Aprendizados para evolução do e-Submission
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Aprendizados para evolução do e-Submission

#0046: Singapura sempre esteve a frente do seu tempo no processo de digitalização da indústria da construção, mas agora estão elevando uma barra que já era alta com o novo Corenet X.

Tiago Ricotta
8 min
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#0046: Singapura sempre esteve a frente do seu tempo no processo de digitalização da indústria da construção, mas agora estão elevando uma barra que já era alta com o novo Corenet X.

Be inspired (1/7)

Next, next stop
Next, next stop

Talvez uma das melhores palestras que já assisti em eventos nesses anos de congressos foi a apresentação da autoridade do governo de Singapura no evento BIM do Sinduson-SP de 2015, ali foi uma porta de entrada muito legal na Ásia em que bebo de fontes até hoje sobre o que de mais moderno pode ser empregado em larga escala em temos de processos de aprovação em órgãos públicos e como ser um "marshal" em corridas de Fórmula 1.

O mais interessante daquela palestra foi verificar a visão de longo prazo e capacidade de execução da estratégia definida ainda na primeira década deste século, em um momento em que tudo era deserto, Singapura já estava pensando em como extrair o máximo de uma indústria digital que nem existia ainda.

Para quem já passou por dois parágrafos e não faz ideia do que estamos falando, a Building and Construction Authority (BCA) de Singapura é uma entidade governamental que trata da aprovação das construções no país asiático. A BCA possui desde 2008 um sistema chamado Corenet em que quem deseja fazer uma construção no país deve apresentar seu modelo digital e o processo então passa a ser mapeado e seguido pelas autoridades para no fim entregar o “alvará de construção” para o empreendedor.

O ponto é que a estratégia digital teve quatro grandes pilares e duas grandes fases desde seu início em 2008, sendo que a primeira fase foi definida pelos pilares a abaixo:

  • Falta de demanda = Governo cria a demanda: aqui o governo criou um site oficial com todo o conteúdo para consulto do mercado, criou uma exigência gradual de BIM para os novos projetos e criou também um simpósio e premiação anual para os melhores cases.
  • Quedra do status quo = remover impeditivos: criação de comitê Gestor em 2011 para desenvolvimento de vários guias e templates culminando em um fórum de gerentes BIM para retroalimentação do conteúdo e melhoria dos processos. Ouvir o mercado sempre é bom.
  • Falta de maturidade = programas especiais para capacitação de mão de obra: 40 programas em universidades, +12500 profissionais treinados e +2000 estudantes capacitados entre 2008 e 2013.
  • Mercado AEC comprar a ideia = Incentivos para a indústria: U$ 20 milhões para 707 empresas que forneceram projetos para 180 empreendimentos públicos.

Uma curiosidade sobre a destinação das verbas de incentivos foi que 55% do dinheiro (ou U$ 11 milhões) foram destinados para contratantes e o motivo segundo a própria palestra de 2015 foi que estes eram os maiores beneficiários da adoção da tecnologia e digitalização do processo, logo, fazia todo sentido esses serem as entidades que mais entraram com pedidos de verba no governo.

Finalizado a primeira fase em 2013, iniciou-se a segunda fase que durou até 2020 com as seguintes diretrizes:

  • Solicitar modelos para manutenção.
  • Acelerar processo com novos incentivos.
  • Ampliar oferta de cursos em diferentes áreas.
  • Incentivos a Pesquisa e Desenvolvimentontes premissas.

Para não me alongar demais nesta introdução, a ideia foi ampliar os usos da digitalização e retirar os gargalos identificados da primeira fase. Com o final desta segunda fase da estratégia, o BCA aponta para a terceira fase, e é sobre isso que vamos falar hoje.

Corenet X (2/7)

Facilitar a aprovação da aprovação é o objetivo principal
Facilitar a aprovação da aprovação é o objetivo principal

Trabalhados os gargalos do mercado, a ideia do BCA atualmente é trabalhar os seus próprios gargalos, pois o processo regulatório atual permite a submissão eletrônica, mas com 20 portas de entrada para os modelos digitais, ou seja, o empreendedor para fazer a aprovação precisa passar por diversas instâncias de aprovação que muitas vezes não estão conectadas.

Traduzindo para o Brasil, é como se você tivesse que dar entrada na Prefeitura, nos Bombeiros, na Vigilância Sanitária, no INSS, no Cartório, no Habite-se, no IPHAN, no Comaer tudo separadamente sem conexão nenhuma... bom, mesmo que seja isso que façamos atualmente, o que o Corenet X quer resolver é justamente a integração entre todas as instâncias de aprovação, no qual, ao invés de 20 portas de entradas em órgãos regulatórios, haverá somente 3 e que mesmo assim estarão conectadas.

