Muito mais grave que a falta de voz é a falta do que falar
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Muito mais grave que a falta de voz é a falta do que falar

a manutenção de Lula como candidato, na minha opinião, será um indício incontestável de que algo errado não está certo neste processo eleitoral...

HS Naddeo
8 min
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Crédito imagem: site Poder 360
Crédito imagem: site Poder 360

Chamado por Ciro Gomes de "encantador de serpentes" durante o debate da Band, a verdade é que Lula já não encanta nem minhocas.

Lula sabe que não ganha essa eleição nem no voto, muito menos no gogó. Se antes ele encantava multidões com seus discursos bravateiros, hoje, se a plateia não for paga e controlada, usando seus argumentos e contando suas mentiras, ele é incapaz de convencer até animais descerebrados a lhe darem o voto. Os eleitores de Lula são aqueles que foram encantados por ele no auge de sua mentirologia e os que foram doutrinados nas escolas e universidades por professores. Se dependesse do próprio Lula para convencer a juventude que declara voto nele, isso não aconteceria.

O debate promovido pela Band e seus parceiros foi um divisor de águas para Lula e para o PT, e tão logo acabou a realidade se abateu sobre a tropa de choque. Quase que imediatamente a presidentE do PT disse que o partido avaliaria novas participações de Lula em debates. Afirmou que as regras não beneficiaram o debate. Mas não disse que a assessoria petista participou e concordou com a formulação das regras. O debate foi realizado no dia 28 de agosto, e 4 dias depois a imprensa já alardeava o comunicado de Lula de que precisará ficar sem falar 1 mês para recuperar a voz. Coincidência, ou não, falta exatamente 1 mês para o primeiro turno das eleições.

Lula não tem o que dizer. Lula não tem como se defender dos ataques que sofreu no debate, e foi atacado por todos os adversários. Bolsonaro também foi atacado pelos oponentes, mas com uma diferença fundamental: todos os ataques a Bolsonaro foram baseados em notícias e falas que não se comprovaram e não se comprovam com fatos e resultados, foram insinuações, acusações sem prova alguma. Já contra Lula não há o que não se comprove. Lula passou 580 dias na cadeia. Por mais que diga que foi inocentado pela justiça e até absolvido por Deus, todo mundo sabe, inclusive quem vota nele, que seus processos foram oportunamente anulados, sem que sua inocência tivesse sido atestada por nenhum órgão da justiça. Usou a ONU como escudo. Mas a ONU não é a justiça brasileira, o órgão da ONU que "teria" atestado sua inocência é absolutamente de esquerda e o que ele diz, decreta ou decide, não tem poder de lei ou influência na justiça brasileira. E ponto final.

Quem me lê sabe que eu acredito que Lula desistirá da corrida eleitoral e que, para isso, precisará de uma desculpa  que o torne mártir e, com isso, possibilite que ele transfira votos para um poste indicado de última hora. Como sempre disse, essa desculpa precisaria vir de um impedimento judicial, via STF ou TSE, ou de uma questão de saúde. Lula não pode simplesmente desistir, e muito menos pode fazer isso agora. É fundamental manter a militância ativa até o último momento, a sobrevivência do PT e da esquerda depende disso. Se resolvessem indicar um "poste" faltando ainda um mês para a eleição, os eleitores da esquerda teriam tempo de pensar, analisar o "poste" escolhido, os adversários teriam condições de combater e rebater as qualidades deste "poste" e a chance de esvaziamento seria gigante. Já uma escolha em cima da hora, baseada em um martírio qualquer de Lula, teria a capacidade de manter o eleitorado petista aglutinado e eliminaria a possibilidade desse "poste" ser eficientemente atacado.

Independente do que possa mostrar qualquer pesquisa eleitoral, está mais do que claro que, no voto, em uma eleição limpa, Lula não tem a menor chance de voltar à presidência da república. Para atingir este objetivo o processo eleitoral de 2022 precisará de interferências externas, entre as quais, neste momento, eu, pessoalmente, descarto a possibilidade de fraude nas urnas (o que também não significa que seria impossível). Como interferências externas, me refiro especificamente às ações do TSE, cuja composição atual já deixou mais do que evidente que é capaz de tudo, inclusive de agir para impugnar a candidatura de Bolsonaro. E como já disse anteriormente, quem sabe impugnar Bolsonaro e Lula e tentar fazer esta eleição cair no colo de Ciro Gomes, que, na falta dos dois, seria o candidato com maiores possibilidades de ganhar a eleição. Outra possibilidade continua sendo eliminar Jair Bolsonaro, até mesmo desta existência terrena.

