O semipresidencialismo dos semideuses para semicidadãos
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O semipresidencialismo dos semideuses para semicidadãos

O desprezo pela Constituição Federal tem sido a marca dominante do legislativo e do judiciário brasileiros, especialmente nos últimos 5 anos.

HS Naddeo
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Ao longo das últimas décadas temos nos acostumado com o uso do prefixo “semi”, sendo um bom exemplo disso o conceito de carros seminovos, cujo entendimento nada mais é do que “como se novo fosse".

Nas várias definições encontradas nos dicionários são unânimes definições de “semi” que denotam noções como “metade e quase”, dando como exemplos as palavras semifinal, semirreta, semi-integral. Pessoalmente defino no português claro como “algo que parece ser, que insinua ser, finge ser”, mas que, de fato, não é. Quase uma pegadinha gramatical que indica uma semiverdade. E é exatamente essa a ideia do tal semipresidencialismo, termo que não foi cunhado e está sendo alardeado ao acaso por togados, políticos e pela semi-imprensa.

Em 1993 tivemos um plebiscito que nos dava a opção de mudar o sistema de governo, tendo como propostas o presidencialismo, o parlamentarismo e a monarquia. Venceu o presidencialismo, referendando o que já havia sido definido como regime de governo na Constituição Federal de 1988. E os constituintes, aqueles que escreveram a constituição, entenderam que isso era tão importante que só deixaram duas opções para mudar o regime de governo: ou através de um plebiscito (realizado em 1993 é mantido o presidencialismo) ou a elaboração de uma nova constituição federal. Ou seja, qualquer alternativa fora desses dois parâmetros é um golpe.

O desprezo pela Constituição Federal tem sido a marca dominante do legislativo e do judiciário brasileiros, especialmente nos últimos 5 anos. Criação, alteração e acréscimos de leis que mudam profundamente o ordenamento jurídico com a única finalidade de impedir que as leis, até então em vigor, promovam as devidas punições a toda espécie de corruptos, passando a punir quem se propõe a investigar e julgar bandidos do colarinho branco.

Do lado do judiciário a reinterpretação das leis e da jurisprudência vigentes, além da invenção de crimes e leis que não encontram respaldo na constituição e nem em uma linha sequer dos códigos civil e penal. São os semideuses, que apesar da conotação do “quase” que o prefixo imputa à palavras, agem com a certeza de que são realmente deuses, com a tranquilidade de que os senadores, únicos com poder de puní-los, não o farão, pois fazem parte da mesma quadrilha que gera tal corporativismo. Assim, semideuses, ninguém será capaz de punir seus desvios, por mais escandalosos que sejam.

O semipresidencialismo “vomitado pelas togas”, cuja função não é fazer leis, mas cumprí-las e fazer com que sejam cumpridas, na estrita forma como foram escritas, é, na verdade, o projeto de uma semidemocracia, pois nenhum deles tem a coragem de dizer que o fundamento dessa balela é dificultar a reeleição do atual presidente, ou ao menos retira dele poderes caso seja reeleito, e facilitar a implantação do socialismo no Brasil, transformando a figura do presidente da república em um cargo decorativo, transferindo os poderes e deveres do executivo para um primeiro-ministro que seria escolhido pelos deputados federais e senadores, alijando de vez os cidadãos/eleitores do processo de escolha do comandante da nação.

A primeira é importante pergunta que me vem à cabeça é se estariam fazendo todo esse conluio e essas manobras se o presidente eleito com mais de 57 milhões de votos não  fosse Jair Bolsonaro ou outro qualquer que não representasse a esquerda. E respondo que não. Um presidente de esquerda, especialmente se fosse do PT, PSOL ou outro puxadinho do tipo teria feito essas manobras à caminho do socialismo sem precisar passar por essas ideias alegóricas de semipresidencialismo. Mas é Bolsonaro ainda por cima, e está fazendo uma boa gestão com o carimbo da direita. Então, seja qual for a resposta, é ele o ponto central que embasa o desespero para tentar impôr o semipresidencialismo  aos cidadãos brasileiros.

Disso, tiro uma segunda pergunta tão importante quanto, que é entender o porquê Jair Bolsonaro é uma pedra tão incômoda nos sapatos desses políticos e togados. E a resposta é tão simples e óbvia que eu nem precisaria escrever, mas vamos lá. Bolsonaro é o impedimento saído das urnas, dentro do regime presidencialista, para a implantação da agenda socialista que nos igualaria à Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia através do caminho pelo qual atravessa a Argentina nesse momento.

Todos esses movimentos transfigurados de “defesa da democracia”, e que possibilitam aos parasitas dos cofres públicos terem a cara de pau de falar em tais projetos totalitários apoiados pela semi-imprensa maldita que ajudou substancialmente a chegarmos ao ponto que chegamos, só são possíveis porque já somos um país de semicidadãos. E mesmo que muitos tenham acordado para essa realidade e lutem contra ela, nitidamente não é possível afirmar que todos estejam contidos no conjunto dos 57 milhões de brasileiros que elegeram Bolsonaro. Prova disso é a quantidade de pessoas que sucumbiram às seminotícias e ao sensacionalismo da semi-imprensa veiculadas nesses quase 3 anos da gestão Bolsonaro.

A semicidadania praticada pelo povo brasileiro começa pelo voto obrigatório, que leva as pessoas às urnas pela obrigação de votar e pelas punições oriundas do não cumprimento desse dever, e não, necessariamente pela convicção do poder e do valor do seu voto, tanto que grande parte do povo pouco se importa se o voto é no papel ou eletrônico, fraudável ou não, porque é incapaz de reconhecer o valor desse ato e seus reflexos em suas próprias vidas.

O semicidadão não se incomoda que seus filhos sejam semi-educados por militantes de esquerda travestidos de semiprofessores nas escolas, trata como normal estar semiseguro nas ruas e dentro de sua própria casa, acostumou-se a ser semiatendido na rede pública de saúde, não se incomoda com a semiqualidade da infraestrutura urbana que lhe é entregue pelos municípios e estados, acha que ter um semi-emprego que garanta o básico do sustento da família e a cerveja do fim de semana é suficiente e está se habituando que semigêneros sexuais representam a normalidade biológica do ser humano, e aceita e aplaude que bandidos sejam semicondenados e semipunidos por semideuses empenharia na construção de um semipresidencialismo que os elevará da condição de semifodidos para fodidos por completo, pois não tem a menor ideia do que tudo isso significa.

Porém, se é possível usar o prefixo “semi” para maquiar ideias, fantasiar conceitos, disfarçar a realidade e enganar pessoas, informo que ele não se aplica a conceitos como semibandidos, semiladrões e semigolpistas. Bandido continua sendo bandido, ladrão continua sendo ladrão e golpista continua sendo golpista. E enquanto não sairmos da condição de semicidadãos, os semideuses de toga serão capazes de tudo.

Não dá mais para vivermos semi-acordados, ou amanheceremos um dia desses com um semipresidente sem poderes e um primeiro-ministro implantando o socialismo no Brasil à revelia do que manda a Constituição Federal. Ou já seria ela uma semiconstituição?

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