Como construir o Metaverso?
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Como construir o Metaverso?

#0030: Matrix? Ready Player One? Avatar? Nenhum deles, mesmo que ainda estejamos digerindo os anúncios feitos pela Meta Inc. já é possível ao menos tentar compreender como será o futuro da internet se o projeto vingar, se é bom ou ruim vai de cada um

Tiago Ricotta
12 min
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#0030: Matrix? Ready Player One? Avatar? Nenhum deles, mesmo que ainda estejamos digerindo os anúncios feitos pela Meta Inc. já é possível ao menos tentar compreender como será o futuro da internet se o projeto vingar, se é bom ou ruim vai de cada um, mas no fim cabe a você decidir ao final do texto se vai entrar com seu avatar nessa história.

Quem precisa do Metaverso? (1/7)

Uma aquisição que ninguém deu muita bola na época...
Uma aquisição que ninguém deu muita bola na época...

O ano é 2014 e nosso amigo Zuckerberg não tinha conseguido comprar o Snapchat, mas out of the blue conseguiu uma bela aquisição chamada Oculus que ninguém entendeu muito bem o que ele queria com aquilo, mas olha só o que o safadinho do Zuck disse no relase da aquisição:

“O celular é a plataforma de hoje e agora também estamos nos preparando para as plataformas de amanhã”, disse o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg. “A Oculus tem a chance de criar a plataforma mais social de todas e mudar a forma como trabalhamos, jogamos e nos comunicamos.”

Sendo arquiteto já vi muita apresentação de projeto sendo realizada no Oculus Rift, mas não é algo barato, para se ter uma ideia os produtos de entrada da Oculus nos EUA partem dos U$ 399,00 e aqui no Brasil nem vou pesquisar para não passar raiva com o absurdo de imposto + dólar que este país nos oferece.

Enfim, nem só de apresentações de projetos se vive a vida, a Oculus hoje tem todo um ecossistema de desenvolvedores criando jogos, aplicativos para as mais diversas frentes de um mundo, de certa forma, inexplorado por grande parte dos usuários da Meta Inc.

Antes de cair no Metaverso em si, perceba que já existe um movimento gigantesco do ainda Facebook lá atrás para desenvolver experiências imersivas com equipamentos de extensão da realidade e a aquisição da Oculus pode ter passado desapercebida pela grande maioria dos usuários, mas foi fundamental pra consolidar o momento que estamos vivendo.

Em termos de modelo de negócio a Meta Inc. está querendo liderar o que muitos estão chamando da Web 3.0 ou a terceira evolução do que conhecemos como internet atualmente, sendo que esta internet de hoje é toda baseada em links e telas com elementos de toques.

E por que isto é importante? Porque nos próximos 10 anos vamos sofrer uma disrupção ainda mais absurda e profunda como sociedade do que vivemos até o momento, se hoje em dia temos nossos celulares como uma extensão dos nossos corpos, alguma mudança muito radical estará a caminho neste modelo de extensão.

Hoje o Quest precisa de celulares para rodar seus games e apps, mas talvez os celulares é que terão que evoluir para se tornarem algo com o que o Oculus Quest 2 entrega hoje em termos de experiência para não estarem fadados a serem itens de museu nos próximos anos, afinal, o Metaverso esta a um Quest de distância, e não a um iPhone ou SXX da vida mesmo que esses hoje sejam bons intermediários.

A tela de iPhone, iPads e afins estará com os dias contados com o Metaverso vingando? Teremos um iGlasses? Um iQualquer? As coisas vão mudar.

Snow Crash (2/7)

By Neal Stephenson
By Neal Stephenson

Provavelmente você já deve ter lido de onde veio o termo Metaverso, mas gosto tanto do conceito que replico aqui na Newsletter.

O termo apareceu no livro de ficção científica de 1992 chamado Snow Crash do autor americano Neal Stephenson e as cinco primeiras vezes que o Metaverso aparece no livro estão resumidas abaixo:

  • Spephenson diz que para uma pessoa ser encontrada ela precisa ter um número de telefone, um CEP, e-mail ou um endereço no Metaverso;
  • Spephenson descreve o Metaverso como um universo gerado por computador que desenha um mundo virtual em seus óculos e leva som ao fones de ouvido;
  • Spephenson descreve que o Metaverso possui um local chamado Street que vem a ser a Broadway ou a Champs Élyseés do Metaverso, o local não existe mas milhões de pessoas estão andando por lá agora.
  • Spephenson descreve o personagem passeando por ruas e prédios com letreiros de publicidade que para estarem ali tiveram que pedir aprovação para um órgão específico.
  • Spephenson descreve o personagem contendo uma mansão no Metaverso, mas na vida real o personagem mora em um apartamento de 20m².

Eu não conhecia o autor e muito menos o livro Snow Crash, mas fui lendo um pouco do livro para conseguir fazer um paralelo com o que está sendo desenhado como o nosso futuro e também porque absolutamente nenhuma matéria que eu li sobre o assunto conseguiu explicar o que de fato é esse negócio.

