Encontros #01 | O jeito “Se Mudando” de acreditar e lutar por uma nova realidade!
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Encontros #01 | O jeito “Se Mudando” de acreditar e lutar por uma nova realidade!

Você já parou para pensar um mundo em que não existissem pessoas em situação de rua? 

Júlia Custódio
11 min
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Logotipo do Se Mudando
Logotipo do Se Mudando

Você já parou para pensar um mundo em que não existissem pessoas em situação de rua? 

Pode até parecer um mundo utópico, mas o Se Mudando escolheu acreditar e lutar por essa realidade!

O Se Mudando é um instituto do terceiro setor, localizado no município de São Carlos. Foi fundado no ano de 2018, por quatro estudantes do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que pertenciam a um grupo de extensão, ensino e pesquisa, conhecido por Pet Produção. Atualmente, o instituto tem como missão “quebrar barreiras e participar da mudança na vida de pessoas com trajetória de rua ao fomentar sua reinserção na sociedade”.

Unidos por uma paixão em comum, gerar impacto positivo na vida de pessoas em situação de rua, por meio da resolução de um problema real que atinge esta parcela da população pouco vista e marginalizada da nossa sociedade, o Se Mudando acredita que o Empreendedorismo de Impacto, pode ser a chave!

Adequando a metodologia do Rapid Re-Housing, o instituto planeja alugar, por tempo predeterminado, casas individuais para pessoas em situação de rua do município de São Carlos. Para além da moradia, a metodologia engloba visitas regulares, apoio médico e psicológico, e incentivo ao desenvolvimento pessoal dos assistidos pelo programa, conforme as suas necessidades.

O Rapid Re-Housing, diferentemente das demais abordagens voltadas para a população em situação de rua, disponibiliza primeiramente uma casa para que os assistidos tenham maior facilidade em se reinserir na sociedade. Tal metodologia, pertence ao modelo Housing First, idealizado pelo psicólogo norte americano, Sam Tsemberis, tendo como base, que com uma moradia, a pessoa conseguiria uma maior estabilidade para se estruturar, buscar empregos, criar vínculos, transparecer sua identidade e, somente assim, recompor-se emocionalmente e socialmente dentro da estrutura social hoje vigente.

No Brasil, o Projeto RUAS foi pioneiro na aplicação do método, no entanto, o Se Mudando é o primeiro projeto do país a aplicar a variação do modelo por meio do Rapid Re-Housing. Diferentemente do Se Mudando, a ideia do RUAS é mobilizar e treinar comunidades auto-organizáveis para aplicarem a metodologia em suas regiões.

Afinal, quem são as pessoas em situação de rua hoje no Brasil?

De acordo com uma lei nacional, o decreto n° 7.053 de 2009, as pessoas em situação de rua são compostos por um grupo heterogêneo, isto é, pessoas de diferentes faixas etárias que constituem vivências distintas e que estão nessa situação pelas mais variadas razões. Porém, existem fatores em comum que unem essa parcela da população, como: falta de uma moradia fixa, de um lugar para dormir temporária ou permanentemente e vínculos familiares e sociais que foram de alguma forma interrompidos ou fragilizados.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) a população em situação de rua aumentou cerca de 140% no período de 2012 a 2020. Atingindo, no auge da pandemia da Covid-19, quase 222 mil brasileiros. Ao decorrer da pandemia do coronavírus, o IPEA alertou por meio de inúmeras pesquisas, o avanço da situação de vulnerabilidade de quem vive na rua, exigindo assim, atuação mais intensa do poder público, para desenvolver ações, e apoio a iniciativas a fim de solucionar este problema, que vai muito além de uma questão atrelada à moradia, envolvendo também, questões atreladas a saúde pública, sistema prisional, jurídico, dentre inúmeras outras.

Se você se interessou pela iniciativa, confira abaixo o bate-papo que tivemos com a galera do instituto 👇🏽


Bate-papo com o Se Mudando

O que é o Se Mudando? Quando surgiu?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando): 

Basicamente o Se Mudando é um instituto que nasceu para causar impacto perene na vida de pessoas com trajetória de rua! Buscamos causar impacto por meio de um programa chamado: “Abrindo Portas”, que é hoje a nossa principal estratégia. Esse programa é baseado em uma metodologia exterior consolidada chamada Housing First, que é hoje o nosso modelo atual de atuação.

