Apesar do tema ter sido explorado algumas milhares de vezes nas mais diversas formas de expressão artística, o romance proibido não ganha o protagonismo do filme. Ele é até meio apressado tendo em vista a duração de mais de duas horas. Está longe de
A primeira pergunta que é feita quando os rumores de remakes surgem é “será que vale a pena?”. Quando o filme refilmado já é uma adaptação de um sucesso da Broadway e foi vencedor de nada menos do que 10 estatuetas do Oscar, além de ser um marco para o gênero de musical, as dúvidas são elevadas à quarta potência. Foi exatamente esse o risco que Steven Spielberg correu ao fazer uma nova versão de Amor, Sublime Amor. Alguns entusiastas desse tipo de empreitada cinematográfica argumentam que os remakes são necessários para fazer a obra mais palatável a um público novo. Os críticos afirmam e reafirmam que as grandes obras são atemporais e que o cinema não é uma arte descartável. Confesso que entendo os dois lados, mas que também não tenho uma opinião fechada sobre o assunto. Eu sou muito mais dependente do produto final e neste caso posso dizer: o Amor, Sublime Amor de 2021 é um filme necessário. | ||
Aos 75 anos Steven Spielberg não precisa provar nada a ninguém com uma das carreiras mais sólidas da indústria cinematográfica. No entanto, ele se dispôs a fazer um musical, o primeiro da sua trajetória. Não foi qualquer musical e sim uma refilmagem de Amor, Sublime Amor de 1961 de Jerome Robbins e Robert Wise. Fã declarado do filme, o diretor foi muito responsável com sua produção, uma vez que atualizou alguns pontos relevantes, mas de forma singela, sem ferir o material original. Contudo, antes de entrar nesses méritos é preciso contextualizar a obra caso você nunca tenha ouvido falar. Duas gangues rivais brigam em uma Nova Iorque de 1957 pelo domínio do bairro que antes era lar das famílias de origem irlandesa e agora abriga cada vez mais imigrantes porto-riquenhos. Nesse conflito surge um amor impossível entre Tony, o ex-líder dos Jets, a gangue dos brancos, e Maria, irmã mais nova do chefe dos Sharks, a gangue latina. É uma clara inspiração no romance de Romeu e Julieta de Shakespeare. | ||
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Apesar do tema ter sido explorado milhares de vezes nas mais diversas formas de expressão artística, o romance proibido não ganha o protagonismo do filme. Ele é até meio apressado tendo em vista a duração de mais de duas horas. Está longe de ser desinteressante também, porém, há vários pontos positivos na produção que fazem com que ele seja secundário. Um elemento central que permeia todo o filme é a gentrificação, o bairro aparece sempre destruído e com obras que vão alocar uma nova classe média em nome de uma suposta revitalização do West Side. As próprias tomadas do alto são opressoras, mostrando a insignificância desses pobres jovens futuramente desalojados quanto a pouca relevância da própria guerra entre as gangues. Porque brigar se em breve nenhum dos dois lados terá um território para chamar de seu? Portanto, a história de amor trágica de Maria e Tony é um meio de refletir como a violência é perpetuada pelos próprios violentados, em um ciclo que infelizmente parece interminável em vários momentos. | ||
Voltando às questões de atualidade que Spielberg e o roteirista Tony Kushner conseguiram alcançar com maestria, o primeiro destaque é a escalação do elenco com representatividade. Dentro do núcleo porto-riquenho temos atores e atrizes de ascendência latina, diferente do original no qual a prática de brownface foi utilizada. O personagem Anybodys, interpretado por Ezra Menas, não é apenas uma menina que quer fazer parte dos Jets como em 1961, mas um homem trans que se sente parte da gangue por mais que os outros não o respeitem. Por falar em interpretações, é preciso destacar Ariana DeBose, que faz o papel de Anita, cunhada e melhor amiga de Maria. Ela é disparada a personagem que mais brilha no filme, chegando a dar a impressão que outras escolhas possam ter sido equivocadas. No entanto, não acredito nisso. O fato é que Ariana conseguiu alcançar um patamar incrível. Rachel Zegler, Ansel Elgort, Davi Alvarez, Mike Faist e até Rita Moreno, a Anita do filme original, também integram o bom elenco. | ||
Reafirmando a versatilidade característica do seu trabalho, Spielberg entregou um musical capaz de andar lado a lado com o filme original e de atrair o público que não é fã do gênero. Através de uma linguagem de expressão emocional e meditativa, Amor, Sublime Amor engloba tanto qualidades técnicas quanto narrativas envolventes, assertivas e, com o perdão do trocadilho, sublimes. | ||
FICHA TÉCNICA | ||
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