Não custava muito abrir o livro do Neal e ler algumas páginas para entender o que estão querendo que seja o nosso futuro, mas o click bait e o desespero da atenção matou há muito tempo os portais de notícias.

Triste.

A base tecnológica (3/7)

O que da vida ao Metaverso?
O que da vida ao Metaverso?

É um sururu de tecnologias e combinações que serão necessárias para criar o mundo que o Zuckerberg quer. No vídeo de apresentação do conceito ele elenca algumas tecnologias que estão listadas abaixo:

  • Presence: A tecnologia de presença é um tipo de aplicativo que permite localizar e identificar um dispositivo computacional onde quer que ele esteja, assim que o usuário se conecta à rede. Hoje na Meta Inc. isso é muito usado no Messenger.
  • Avatars: Um avatar é uma representação de um usuário em um mundo 3D gerado por computador, quem já jogou World of Warcraft, The Sims, Second Life ou qualquer jogo de RPG sabe bem do que estamos falando. É construir você no mundo virtual.
  • Home Space: Criação de todo e qualquer tipo de espaço, você já pode ter um gosto do que é o Home Space acessando o Horizon Home, Horizon Workspace ou Horizon Worlds. Provavelmente desses apps é que sairá a Broadway ou a Champs Élysées do Metaverso.
  • Teleporting: Haverá todos os tipos de espaços diferentes que as pessoas criarão. Salas, jogos e mundos inteiros que você pode se teletransportar para dentro e para fora quando quiser. Teletransporte pelo metaverso será como clicar em um link na Internet, mas ao invés de abrir uma página, você irá carregar os mais diversos aplicativos e lugares construídos por outros usuários.
  • Interoperabilidade: Para desbloquear o potencial do metaverso, é preciso haver interoperabilidade. E isso vai além de apenas levar seu avatar e itens digitais por diferentes aplicativos e experiências, para os quais já haverá uma API para o consumo. O futuro do Metaverso é de co-criação através de padrões abertos e não proprietários, por isso a interoperabilidade é vital para o projeto.
  • Privacidade e Segurança: Você terá que decidir quando quer estar com outras pessoas, quando quer impedir que alguém apareça em seu espaço ou quando quer fazer uma pausa e se teletransportar para uma bolha privada para ficar sozinho, mas principalmente, vai ter que decidir que tipo de dados quer compartilhar com a comunidade.
  • Virtual Goods: Você quer saber que, ao comprar ou criar algo, seus itens serão úteis em muitos contextos e você não ficará preso a um único mundo ou plataforma (lembra do Home Space e da Interoperabilidade). A criptografia e NFTs farão parte deste processo além de toda uma discussão sobre como será a governança da comunidade.
  • Natural Interfaces: Haverá novas maneiras de interagir com dispositivos que são muito mais naturais. Em vez de digitar ou tocar, você poderá fazer gestos com as mãos, dizer algumas palavras ou até mesmo fazer as coisas acontecerem pensando nelas. Seus dispositivos não serão mais o ponto focal de sua atenção. É aqui que as telas podem estar com os dias contados.

Agora imagina colocar todos esses conceitos num cesto, misturar e tentar sair do outro lado construindo uma plataforma do praticamente zero.

Epic Games (4/7)

by Epic Games
by Epic Games

Se tem uma empresa que eu queria muito investir, esta empresa é a Epic Games.

No dia 13 de abril de 2021 a Epic Games anunciou que fechou uma rodada de investimento na casa de U$ 1 bilhão de dólares com valuation de U$ 28.7 bilhões. Foram várias as empresas que entraram no deal, mas porque tanto dinheiro para eles?

Fortnite tem vários conceitos que podem ser aplicados ao Metaverso, talvez seja aquilo que mais se aproxima da visão do Zuck, só que ao invés de estar posicionado em um universo de vídeo game o que o Zuck quer fazer é transportar todos os conceitos para vida do nosso dia a dia, para os bilhões de usuários da Meta Inc.

A Epic Games também está em uma batalha épica com a Apple sobre a mordida que a Apple Store da em tudo e qualquer coisa que usuários das plataformas da Apple gastam no Fortnite, neste caso total mérito da Apple em fazer um marketplace tão bom e uma pena para a Epic Games que só dá para instalar seus produtos em Apple’s se receber a mordida.

Voltando a questão inicial, investiria na Epic Games justamente porque é de todas as empresas, talvez, aquela que melhor esta posicionada para de fato construir o Metaverso assim como já construiu boa parte dos apps e games do Oculus.

Não tem muita informação sobre o assunto, mas o que a Meta irá fazer? Criar uma Engine de Game própria? Criar um mundo de tecnologias que outras empresas já possuem? Comprar a Epic Games?

É difícil essa trajetória, não dá para construir tudo o que é propagado no vídeo sozinho, mesmo que se fale em interoperabilidade e co-construção, o coração técnico do negócio deveria ser da Meta Inc. e não de outra empresa. O principal de tudo quem tem é a Meta Inc. e seus bilhões de usuários a quem ela quer vender todas essas experiências.

