Impactos de UX nos custos de AEC
12
0

Impactos de UX nos custos de AEC

#0033: “Os engenheiros de software que trabalham com interface provavelmente recorrem ao lamentável padrão Leia o Manual. Para Design Thinkers, no entanto, os comportamentos nunca são certos ou errados, mas são sempre significativos.” Tim Brown.

Tiago Ricotta
13 min
12
0

#0033: “Os engenheiros de software que trabalham com interface provavelmente recorrem ao lamentável padrão Leia o Manual. Para Design Thinkers, no entanto, os comportamentos nunca são certos ou errados, mas são sempre significativos.” Tim Brown.

Change by Design (1/7)

Tim Brown no Ted Talks sobre Design Thinking
Tim Brown no Ted Talks sobre Design Thinking

Tim Brown é um gênio.

Autor da frase do subtítulo desta newsletter, talvez o livro “Change by Design” seja o livro que mais tenha impactado minha carreira profissional no momento em que tive que me aprofundar sobre quebrar formatos de trabalho tradicionais e colocar as pessoas no centro das discussões de mudanças organizacionais.

Um grande amigo repete a todo o momento que mudanças são feitas com pessoas e não apesar delas, isto combinado com o Change by Design definiu dois anos de um trabalho.

Quando se fala de adoção de tecnologia em um mercado tradicional e fragmentado como o de Arquitetura, Engenharia e Construção é até impressionante como tão pouco se fala e se dá importância para a experiência que Arquitetos e Engenheiros acabam tendo no seu dia a dia de trabalho.

No fundo, o produto que é construído pelo mercado AEC é fruto de um processo de design em que ele pode mudar radicalmente de acordo com o repertório e referências que os criativos vão incorporando na vida profissional.

É menos sobre “nada se cria e tudo se copia” e mais sobre um estudo aprofundado do entendimento do que vai impactar as pessoas que irão utilizar o espaço construído, o quanto se está atendendo a necessidade daquilo que foi dado no briefing.

No ano passado fui convidado para palestrar sobre o tema em alguns eventos internos da empresa, o tema que me veio à mente foi algo tão natural a época pela dor que estava sentido no momento que não tive dúvidas em evoluir o tema desde então e culminando na apresentação de 15 minutos do evento do SINAENCO, a Era BIM desde dezembro de 2021.

A simplicidade grita uma necessidade que para mim, pelo menos, é latente, mas que talvez eu seja menos resistente a esta dor do que o mercado no geral. Afinal, tornar o complexo simples não é fácil, mas vejo que é muito necessário.

Das conversas com a IDEO e algumas pessoas disruptivas mais próximas foi sendo construído esse entendimento que vou compartilhar com vocês hoje e a partir daí vamos conversando e estudando o tema tentando encontrar soluções, sempre.

Afinal, a mudança se dá pela proposição, testes, validações e processo iterativo, nunca de maneira imperativa. Pode ser que a vida poderia ser mais doce? Sim, mas as vezes o agridoce de hoje já resolve metade do problema do mercado e este assim o aceita e rejeita a ideia da mudança.

São escolhas.

UX (2/7)

Sinto trazer mais um maldito acrônimo para a já saturada lista de siglas que temos que lidar no nosso dia-a-dia, mas UX no mundo de tecnologia representa a experiência do usuário.

Segundo o dicionário Oxford, a experiência do usuário quer dizer o seguinte:

O que é UX?

us·er ex·pe·ri·ence (hu·man ex·pe·ri·ence)1. a experiência geral de uma pessoa ao usar um produto, como um site ou aplicativo de computador, especialmente em termos de como é fácil ou agradável de usar. "se um site degradar muito a experiência do usuário, as pessoas simplesmente ficarão longe"

Steve Jobs no lançamento do iPhone
Steve Jobs no lançamento do iPhone

Particularmente gosto da definição da IDEO de que deve ser experiência humana e não experiência do usuário, afinal quem usa todos os sistemas são os humanos.

