Em um ambiente repleto de potencialidades, talentos e iniciativas inovadoras, o Instituto Angelim nasce da necessidade de olhar para as desigualdades.
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Para que serve o conhecimento se não for compartilhado? | ||
Vivemos, na contemporaneidade, tempos de constantes transformações. No entanto, por mais que a história revele diversas conquistas femininas, ainda existem inúmeros desafios e problemas a serem ultrapassados, principalmente no que tange às construções sociais a respeito dos papéis desempenhados entre homens e mulheres. | ||
Atualmente, sabemos que a construção do ser feminino e ser masculino não é algo meramente do campo biológico, mas sim, fruto de um constructo social e cultural, por meio de relações, ações e valores, que promovem a desigualdade de gênero, presente em inúmeras instâncias. | ||
Tais distinções geram consequências claras na vida em sociedade. No mundo do trabalho, por exemplo, mulheres ainda recebem em média 20,5% menos que os homens, desempenhando as mesmas funções. E apenas 3% ocupam cargos de liderança máxima em empresas e demais instituições. | ||
No campo do ensino superior, apesar do crescimento de mulheres com maior escolaridade, ainda existe uma grande disparidade em relação à escolha dos cursos e áreas de atuação. Como forma de ilustrar, 74% dos graduandos que ingressam em cursos da área de exatas ainda são homens e, o percentual de ocupação feminina na academia brasileira de ciência é de apenas 20% das bolsas de Produtividade de Pesquisa pelo CNPq, nas áreas de exatas. | ||
Na busca pela igualdade de gênero e representatividade na ciência, a Organização das Nações Unidas (ONU), declarou em 2016, como meta envolver, incentivar e promover iniciativas para o desenvolvimento de meninas e mulheres cientistas em conformidade com os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. | ||
Apesar de estarmos em um município repleto de potencialidades, talentos e a maior concentração de doutores por habitantes do país, a Capital da Tecnologia, também abriga um abismo social fortalecido por um ambiente elitizado que promove a diferença de acesso à educação, tecnologia e inovação promovidas no município. | ||
Fortalecendo dados nacionais como, mais de 55% das meninas entre 15 a 17 anos de idade abandonam os estudos, sendo, 1,7 milhão de meninas e mulheres de 15 a 29 anos que não completaram o ensino médio, não estudam e não exercem atividade remunerada. | ||
São Carlos vai muito além da bolha empreendedora e universitária! | ||
De acordo com Mirlene Simões, socióloga, docente na UNESP de Araraquara, Co-fundadora e atual Presidente do Instituto Angelim. | ||
“é preciso dar destaque para os trabalhos sociais, aqueles que dão sustentação para os seres humanos.” | ||
Em uma pesquisa realizada pela UNESCO, em 2020, mostra que nas mais variadas áreas do conhecimento, apenas 30% dos cientistas são mulheres. Diante desse cenário, projetos como o Laboratório de Talentos, nascem com a missão de promover novas perspectivas para jovens meninas do ensino médio da rede estadual de ensino, por meio de iniciativas educacionais, levando a elas conhecimento e apresentando o universo de potencialidades do município. | ||
Segundo Mirlene Simões, o conhecimento precisa ser fonte de perspectivas futuras, pois só assim passa a ser possível transformar realidades. | ||
“Acreditamos que por meio de iniciativas como o Laboratório de Talentos, seja possível superar e sensibilizar a ideia de que tais profissões são para meninas e outras não. Afinal de contas, o lugar da mulher é onde ela quiser!”, diz Mirlene. | ||
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Entrevista com Mirlene Simões, Co-fundadora e atual Presidente do Instituto Angelim. | ||
O que é o Instituto Angelim? Quando surgiu? | ||
Basicamente o Instituto Angelim é uma organização da sociedade civil, que visa incentivar a equidade de gênero na economia produtiva do país, através de ações atreladas à educação, arte, cultura e cidadania. | ||
Por meio de uma inspiração genuína em transformar os rumos da educação no Brasil, nascemos efetivamente em 2019, pouco antes do período de isolamento social imposto pelo cenário pandêmico. | ||
Em pouco tempo, tivemos que repensar em formas de impactar positivamente a sociedade diante dos acontecimentos mundiais. E em 2020 tivemos efetivamente o desenvolvimento do nosso primeiro projeto, que culminou na publicação de um livro, intitulado: “Expandir o Presente. Criar o Futuro.” O livro reúne memórias, registros, fotografias, vídeos e áudios de 16 mulheres que viveram em diferentes regiões do Brasil, Cuba e Portugal durante os dois primeiros meses da quarentena. | ||
No início, o nosso intuito não era atingir apenas mulheres por meio dos projetos, mas, aos poucos, as demandas atreladas a desigualdade de gênero foram se fazendo cada vez mais presentes em nosso ecossistema. Por isso, atualmente os nossos projetos são destinados em sua maioria a mulheres. | ||
Atualmente quais são os projetos em andamento? | ||