Nascemos de um interesse pessoal genuíno dos quatro fundadores (Lucas Miranda, Valentina Nogueira Heiderich, Murilo FlorencioGabriel Nogueira), que sempre gostaram de projetos vinculados a causas sociais. Na época, nós quatro fazíamos parte do PET Produção, que já tinha uma vertente muito forte atrelada a projetos sociais que viraram grandes grupos na cidade como: Operação Natal e Pontinha.

No ano de 2019, o Se Mudando quebrou a barreira da universidade e começou a caminhar pelas próprias pernas. Com isso, atualmente funcionamos como instituto dependendo 100% de doações para manter nossas operações.

O que te levou à escolha de empreendedorismo social?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando):

Olhando para essa paixão por projetos sociais, decidimos atuar com uma parcela da população que o público universitário ainda não tinha muita conexão e que precisasse de um olhar diferenciado. Por isso, escolhemos desenvolver um projeto que impactasse vidas de pessoas com trajetória de rua. Então, começamos a entender melhor as instituições do nosso ecossistema que já atuavam com essa parcela da população e quais os gaps ainda existentes.

Com isso, chegamos em um denominador em comum, moradia!

Além disso, em 2018, durante uma experiência de intercâmbio em Milão, pude estudar uma matéria chamada “Inovação Social” na Universidade Politécnica, e desde então a forma como eu enxergava o meu futuro profissional mudou completamente! Antes do intercâmbio posso dizer que eu era um engenheiro de produção tradicional e depois que retornei do intercâmbio eu tinha uma certeza pulsante, “Eu quero atuar no setor 2.5!”.

Valentina Nogueira Heiderich (Co-founder e Diretora de Operações do Instituto Se Mudando):

Para mim a resposta dessa pergunta começa no porque impacto social!

Ao longo da minha formação em engenharia de produção, sempre me vi como uma profissional capacitada para identificar, diagnosticar e resolver problemas. E então, quando comecei a olhar para o mercado, percebi que as oportunidades de trabalho eram inúmeras.

Com o tempo, fui percebendo que para mim não fazia sentido trabalhar para resolver problemas de empresas, assim, percebi que fazia sentido resolver problemas de pessoas reais, com necessidades reais. Então, olhar para a realidade de pessoas que não possuem um lugar para morar se tornou uma vontade.

Aos poucos a ideia foi amadurecendo por meio de estudos, fui percebendo que quanto mais nos aprofundávamos sobre a temática, mais lacunas encontrávamos pendentes. Por isso o Se Mudando! Começamos então a conversar com pessoas em situação de rua, e com projetos dentro e fora da cidade que se preocupam com essa parcela da população.

Até que então, a ideia se fortaleceu!

Qual o papel do empreendedorismo social e como se difere do Environmental, Social and Governance (ESG)?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando):

Basicamente, a ESG vem sendo utilizada como boas práticas de mercado por empresas que desejam de alguma forma diminuir os impactos negativos de suas operações na sociedade em geral, como por exemplo geração de carbono zero. Já o empreendedorismo de impacto nasce para resolver um problema real da sociedade, se preocupando primordialmente em gerar impactos positivos na sociedade por meio de sua atuação. E é por isso que somos uma iniciativa de impacto.

Pensando na nossa missão que é quebrar barreiras e participar na mudança de vida de pessoas com trajetória de rua, olhamos para os 3 pilares de uma Social Venture que são: (1) Intencionalidade, (2) Mensuração, (3) Adicionalidade, o que nos coloca em um posto diferente do que uma ESG olha. Trabalhamos em suma com um setor que não costuma ser atrativo economicamente e desejamos gerar um impacto positivo na vida das pessoas que compõem essa parcela da sociedade.

Como se constitui o instituto hoje?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando):

Hoje a nossa equipe tem aproximadamente 20 pessoas que atuam de forma voluntária. Nossa equipe se divide em 9 diferentes áreas. Atualmente atuamos ainda como terceiro setor, isso devido ao desafio que temos de rentabilizar o nosso modelo de negócio.

Nossa atuação se concentra em uma metodologia denominada housing first. Essa ideia surgiu nos EUA com o psicólogo Sam Tsemberis, acarretando na criação de um método que virou política pública.