Dito isto, existem alguns clássicos vídeos que demonstram claramente o poder que o pensamento do design pode ter nas nossas vidas e dois são extremamente relevantes para mim:

  • A IDEO participando de um programa de TV para explicar o conceito de Design Thinking e repensando um simples carrinho de supermercado.
  • Steve Jobs apresentando o iPhone.

O vídeo da IDEO é um clássico. A apresentação do Jobs e a linha de raciocínio que usa para chegar no iPhone é uma das coisas mais fantástica que já tivemos no mundo de tecnologia.

Do vídeo do Jobs se atente a partir do minuto 5:00 quando ele explica como a Apple eliminou os teclados dos celulares e substitui a caneta pelo dispositivo revolucionário que as pessoas já nascem com.

Change by Design.

A cadeira na sala (3/7)

Sorria.
Sorria.

Processos de mudanças culturais são sempre muito complicadas de serem feitas, mais ainda se você exclui as pessoas do processo de decisão, desta forma, é imprescindível ouvir e escutar as pessoas.

Houve uma passagem na minha vida que foi muito marcante e vou compartilhar com vocês.

Ao querer descobrir qual era a dificuldade dos arquitetos em conseguir produzir todas as informações que eram solicitadas em fase de proposta de venda de projetos de arquitetura, me sentei ao lado de um arquiteto que estava projetando uma sala de reunião e estava com uma frustração grande em relação ao trabalho que estava fazendo.

Me sentei ao lado dele e perguntei qual era o motivo da frustração? A resposta mudou meu pensamento: “você está vendo esta sala de reunião? Olha, eu só quero pegar uma mesa (e foi até o ícone de mobiliário do software) colocá-la nessa sala de reunião e viu, ficou linda, o cliente vai amar!! É isso que eu quero fazer e não ficar gastando energia se a placa do drywall é X, Y ou Z”.

Os comportamentos nunca são certos ou errados, mas são sempre significativos. Se você quer puxar mais para a linha de tecnologia e glorificar de pé o BIM na igreja, vai ter um entendimento de que o arquiteto deveria sim se preocupar no impacto dessa decisão de projetar a sala em quem, como diria Catelani, vai vir a jusante no processo.

Agora, se você for na linha da arquitetura e no pouquíssimo tempo que geralmente se tem para produzir projetos, entre preencher parâmetros de informação e fazer um projeto que encante o cliente e faça a venda, talvez o foco seja em realmente deixar o projeto bonito, afinal, se não vender, não tem processo a jusante.

A conversa foi um gatilho.

Agora a Nasa vem (4/7)

Quem nunca ouviu “agora a Nasa vem estudar os brasileiros”?

A Nasa é bem reconhecida pelos seus mais complexos sistemas de engenharia que levaram o homem a lua e criou uma infinidade de tecnologias a partir disso. Obviamente na foto a seguir são outros tempos, outras tecnologias, outra linha de pensamento, mas exemplifica perfeitamente o que quero dizer:

outros tempos, outras tecnologias, mas exemplifica bem o processo de ler o manual
outros tempos, outras tecnologias, mas exemplifica bem o processo de ler o manual

Comparando a Nasa com a SpaceX temos uma completa diferenciação no processo de experiência do cosmonauta. Enquanto para a ir para a lua o cosmonauta precisava de um manual de instrução para saber que botão deveria apertar nos sistemas da Nasa, na SpaceX a pessoa tem uma tela com todas as informações de que necessita.

Qual o impacto no final das contas? Bom, suponho que o tempo de treinamento do sistema da Nasa seja um negócio absurdamente mais alto do que o tempo de treinamento do sistema da SpaceX.

O foco do cosmonauta não é em sobreviver com o sistema através de um manual é em completar a missão focando em outros detalhes e possibilidades que tiram a atenção dele do maldito manual.

