá que as crianças serão capazes de sozinhas identificarem objetos que começam com as letras apresentadas. | ||
2 - Conhecendo as frases e palavras com meus colegas | ||
Para desenvolver a habilidade da consciência de frases e palavras, ou seja, para a criança aprender que uma frase conta uma pequena história e que é composta por palavras que se separam você pode montar frases com as crianças. Por exemplo: diga uma frase para as crianças: “Eu gosto de chocolate” e em seguida selecione 4 crianças onde cada uma delas representa uma palavra da frase. Faça a contagem de palavras na frase e em seguida peça para eles montarem uma nova frase e escolha outras crianças para representarem as palavras. Comparem o tamanho das frases. Nesse tipo de atividade você pode mostrar que ao tirar uma criança e consequentemente, a palavra de uma frase, ela perderá o sentido. Esse tipo de atividade será útil futuramente, pois esse conhecimento evidencia que as frases não são cadeiras sonoras contínuas e são divididas em palavras, evitando, por exemplo, a aglutinação de palavras na escrita. Atividade semelhante pode ser feita para separar as sílabas de uma palavra e assim desenvolver a consciência de sílabas. | ||
3 - Nomeando objetos ao meu redor | ||
Resumidamente, a capacidade de nomear rapidamente objetos, cores, letras ou números, tem relação com a velocidade com que se acessa a informação disponível no nosso dicionário léxico mental que por sua vez, contribuirá com o desenvolvimento a leitura fluente durante a alfabetização. Para isso desenvolver atividades diversas que desenvolvam a nomeação rápida de objetos será útil ainda na educação infantil. Há meios formais de realizar esse tipo de atividade, mas para crianças na educação infantil você pode começar incentivando o rápido reconhecimento de objetos dispostos em uma fileira. Diga para a criança bater o olho e dizer prontamente o nome de cada um deles. O mesmo pode ser feito com cartões coloridos e a criança dizer o nome de cada cor. Aproveite todas as oportunidades para pedir para que a criança nomeie o que está vendo e não a deixe dizer palavras genéricas para objetos específicos, como “coisa”, “negócio”, “aquilo”, “isso”, etc. | ||
4 - Desenvolver a escrita, mas sem o lápis na mão | ||
A criança não precisa apenas copiar as letras com lápis na mão. Há outras atividades que auxiliam a memorização da forma gráfica das letras e a sua execução. Para isso você pode preparar um alfabeto de texturas, por exemplo, um alfabeto de lixa que pode ser produzido com E.V.A de brilho cortado com as formas das letras. Peça para a criança passar o dedo em cada letra. Essa atividade favorece a memorização motora da forma gráfica, adicionamos uma atividade sensorial a tradicional “escrita” das letras. | ||
5 – Atenção aos sons do ambiente | ||
A capacidade de reter e armazenar as informações por um curto período de tempo refere-se à memória fonológica ou também conhecida como memória de trabalho. Na alfabetização por exemplo, a memória fonológica será útil na decodificação de palavras novas, principalmente das longas, que são decodificadas pedaço por pedaço. É o desempenho da memória fonológica que permite que a criança lembre-se do que leu inicialmente e assim, una a palavra. E é fundamental para a aprendizagem da correspondência grafema-fonema (Gindri et al, 2007; Pinheiro, 1994). Uma forma divertida e ao mesmo tempo educativa para desenvolver essa memória é pedir para a criança se atentar aos sons que ela escuta habitualmente, por exemplo: selecione um período típico da rotina da criança, pode ser o horário do almoço, peça para a criança se lembrar do que ela escuta durante esse período. Ajude-a a nomear inicialmente e dê exemplos o que espera dela nessa atividade, diga por exemplo, que escuta o som da panela de pressão, o barulho da água saindo da torneira, o barulhos ao pegar os pratos e os talheres no armário, etc. Com o passar do tempo mude o ambiente e peça para a criança nomear outros momentos do seu dia. | ||
6 - Discriminação visual | ||
Atividades educativas em folha que favorecem o estímulo da discriminação visual também são excelentes para serem executadas na educação infantil. Podem ser realizadas em sala de aula ou em casa! | ||
Lembrando a frase de São Tomás de Aquino: | ||
“Nada está na inteligência, que antes nãotenha passado pelos sentidos”. | ||
Nos
anos iniciais da educação infantil as crianças são estimuladas a desenvolver os
