Do Call to Action para o Call to Pause
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Do Call to Action para o Call to Pause

Já imaginou o que seria o call to pause? Nesse breve artigo explico porque abraçar as sombras digitais pode ser tão importante para você.

Alexandre Guzovsky
5 min
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Olá, pessoal!

Ultimamente tenho questionado o meu vício em telas, aplicativos, devices em geral e o quanto isso começou a me atrapalhar mentalmente e fisicamente e o que eu poderia fazer para reverter essas consequências que todo mundo já sabe.

Por coincidência terminei de ler um livro chamado “Em louvor da sombra” do escritor japonês Junichiro Tanizaki.

Junichiro Tanizaki
Junichiro Tanizaki

Nesse livro, Tanizaki nos leva a uma jornada contemplativa sobre a importância da sombra, dos espaços e dos contrastes na apreciação estética e seu impacto em nossas vidas.

No livro encontramos um universo onde a escuridão e a penumbra são enaltecidas como elementos essenciais para a apreciação da beleza.

Tanizaki fala sobre valorizar o jogo de luz e sombra, a textura dos materiais, os espaços vazios e a atmosfera sutil que permeia as coisas, trazendo uma reflexão sobre como podemos aplicar essa visão à nossa relação com a tecnologia e o design digital.

Em um mundo cada vez mais dominado pela luz intensa das telas e pela obsessão pelo brilho e pela nitidez, é fácil esquecer a importância da sombra, do espaço para a imaginação e do equilíbrio estético. Nossa relação com as informações que recebemos em displays, sempre com suas cores vibrantes e interfaces reluzentes, muitas vezes nos afastam da contemplação tranquila e nos imergem em uma constante confusão visual, diminuindo o vazio, facilmente confundido com a ausência de algo.

Vou usar como exemplo a linguagem da Apple, onde os produtos são desenhados para ter a mínima interferência possível, como o macbook e os airpods, metálicos foscos e brancos, facilmente se confundem ao ambiente. Nosso comportamento mudou tanto que adicionamos cases coloridas e adesivos para diferenciá-los. Porém, os displays e tudo que eles mostram são cada vez mais nítidos, vibrantes, fundos de tela coloridos e uma potência de iluminação bem alta. Soma isso a um uso de aproximadamente 8, 9 e até 10 horas diárias por vários dias na semana, criando um hábito novo.

A sua cabeça vai se acostumar e só vai prestar atenção em objetos que consigam competir com esse brilho todo, e aquilo que for ligeiramente mais discreto e calmo será ofuscado.

Haja display e retina (dos olhos mesmo)
Haja display e retina (dos olhos mesmo)

No entanto, assim como Tanizaki nos mostra, há uma beleza única na sutileza, na discrição e na harmonia entre o claro e o escuro. E é aí que relaciono o papel do design digital:

Como buscar um equilíbrio, criando experiências que valorizem não apenas o impacto visual imediato, mas também a serenidade e a profundidade que a sombra pode proporcionar?

Podemos explorar elementos como a tipografia, as cores, as texturas e as animações com sensibilidade, buscando criar espaços digitais que convidem à contemplação e ao descanso visual. Assim como um arranjo minimalista em um quarto japonês tradicional, onde cada objeto tem seu lugar e a luz é suavemente filtrada, podemos aplicar esse princípio ao design de interfaces, serviços e experiências criando ambientes digitais que acolham e inspirem.

Além disso, a valorização da sombra no design digital também pode nos conduzir a repensar a obsessão pela exposição constante. Em um mundo bombardeado por informações e notificações, é fundamental encontrar momentos para ficar longe de tudo, espaços onde possamos nos desconectar e mergulhar nas sombras que nos permitem refletir e assimilar o que absorvemos do mundo digital.

A busca por um design que respeite a sombra é fundamental, que nos ajude a lembrar dos momentos de pausa, reconhecendo que nem tudo precisa ser iluminado e exposto o tempo todo.

Até existem apps que te ajudam nisso de maneira bem legal, tiram as cores dos displays, silenciam as mensagens e outras funcionalidades.

O One Sec App atrasa aplicativos e sites distrativos, forçando você a fazer uma pausa de segundos sempre que abrir aplicativos de redes sociais. É simples e aparentemente funciona, baseado em atrito de jornada, ele remove a gratificação instantânea e torna os aplicativos distrativos menos atraentes, corta aquele shot de dopamina fácil.

One Sec App - Ajuda a repensar se naquela hora vale a pena abrir aquele app
One Sec App - Ajuda a repensar se naquela hora vale a pena abrir aquele app

Já o Minna Bank, possui um design simples e intuitivo, proporcionando uma experiência visualmente leve e de fácil navegação com uma interface limpa e organizada, o aplicativo utiliza pouquíssimas cores e elementos gráficos bem equilibrados, o que contribui para a clareza das informações e uso rápido, me lembra uma leitura de papel, analógico.

Minna Bank, Japão - Um bom exemplo do uso de cores e interface minimalista.
Minna Bank, Japão - Um bom exemplo do uso de cores e interface minimalista.

Um último exemplo rápido, o Kindle PaperWhite possui uma tecnologia em seu display que se assemelha também ao uso do papel, tanto em nitidez quando em ausência de brilho, sendo leve e relaxante para os olhos, aquela sensação de ressecamento não acontece tão rápido.

Kindle PaperWhite, Amazon - Experiência de papel com uma página só
Kindle PaperWhite, Amazon - Experiência de papel com uma página só

Meu ponto aqui é se não podemos adicionar essa camada de maneira proposital nas experiência de usos de modo que seja uma intenção nossa como designer? Um design de serviço bem feito, por exemplo, é aquele que nem é lembrado que foi projetado pelo usuário.

Ele simplesmente funciona.

Será que assim como existem call to actions (cta), não poderiam existir call to pause?

Eu, por exemplo, estou tentando retomar o hábito de leitura com o celular no silencioso. Me dá uma ansiedade danada ainda, mas aos poucos estou sentido que tenho evoluído e começado a desapegar. Tenho usado um desses apps de rotina, alarme e muita força de vontade (mas muita!)

Acho que assim como na estética japonesa tradicional, podemos tentar encontrar um equilíbrio entre o brilho e a sombra, entre a tecnologia e a introspecção.

Espero que essa reflexão tenha despertado em vocês a curiosidade de explorar novas possibilidades no design digital, criar novos conceitos e experiências para o usuário encontrar um descanso quase que desconhecido hoje nas sombras digitais.

Se quiser comprar o livro, é só clicar no link abaixo, é baratinho e uma BAITA leitura!


Para saber mais:

One Sec App

Case Minna Bank - Accenture

UX Collective - A guide to minimalist design


Para comprar:

Kindle 11ª Geração

Em louvor da sombra - Junichiro Tanizaki


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