M&A Case: A aquisição da Activision pela Microsoft e a decisão da CMA
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M&A Case: A aquisição da Activision pela Microsoft e a decisão da CMA

Uma das maiores operações de M&A em 2022, foi a compra da Activision Blizzard pela Microsoft e ela foi bloqueada pelo órgão do reino unido.

Rafael Ribeiro
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Uma das maiores operações de M&A em 2022, foi a compra da Activision Blizzard pela Microsoft, entretanto, essa operação vem enfrentando algumas batalhas devido à necessidade de aprovação pelos órgãos de análise sobre fusões, aquisições e outros atos que possam haver concentração econômica entre grandes empresas e possam colocar em risco a livre concorrência (monopólios, por exemplo).

Devido ao impacto da operação, uma vez que a Activision Blizzard é uma das três maiores desenvolvedoras de jogos do mundo, órgãos fiscalizadores tem que investigar e analisar se a operação de fato é viável e não gera impacto relevante sobre o mercado.

O nosso Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já aprovou a compra.

A Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA) órgão equivalente ao CADE, vêm analisando essa operação desde de quando ela foi anunciada para aprova-la ou rejeita-la.

Hoje (26/04), a CMA concluiu sua investigação sobre a aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft e decidiu pelo bloqueio da fusão, pois ela levaria a uma redução substancial da concorrência principalmente no mercado de jogos em nuvem em virtude do serviço Xbox Game Pass da Microsoft.

Os argumentos utilizados foram de que a Microsoft já tem uma posição forte neste mercado e a fusão tornaria a empresa ainda mais forte, reduzindo substancialmente a concorrência. A Microsoft chegou a propor algumas medidas para compensar essas preocupações, mas a CMA encontrou várias deficiências nelas. Como resultado, a CMA decidiu que a única solução efetiva para a redução substancial da concorrência em serviços de jogos em nuvem é proibir a fusão. A decisão destaca a importância da avaliação cuidadosa de fusões na indústria de jogos, especialmente em mercados em rápido movimento, como jogos em nuvem.

Desenvolvimento da Indústria

A indústria de jogos eletrônicos tem previsão para gerar mais de $ 220 bilhões em receitas em 2023, a título de comparação, a indústria cinematográfica gerou em 2022 $ 77 bilhões, daí a importância da análise e investigação de operações como essa que pode impactar negativamente o consumidor final e a livre concorrência.

A ascensão dos jogos em nuvem tem mudado a forma como as pessoas acessam e jogam. Isso permite que jogadores joguem sem a necessidade de comprar um console ou um PC, em vez disso, o jogo é armazenado e renderizado em nuvem, e os jogadores podem transmiti-lo via conexão de internet para uma variedade de dispositivos, incluindo consoles, PCs comuns, smart TVs, tablets, celulares e outros dispositivos. Embora os jogos em nuvem ainda sejam pequenos em comparação aos jogos tradicionais de console e PC, é uma indústria em crescimento que promete muito, atraindo investimentos significativos. Somente no Reino Unido, segundo dados da CMA, o mercado de serviços de jogos em nuvem poderá valer mais de £1 bilhão em 2026.

Call of Duty e Sony

A CMA avaliou se a fusão proposta entre Microsoft e Activision poderia reduzir substancialmente a concorrência no mercado, pois a Microsoft já é líder de mercado em jogos em nuvem e possui um dos três principais consoles de jogos e o principal sistema operacional de PC. A aquisição da Activision é estratégica, pois ela é uma das principais editoras de jogos e produz jogos como Call of Duty, que desde 2003, segundo a própria Activision, gerou $30 bilhões em receita para a empresa, sendo uma das franquias mais rentáveis do mundo dos games.

A CMA entendeu que a Microsoft poderia prejudicar sua principal concorrente (Sony) se optasse por ter exclusividade sobre o jogo mais popular da Activision, Call of Duty, principalmente se inserisse a franquia no seu serviço de jogos em nuvem (Xbox Game Pass). Nesse caso, a Sony muitos usuários e dinheiro por não ter a franquia e também não ter um serviço de jogos em nuvem como o Game Pass, a Microsoft perderia dinheiro com a não realização de vendas no console da Sony, mas compensaria essa perda com a assinatura de novos planos de seu serviço de jogos em nuvem. O órgão também reconheceu que a Sony possui uma base de usuários de consoles bem maior do que a Microsoft.

A CMA investigou ainda se outros jogos da Activision são tão importantes quanto Call of Duty para avaliar se em caso de prosseguimento da fusão, qual seria o impacto da exclusividade desses jogos frente a capacidade de seus concorrentes de competir e qual seria o prejuízo para os consumidores do Reino Unido.

Como foi feita a análise e investigação da CMA?

A investigação da CMA envolveu uma análise aprofundada de mais de três milhões de documentos internos de negócios da Microsoft e da Activision, incluindo documentos estratégicos e comunicações por e-mail entre seus executivos, bem como a realização de audiências com executivos das empresas e outros importantes players da indústria, como Nintendo, Sony, Nvidia, Amazon e Google. A CMA também realizou uma pesquisa on-line com a ajuda de uma empresa independente de pesquisa de mercado. Além disso, a autoridade de concorrência levou em consideração o contexto internacional e consultou outras autoridades de concorrência, incluindo as da União Europeia e dos Estados Unidos.

Preocupações da CMA

As preocupações da CMA incluíram a falta de abrangência da proposta da Microsoft em relação aos diferentes modelos de negócios de serviços de jogos em nuvem, a falta de abertura para fornecedores que desejasse oferecer versões de jogos em sistemas operacionais de PC diferentes do Windows e a padronização dos termos e condições nos quais os jogos estão disponíveis, em vez de serem determinados pela dinâmica e criatividade da concorrência no mercado.

Conclusão

A conclusão da CMA foi que a fusão consolidaria ainda mais o poder da Microsoft, líder do mercado, tornando mais difícil para novos desafiantes se desenvolverem e para os consumidores se beneficiarem da inovação e escolha que a concorrência traz. A solução apresentada pela Microsoft substituiria processos competitivos já existentes, que estão impulsionando as mudanças emocionantes em um mercado em rápida evolução com dez anos de obrigações regulatórias. A CMA acredita que a fusão seria prejudicial à concorrência e que a melhor maneira de abordar isso seria permitir que os impulsionadores existentes da concorrência continuem a fornecer benefícios para os consumidores no Reino Unido.

Se você tiver interesse em ler todo o relatório da CMA é só clicar aqui.

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