sentidos, pois precisarão deles para desenvolvimento intelectual. Na abordagem
do presente artigo destaco o sentido da visão, afinal a criança precisará ter
uma boa discriminação visual para ler e escrever corretamente. Além do
conhecimento dos sons que as letras representam, ela precisará discriminar a
grafia entre elas, bem como ter uma boa condução do objeto da escrita, no caso
o lápis. E para isso atividades de traçado e discriminação visual de elementos
gráficos são aliados. | ||
· Exercícios de prontidão: tracejados | ||
Os extintos exercícios de prontidão, que são exercícios em folha que estimulam o traçado de linhas, apesar de serem pouco usados atualmente são excelentes para fornecer as bases para a caligrafia. Inclusive, Maria Montessori em seu livro “A descoberta da criança” incentiva que os traçados não sejam executados somente na direção habitual (da esquerda para direita ou de cima para baixo), mas que contemple também movimentos contrários e anti-horários, pois segundo ela no momento da escrita das letras a criança precisará das voltas contrárias ao sentido habitual e treinar previamente ajudará no desenvolvimento e memória motora. | ||
· Exercícios de discriminação visual | ||
Os exercícios de análise ou análise e síntese que estimulam a discriminação visual são úteis para a diferenciação entre os objetos e permite que as crianças analisem e comparem os elementos gráficos. Essa comparação posteriormente pode ser estendida para a escrita, ao se tornar consciente de que cada traço é capaz de mudar uma letra, por isso, nesse caso os detalhes importam e aprender a analisar é útil para isso. Diversas atividades podem ser desenvolvidas com esse intuito e algumas delas estão presentes no material que preparei e está disponível no final do artigo. | ||
· Exercícios de orientação espacial | ||
Os exercícios de orientação espacial auxiliam a criança a identificar que além dos detalhes que compõem as imagens, a direção também importa. Ou seja, que um objeto pode estar de ponta cabeça, virado para a direita ou esquerda, ainda que ele seja o mesmo objeto, mas a direção se altera. No caso das letras esse conhecimento auxiliará a discriminar entre formas semelhantes, mas que mudam de direção. Como é o caso de p, b, q, d, embora somente essa discriminação não seja suficiente, pois já é sabido que a criança em fase de alfabetização vive uma “fase do espelho” conforme apontado por Dehaene em seu livro “Os neurônios da leitura”, quando o cérebro do aprendiz leva um tempo de exposição para se habituar e estima-se que leve cerca de 2 anos desde o início da apresentação das letras para que isso se consolide. No entanto, é sabido também que exercícios de orientação espacial e discriminação visual auxiliam e podem diminuir as confusões durante a alfabetização. | ||
· Exercícios de sequência lógica/temporal | ||
Os exercícios de sequência lógica/temporal auxiliam a criança a ordenar ações seja para identificar a sequência de objetos ou para ordenar ações cotidianas em uma ordem temporal. Essas atividades favorecem a organização de ideias que serão úteis posteriormente para a produção oral e escrita durante a alfabetização. | ||
Para você se aprofundar no tema do ensino formal desde a educação infantil até a fase da alfabetização recomendo que participe das aulas gratuitas que vou liberar nos dias 10 a 13 de julho: SE INSCREVA AQUI! | ||
Nestas aulas tratarei de forma mais sistemática os temas apontados aqui e a importância de cada um deles para a alfabetização correta e eficiente de uma criança. | ||
Referências | ||
Gindri G, Keske-Soares M, Mota HB. Memória de trabalho, consciência fonológica e hipótese de escrita. Pró-Fono Rev Atual Cient. 2007;19:313-22 | ||
Mecca, T. P.; Moura-Antonio, D. A.; Macedo, E. C. 2012. Desenvolvimento da inteligência em pré-escolares: implicações para a aprendizagem. Ver. Psicopedagogia, 29(8), 66-73. | ||
Moraes, A. 2012. Sistema de escrita alfabética. Melhoramentos. Morais, J. 2003. A arte de Ler. Unesp. | ||
National Early Literacy Panel (Nelp). Developing early literacy: a scientific synthesis of early literacy development and implications for intervention. Washington: National Institute of Literacy; 2008. | ||
Norton E, Wolf M. Rapid Automatized Naming (RAN) and reading fluency: implications for understanding and treatment of reading disabilities. Ann Rev Psychol. 2012; 63:427-52. | ||
Pinheiro AMV. Leitura e escrita: uma abordagem cognitiva. Campinas:Psy II;1994. |