Então, a partir da identificação dos gargalos e da criação do novo Corenet integrado, o próximo passo seria a criação de formas de automação de verificações de projetos para as sete maiores agências regulatórias de Singapura.

Antes já não rolava este tipo de workflow? Bom, aí sou a Glória Pires nesta pergunta, não sou capaz de opinar ou informar a respeito do tema, prefiro me abster.

Benefícios (3/7)

As agências de Singapura enxergam seis grandes benefícios no processo novo:

  • A promoção da coordenação e colaboração no processo de projeto.
  • O suporte para o que eles chamam de IDD (Integração de Entrega Digital – Integrated Digital Delivery) e do DfMA (Projeto para Fabricação e Montagem – Design for Manufacturing and Assembly).
  • Promoção da digitalização do ambiente construído.
  • Redução dos silos de aprovação, iterações e reuniões.
  • Aumentar a produtividade e as demandas por aprovações.
  • Criação de um ponto único de verdade.

Obviamente o desafio não é pequeno, principalmente com tantas partes interessadas envolvidas no processo, mas até pelas andanças da vida no último ano ver o passo em direção ao que eles chamam de IDD e DfMA é algo que me anima bastante de acompanhar o desenvolvimento do projeto Corenet X.

OpenBIM (4/7)

Ihull
Ihull

O mais louvável da iniciativa de Singapura é a questão da adoção massiva do OpenBIM para apoiar os seus processos.

Invariavelmente acredito que em breve a BCA poderá se beneficiar muito do IDS (Information Delivery Specification) que está a caminho e deverá inundar o mercado com o conhecimento necessário para fazer esta iniciativa funcionar.

A partir do momento em que o próprio mercado se torna mais maduro sobre o entendimento do IFC e de sua estrutura de dados, creio que estes esforços de desenvolvimento de soluções para verificação de conformidades também se tornarão menos custosas para o poder público e para os próprios desenvolvedores de projetos / software.

Com o advento do IDS creio que a própria forma de solicitação será facilitada, pois particularmente não aguento mais ver manuais e bíblias sendo escritas para solicitar projetos em BIM.

É um copy/paste desnecessário de manuais de software em que o principal, o projeto, é deixado de lado, logo, a filosofia do BCA de abraçar o Open e basear seus processos nesta filosofia é mais do que bem-vinda.

IFC-SG (5/7)

Dando um mergulho mais fundo no Corenet X eles falam muito sobre IFC-SG, que viria a ser um MVD específico do governo do país asiático para submeter os projetos para aprovação.

Ainda não existe muito material sobre isto, mas até onde existe publicação, o MVD do IFC-SG será baseado no MVD IFC 4 Reference View com a adição de algumas predefinições de USERDEFINED para ObjectType especificas do governo de Singapura.

É um caso muito legal de especificação até, de certa forma, simples, sem grandes complicações ou reinvenção da roda, principalmente porque praticamente todas as soluções de mercado já elegem este MVD Reference View como o principal material para exportação, facilitando enormemente o trabalho para indústria.

Algum estudo adicional deve ser necessário para solicitar um ou outro Property Set menos conhecido, mas é bem interessante o caminho que o pessoal tomou, alguns órgãos no Brasil poderiam simplificar seus processos e cadernos de 200 páginas de manual de software e reduzir para 2 páginas só tomando este caminho.

PDCA (6/7)

Plan, Do, Check, Act... Repeat
Plan, Do, Check, Act... Repeat

Um aprendizado muito forte a ser tomado da BCA é sua resiliência e constante aprimoramento dos processos e soluções dos gargalos ao longo destes anos todos de digitalização da indústria.

Tudo é perfeito? Certamente não, até por isto estão revisando a estratégia novamente, mas é interessante notar que mesmo com idas e vindas de alguns profissionais, o core da estratégia permanece, visando sempre o benefício mútuo da sociedade com os investimentos realizados.

Se em 2022 já é difícil tocar processos de mudança de cultura, imagina quando tudo nem era mato e sim uma floresta que nem o céu você conseguia enxergar quando eles iniciaram esta brincadeira lá antes de 2010.

Será interessante acompanhar os próximos passos e a direção que a BCA vai tomar nos próximos anos.

Aprendizados (7/7)

É interessante ver casos de adoção de tecnologia feitas de maneiras tão diferentes e com resultados tão abrangentes tanto para o bem, quanto para o mal.

Até por alguns projetos que estão rolando nas últimas semanas tiramos o tempo para organizar as ideias e estudar mais a fundo algumas coisas que estão surgindo, o que me deixa bem preocupado é o ritmo de adoção das coisas lá fora e as grandes barreiras que temos internamente no Brasil para construir cases de sucesso e ter boas histórias para contar.

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Tiago Ricotta

Publicado em 16 de Março de 2022 às 15:25