Apesar do avanço exponencial das universidades, tecnologias, pesquisas e soluções para o futuro, o nosso município, conhecido mundialmente por Capital da Tecnologia, ainda sustenta um abismo em relação às soluções práticas e simples para o presente, pensadas em pessoas e necessidades reais. Após o lançamento do nosso primeiro livro, um projeto foi puxando o outro, com isso, no momento, temos em andamento 4 projetos destinados a integrar mulheres a diferentes áreas da sociedade. Sendo eles: (1) Mulheres na Ciência; (2) Laboratório de Talentos; (3) Colabore, e por fim, (4) Unidade de Produção de Absorventes em parceria com a UFSCar. | ||
Com o intuito de tornar memórias vivas, em um município cuja concentração de Doutores por habitantes é a maior do país e, compartilhar com jovens meninas a história de grandes pesquisadoras, como a doutora e professora Yvonne Mascarenhas, o livro e documentário "Mulheres na Ciência", serviu de inspiração para o nosso projeto mais procurado hoje, o Laboratório de Talentos. A primeira turma do projeto foi realizada em 2021, de forma remota devido ao período de pandemia, ressaltando ainda mais a desigualdade ao acesso às tecnologias, internet e a informação em zonas periféricas da cidade. | ||
Como se constitui o projeto Laboratório de Talentos? | ||
O projeto Laboratório de Talentos, tem como principal objetivo promover igualdade de oportunidades e escolhas para jovens meninas do ensino médio da rede pública estadual de São Carlos. Tudo isso, por meio de oficinas práticas e teóricas nas áreas de ciência, engenharias, economia criativa, artes, tecnologia e inovação no pós-pandemia, visando assim, promover mudanças na perspectiva de vida e profissão dessas meninas. | ||
Devido ao período de isolamento, o projeto teve início de forma 100% online e remota. Com isso, o primeiro problema encontrado foi em relação à falta de acesso, às tecnologias, ou ainda, à internet estável, o que dificultou um pouco a imersão completa dessas meninas durante a primeira turma do Laboratório de Talentos. Grande parte dos jovens que moram em bairros periféricos, não possuem internet de qualidade e não conseguem assistir, nem sequer, 1 hora seguida de vídeos ou aula, por exemplo. | ||
Por isso, depois de solucionados os problemas de acesso, demos início ao projeto piloto, com 16 meninas do ensino médio de uma escola da rede pública estadual do nosso município. Durante a execução das oficinas pudemos descobrir a dimensão do abismo informacional que existe no nosso ecossistema. | ||
A grande maioria das meninas participantes do projeto, nunca se imaginaram em uma universidade, pois pensavam que esta escolha não fazia parte da realidade em que elas viviam! Descobrimos também, que essas meninas não sabiam que o ensino superior ofertado pela UFSCar e USP eram gratuitos. | ||
Em relação às próximas turmas do projeto, já tem data para iniciar? | ||
Sim! A próxima turma tem início na primeira semana de Junho, e graças a nossa parceria com o Centro de Intercâmbio Cultural Brasil e Estados Unidos (CICBEU) e ao financiamento da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, a segunda turma terá 32 meninas, e o projeto será realizado de modo 100% presencial em uma sala do colégio Álvaro Guião. | ||
Hoje os nossos recursos limitados não permitem que atendamos mais meninas, por isso, temos uma lista de espera extensa e estamos procurando por novos parceiros que possam financiar o projeto. Acolhendo novas meninas e nos ajudando a remunerar nossas oficineiras, que em sua grande maioria são graduandas das universidades públicas do nosso município. | ||
O projeto possui 4 meses de duração com encontros semanais práticos e teóricos, oficinas, aulas de inglês e visitas de campo, para uma imersão completa das meninas nas temáticas: (1) Ciências e Engenharias; (2) Tecnologia e Matemática; (3) Artes e Humanidade e, (4) Mercado de Trabalho. | ||
Quais as suas principais perspectivas para o projeto? | ||
Impactar a vida de muitas meninas, proporcionando novas visões de futuro e devolvendo a elas a possibilidade de sonhar. Vimos que a primeira turma teve uma completa transformação na forma com que as meninas passaram a olhar para o futuro… e isso me anima!! | ||
Percebemos que o projeto tem potencial de transformar vidas, e não apenas das meninas que participaram, mas também, impactar positivamente o núcleo onde elas estão inseridas. O Laboratório de Talentos tem como perspectiva gerar novas opções de escolha e protagonismo de histórias, coisas que não são impostas por uma lógica da sociedade que gera cada vez mais desigualdade. | ||
Por isso, almejo ver mulheres se apropriando de lugares que elas ainda não se sentem pertencentes. Almejo desmistificar os preconceitos instituídos na nossa sociedade por séculos e séculos. Para que assim, possamos alcançar um mundo em que as mulheres sejam respeitadas e valorizadas, onde quer que elas estejam. Desejo que as tecnologias andem junto com a apropriação dessas mulheres e que consigamos superar por meio de um laboratório de inclusão e participação as desigualdades de um ambiente que infelizmente ainda é muito elitizado. | ||
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