Por isso o primeiro degrau dessa ação é oferecer uma moradia digna antes de qualquer outra intervenção, para que aí sim, seja possível fazer o acompanhamento dessa pessoa em um programa multi e interdisciplinar que vai pensar em todas as necessidades que esse indivíduo possui, assim como Maslow sugeriu em sua pirâmide de necessidades. Lembrando ainda, que no presente momento estamos com o total de 3 casos, que totaliza 5 assistidos em nosso programa Abrindo Portas.

Como vocês selecionam os assistidos e depois medem o impacto do programa na sociedade?

Thalys Vinicius Moraes (Líder da célula de gerenciamento dos casos):

O Se Mudando seleciona os assistidos junto aos nossos parceiros municipais que são o Centro Pop, e a Comunidade Divina Misericórdia.

Nossos assistidos são pessoas que não se enquadram em situação de rua "crônica" e que não possuem grandes vícios. Depois de selecionado um assistido, damos acesso a moradia e assistência financeira para aluguel, água, luz, gás, internet e alimentação. Basicamente, depois que o nosso assistido se estabiliza, começamos a pensar em criar redes mais complexas de apoio que se preocupam em olhar para outras necessidades relacionadas a geração de renda e qualidade de vida.

Lembrando que o nosso objetivo está relacionado a resolver o problema de pessoas em situação de rua e não erradicar a pobreza, em relação aos resultados, é importante pensar que o primeiro deles é que já estamos falando de uma pessoa que não se encontra mais em situação de rua, devido a oferta da moradia proposta pelo modelo housing first.

No cotidiano prático, os resultados são medidos ao longo das visitas semanais onde sempre atuamos com base em três pilares: Qualidade de Vida, Rede de Apoio e Geração de Renda. Além disso, nas visitas, também utilizamos ferramentas para acompanhar esses pilares, como percepção da qualidade de vida por meio do instrumento whoqol-bref ou ainda rede de apoio social por meio do mapa mínimo de relações.

Onde o Se Mudando deseja chegar?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando):

De forma mais objetiva, agora estamos trabalhando em uma meta para janeiro de 2025. Desejamos daqui a 3 anos atuarmos não mais como Instituto Se Mudando, mas sim como uma startup de impacto social.

No entanto, também temos sonhos maiores! Gostaríamos de ser uma instituição de reconhecimento e atuação nacional, a fim de, mudar os paradigmas de políticas públicas atreladas às pessoas em situação de rua no Brasil, pensando assim, em atender e solucionar o problema de falta de moradia e reinserção dessas pessoas na sociedade.

Como você acredita que o Sanca Hub poderia ajudar o Se Mudando?

Lucas Miranda (Co-founder e Presidente do Instituto Se Mudando):

Vejo o Sanca Hub nos ajudando em 3 pontos: Voluntariado, Financeiro e Estratégico.

Ponto um, estamos precisando de novos voluntários dentro de São Carlos, ou seja, estamos precisando de pessoas que tenham disponibilidade de dedicar em média 2 horas semanais, uma hora seria destinada a visitas e a outra uma hora seria destinada a reportar essas visitas a nossos membros que compõem a área que cuida desses assistidos.

Ponto dois, precisamos muito de ajuda financeira. Hoje estamos querendo expandir o modelo de contribuição, que ocorre majoritariamente por pessoas físicas ainda. Então, quanto mais empresas acreditarem no nosso sonho e quiserem se aproximar de um empreendimento social abrindo portas, seja em relação a parcerias; investimento; doações ou ainda, oportunidade de emprego para assistidos, assim como a Fluke já fez, seria perfeito!

E por fim, precisamos de ajuda relacionado a partes estratégicas que envolvem majoritariamente a expansão da nossa rede de contatos atual, para que assim, possamos nos conectar com as pessoas certas na hora certa.


Depois de acompanhar o bate-papo... O que acharia de ver a Capital da Tecnologia como referência em iniciativas que impactem positivamente a vida de centenas de pessoas em situação de rua?

Se agora, assim como o Se Mudando, você também acredita que a solução desta problemática pode estar em iniciativas inovadoras atreladas ao setor 2.5, queremos dizer atreladas ao Empreendedorismo Social e de Impacto, faça sua doação aqui, e venha nos ajudar a construir uma nova São Carlos!

Atualmente o instituto Se Mudando procura por novos voluntários, e se você quer fazer parte desta iniciativa é só responder ao formulário presente no link abaixo 👇🏻

Se voluntariar no Se Mudando

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