Invencível - uma homenagem visceral
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Invencível - uma homenagem visceral

Os criadores juntaram todos os pontos que gostam em histórias de super-heróis e inseriram a violência para questionarem alguns pontos. Ela é mais um tributo exageradamente visceral do que uma obra cínica.

Caio Cidrini
5 min
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Muito do que vemos no começo de Invencível parece ser repetição de tudo que já vimos nas obras de super-heróis, especialmente as da DC e da Marvel. Um grupo de superpoderosos responsável por defender a Terra, os Guardiões do Globo, recheado de referências à Liga da Justiça, inclusive nos seus componentes, uniformes às vezes extravagantes e um adolescente que descobre que está desenvolvendo superpoderes e precisa lidar com eles como em Homem-Aranha. Porém, isso é só um pano de fundo que já foi criado por gente da estirpe de Will Eisner, Stan Lee, Jack Kirby, Bob Kane, Joe Shuster entre tantos outros envolvidos no universo dos quadrinhos. Não é preciso investir tempo para explicar o que são heróis, como eles se reuniram, o que é cada poder ou como eles vivem entre os seres humanos normais, cada um de nós já temos essas referências.

A similaridade fica na utilização desse contexto, uma vez que logo no primeiro episódio há uma reviravolta que nos faz entender que a história de Invencível vai muito além disso. Mas antes de comentar os aspectos da série, é importante entender sua origem. Invencível é uma HQ criada por Robert Kirkman que foi publicada de 2003 a 2018 pela Image Comics. Tanto a editora quanto o autor, que também é roteirista da série, são os mesmos dos quadrinhos de The Walking Dead que foi a primeira adaptação de sucesso de Kirkman. Em Invencível acompanhamos a história de Mark Grayson, filho do super-herói mais forte do planeta. Além de lidar com essa responsabilidade, ele ganha seus poderes com 17 anos e precisa aprender a usá-los, proteger sua identidade e viver todos os dramas que essa idade oferece. Seu objetivo é seguir os caminhos do pai, o Omni-Man, uma espécie de Super-Homem, um extraterrestre com força e velocidade sobre humanas, além de poder voar.

Como em The Walking Dead, que apesar do apocalipse zumbi foca nas relações humanas e mostra que muitas vezes a luta pela sobrevivência pode ser mais cruel do que um morto-vivo, Invencível é sustentado pelos superpoderes e batalhas, mas é sobre relacionamentos. De Mark com seu pai, de uma mãe sem poderes com um marido e um filho super-heróis, de adolescentes que namoram, de amigos e até do governo com a sociedade. Além disso, a série também põe em xeque o legado dos super-heróis e para essa reflexão lança mão de um elemento narrativo que não é comum ao gênero: a ultraviolência. E quando uso ultra, não estou sendo leviano. Há miolos explodindo, estranhas voadoras, ossos quebrados e sangue. Muito sangue. Um show de gore que nenhum fã desse subgênero pode por defeito. Chega a ser um pouco perturbador para pessoas mais sensíveis. Por isso é bom lembrar que a classificação indicativa é de 18 anos, nada de assistir com crianças, viu?

Sangue é uma constante em Invencível
Sangue é uma constante em Invencível

Essa violência serve para levantar dois pontos, sendo o primeiro a consequência dos superpoderes. Quando há uma invasão alienígena ou um super vilão com planos mirabolantes, mesmo que a intenção do super-herói seja minimizar os riscos, há morte, há destruição. Logo, nem sempre um super-herói é suficiente e por mais que a intenção seja boa, sempre vai existir um rastro de vidas perdidas. São os efeitos colaterais dos combates e o impacto dos superpoderes. O segundo ponto é o próprio poder, aqui como influência e valimento, não habilidade, que os super-heróis possuem. O quê impede que uma dúzia de seres abastados de aptidões especiais tornem-se tiranos e escravizem os meros mortais? A linha tênue entre proteção e autocracia é uma constante.

Por esses motivos há quem compare Invencível com The Boys, outro quadrinho que foi adaptado pelo Prime Video da Amazon. A plataforma de streaming, o universo dos super-heróis e a violência são sim fatores de aproximação, no entanto, eu acredito que os meios são diferentes. The Boys subverte a ordem do gênero com personagens de caráter duvidoso. Ela é uma obra cínica que trata os heróis como caricatura que podem até nos levar a mesma reflexão de Invencível. Já na animação, há uma certa homenagem. Os criadores juntaram todos os pontos que gostam em histórias de super-heróis e inseriram a violência para questionarem alguns pontos. Ela é mais um tributo exageradamente visceral do que uma obra cínica. 

Por fim, falando brevemente sobre aspectos técnicos, há uma certa memória das animações do final dos anos 90 e início dos 2000 como X-Men: Evolution. Ela é menos fluida que obras que vemos hoje em dia, mas isso não diminuiu em nada minha experiência. Já a dublagem é recheada de estrelas que dão muita vida ao desenho. Steven Yeun, J. K. Simmons, Sandra Oh, Clancy Brown, Zazie Beetz, Mark Hamill, Seth Rogen, Jason Mantzoukas, Mahershala Ali e outros. Com tanta gente boa é impossível não admirar as vozes e interpretações.

FICHA TÉCNICA

  • Direção: Chris Copeland e Justin Copeland
  • Roteiro: Robert Kirkman
  • Ano: 2021
  • Nacionalidade: EUA
  • Duração: 45 minutos por episódio (8 episódios)
  • Classificação: 18 anos

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