Não pode ser realista que Lula e o PT acreditem, de fato, que são capazes de ganhar a eleição presidencial se realizada de maneira limpa e sem as tais interferências externas. Portanto, a manutenção de Lula como candidato, na minha opinião, será um indício incontestável de que algo errado não está certo neste processo eleitoral. Lula e o PT não se arriscariam a uma derrota fragorosa, não apenas pela derrota em si, mas porque uma derrota certa de Lula significaria a derrota de toda a esquerda brasileira que o têm como símbolo. Seria a derrota da ideologia, das propostas socialistas/comunistas, do Foro de São Paulo, dos grupos socialistas/comunistas da América Latina que depositam na vitória de Lula suas próprias chances de sobrevivência política e financeira. Porém, se substituído por um "poste", a derrota deste, ancorada na ideia de um martírio de Lula que o tenha impedido de disputar a eleição, ao invés de destruir a esquerda latino americana, reforça o discurso contra a direita e o conservadorismo, e gera retórica para pelo menos mais 40 anos, devendo, inclusive, influenciar mais significativamente nas eleições brasileiras de 2026, que não terá mais Bolsonaro como candidato.

Lula não tem mais o que falar, o que prometer, é incapaz de defender seu passado, de se defender da realidade que o rodeia e por isso mesmo faz uma campanha que só tem ameaças contra tudo e todos. Lula não quer ser presidente. Ele quer se vingar do Brasil.

O verdadeiro inimigo do Brasil neste momento não é Lula, mas quem pode fazer com que Lula vire presidente a despeito do que pensa e quer a maioria da população brasileira. E ele não é apenas um inimigo no sentido eleitoral. Desde que passou a sentar em uma cadeira amarela da mais alta instância da justiça este inimigo fez com que esta instância desse uma guinada de 180 graus em suas decisões, monocráticas e colegiadas, fazendo com que o país chegasse na insegurança jurídica que se encontra neste momento. Age à revelia da Constituição Federal e dos Códigos Penal e Eleitoral, ameaça, persegue e prende cidadãos sem provas, ameaça o estado democrático de direito, passa por cima do processo acusatório, faz chacota e ignora o Ministério Público Federal, amedronta e ameaça a população, cria um serviço secreto incompatível com o sistema jurídico do país, nega aos acusados acesso aos autos dos processos em que são investigados, cria e suprime leis, suprime direitos constitucionais básicos de qualquer democracia, e faz tudo isso sem ter recebido um mísero voto.

Só para lembrar a ascensão deste pessoa ao cargo que ocupa, foi nomeado secretário de justiça de São Paulo por Geraldo Alckimin no auge dos ataques do PCC em 2002, quando um acordo foi estabelecido com a facção criminosa. Até sua nomeação para a secretária de segurança de São Paulo (o, hoje, togado) foi defensor de uma cooperativa de transportes acusada de lavar dinheiro da facção criminosa em 123 processos. Curiosamente, em 2007, foi nomeado exatamente Secretário Municipal de Transportes por Gilberto Kassab. Dali voltaria a ser nomeado por Geraldo Alckmin para ser Secretário Estadual de Segurança Pública, e ficou até ser nomeado Ministro da Justiça por Michel Temes após ter resolvido o problema de chantagem do hacker que invadiu o celular de Marcela Temer, cuja trama eu descrevi no artigo "A primeira dama, o hacker e o "herói" que virou juiz", e que com a estranha e em hora inapropriada morte do ministro Teori Zavascki o levou a sentar na cadeira amarela que o o falecido ocupada. E foi a partir aí que começou a guinada de 180 graus da corte que, entre tantos absurdos, revogou a prisão após condenação em segunda instância e a soltura de Lula.

Portanto, se Lula é um fantasma eleitoral ainda encarnado, ele é apenas o sentido figurado da verdadeira ameaça ao Brasil e à já tão combalida democracia brasileira. E se Lula realmente resolver levar sua candidatura até o fim é porque ele tem certeza de algo que não sabemos, e é isso que temos que verdadeiramente temer. O ex-encantador de serpentes não é a grande ameaça. A ameaça está no desencantador da justiça. Lula, com voz ou sem voz, não tem mais nada a dizer que já não esperemos ou estejamos cansados de saber.

Fico no aguardo do martírio, de Lula se desistir, ou do nosso próprio martírio se ele permanecer na corrida eleitoral até o fim, pois, se ficar mesmo, devemos elevar nosso medo a enésima potência, e os aeroportos passarão a ser a única saída viável para qualquer brasileiro que não tenha a intenção de ficar impossibilitado de ter papel higiênico em casa.

O problema não é a justiça. É quem cuida dela.


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