Interoperabilidade (5/7)

Ninguém ligava para o Metaverso, até que explodiu no Google Trends
Ninguém ligava para o Metaverso, até que explodiu no Google Trends

Nas últimas semanas escrevemos sobre IFC e a interoperabilidade, esta interoperabilidade que também vai ser crucial para o Metaverso.

Isso é muito louco para explicar, mas hoje quando você acessa algum site que você tem que fazer um cadastro muitas vezes você pode se cadastrar através de um botão chamado Entrar com o Facebook, certo? Ao fazer isso seus dados do Facebook são importados na plataforma que você quer acessar e você já pode sair fazendo seus pedidos por lá.

Quem nunca passou por isso?
Quem nunca passou por isso?

Agora imagina que você tem 30 aplicativos e jogos instalados no celular ou dispositivo de extensão de realidade, mas ao invés de entrar com os dados do Facebook você vai entrar com seu Avatar carregando todos os seus itens para o jogo, conferência ou qualquer outra atividade que você for fazer no Metaverso.

Essa é dificuldade da interoperabilidade, como um avatar vai entrar no Fortnite e depois o mesmo avatar vai entrar no GTA conseguindo se comportar perfeitamente?

Imagina você querer usar aquele item que era uma camisa virtual autografada do Michael Jordan comprado na lojinha no Metaverso usando NFT e você está tão orgulhoso daquilo que quer sair do Fortnite e ir para uma sala de reunião fazer uma conferência vestindo a bendita camisa no seu avatar. Como fazer tudo funcionar?

É sobre isso a questão da interoperabilidade.

Haja API.

Segregação social (6/7)

Você não precisa de uma TV física. Será apenas um holograma de $ 1 de algum garoto do ensino médio do outro lado do mundo. E você também poderá pegar seus itens e projetá-los no mundo físico como hologramas e realidade aumentada. Você será capaz de passar por essas diferentes experiências em todos os tipos de dispositivos diferentes, às vezes usando para realidade virtual para que esteja totalmente imerso, às vezes usando óculos de realidade aumentada para que possa estar presente no mundo físico também, e às vezes em um computador ou telefone para que você possa pular rapidamente para o metaverso a partir de plataformas existentes

Hoje em dia é muito fácil ouvir que quem não está no digital está morto, que não existe no mundo, mas e no futuro?

A Meta Inc. agora tem 3,6 bilhões de “pessoas ativas por mês”, que define como “como um usuário registrado e logado do Facebook, Instagram, Messenger e / ou WhatsApp que visitou pelo menos um desses produtos da Família por meio de um dispositivo móvel aplicativo ou usando um navegador da web ou móvel nos últimos 30 dias a partir da data de medição.”

Fonte: <a href="https://www.statista.com/chart/2183/facebooks-mobile-users/">Statista</a>&nbsp;em 29 de Outubro de 2021
Fonte: Statista em 29 de Outubro de 2021

Quantos % desse total de pessoas tem condições de adquirir gadgets de extensão de realidade? O Zuck disse que pode até subsidiar o preço de equipamentos no início, se construir um marketplace do zero exige uma queima de caixa absurda, imagina criar um universo do zero e ainda convencer as pessoas de que viver nesse universo virtual é mais legal que viver o mundo real?

Mais importante sobre toda essa visão do Metaverso: quantos % dessa base da Meta Inc. de fato quer viver essa visão do Zuckerberg? O quanto isso não é só o sonho de um cara extremamente arrojado e viciado em tecnologia?

Se hoje em dia já vai se formando uma segregação entre incluídos digitalmente e excluídos marginalizados na sociedade, o que vai acontecer se o projeto vier a vingar?

E os governos? O quanto vão deixar essa visão do Metaverso sobreviver antes de tomar o controle da Meta Inc.? Muito poder concentrado em uma só empresa é um perigo danado. Muito poder concentrado no Estado já temos vários e vários péssimos exemplos ao longo da história do que pode acontecer.

E o pior de tudo na minha visão: quando quem não entende absolutamente nada do assunto vier a criar leis de regulação sobre isso, pode ter certeza absoluta, se esse negócio for pra frente você vai ter que declarar sua casa no Metaverso no imposto de renda.

AEC no Metaverso (7/7)

Imagine..
Imagine..

Diante de tudo o que li e estudei sobre o tema nas últimas semanas espero que tenha ficado um pouco mais claro sobre o que todo esse tal de Metaverso se trata, fizemos o melhor para deixar a coisa o mais próximo do dia-a-dia possível.

Para o pessoal de Arquitetura, Engenharia e Construção o metaverso pode ser um total novo leque e oportunidade e vendas de serviços e produtos, pode ter certeza que lá o jogo começa praticamente do zero e criar conteúdo, principalmente dentro de aplicações parecidas com o Horizon, pode ser um bom nicho.

As universidades que se cuidem: a demanda por cursos para construir o Metaverso pode deixar obsoleto mais da metade dos cursos existentes hoje se não houver uma revisão de currículo. O ideal é que novos cursos se formem como ramificações, até porque vivemos e comemos no mundo real.

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Obrigado,

Abs.

Tiago Ricotta

Publicado em 10 de Novembro de 2021 às 18:01