Deveria ser exatamente assim nos processos de desenvolvimento de projetos utilizando BIM, menos tempo ensinando clique clique de software, livros e BIM Mandates de 150 ~ 200 ~ 300 páginas e mais Learn by Doing, teoria aplicada no dia-a-dia para diminuir a barreira de novos entrantes e estudantes no mercado.

Para que facilitar se podemos complicar, não? Afinal cursos, métodos e lançamentos movimentam a economia.

O Guarda-Corpo (5/7)

Antes de explicar a história do guarda-corpo só gostaria de pontuar que não estou desmerecendo a tecnologia ou a empresa ou qualquer coisa do tipo, é só uma opinião centrada em algo que eu mesmo já tive a oportunidade de falar diretamente para o time de programação do pessoal em Waltham e Shanghai, então nada novo aqui, feedback de usuário.

Para mim, uma das coisas que mais ilustram a falta de UX em softwares BIM é a imagem abaixo retirada do Revit Pure:

Fonte: <a href="https://revitpure.com/">Revit Pure</a>
Fonte: Revit Pure

Quanto tempo você acha que é necessário para explicar para um marinheiro de primeira viagem como configurar um guarda-corpo no Revit?

Fonte: LinkedIn (alô Ricardyn, sdds)
Fonte: LinkedIn (alô Ricardyn, sdds)

Sério, 63 parametros e uma aula inteira no principal evento da Autodesk (Autodesk University) só para falar disso é meio over, não dá. Isto é um elemento, agora imagina que para qualquer elemento construtivo tudo o que você fazer você pensar e configurar trocentos parâmetros para ter a falsa sensação de ter o controle das coisas.

Quanto custa para as empresas manter um nível de excelência dentro de casa para que não haja erros na modelagem e fazendo o pessoal aprender qual dos 63 parâmetros deve ser configurado para deixar a coisa correta? E se a pessoa achar que esta fazendo algo correto e na verdade esta espelhando o guarda-corpo e isto leva a uma falha na obra (true story)?

O que me incomoda nisso não é o fato de ter os 63 parâmetros de controle, é o mercado em geral (e com certeza vai vir a banda que não aceita opiniões distintas jogar pedra) achar isso normal e a vida continuar sem qualquer melhoria no assunto e ter que ler o manual toda vez.

Para o usuário acostumado esse custo sai na urina, agora isso é tipo de coisa que coloca a barreira de entrada no mundo de tecnologia mais alto em AEC. Isto é o tipo de coisa que mais afasta do que aproxima os born digitals do mercado. E principalmente, Isto não é sexy.

Falharemos miseravelmente como indústria se os born digitals tiverem que ter esse tipo de experiência na Arquitetura e Engenharia. Como atrair uma criança que hoje confunde revista com tela de celular de que fazer um projeto de uma casa precisa passar pela tela preta do CAD na faculdade? Complicado.

No fim é um fucking guarda-corpo, de quantos elementos é feito um projeto?

Level of capability needed (6/7)

AEC não escala no modelo atual
AEC não escala no modelo atual

Arquitetos e Engenheiros são Arquitetos e Engenheiros, a tecnologia pode limitar ou potencializar suas habilidades? Pode, mas isto deveria ser fator de barreira para contratação através das exigências? Pela lógica colocada nas descrições das vagas existente o mercado acha que sim, a lista de exigência só aumenta na base operacional.

Aqui acontece algo interessante, para as vagas operacionais estão se exigindo o Master das Galáxias ao passo que quanto mais se sobe a pirâmide das organizações menos se entende de tecnologia e do que está acontecendo dentro da operação e principalmente o como se esta fazendo.

Obviamente não faz o menor sentido o topo saber o clique clique das coisas e como configurar os 63 parâmetros de um guarda-corpo, mas o ponto aqui é entender qual o impacto de times desnivelados podem ter na operação e principalmente no negócio.

Um achado interessante analisando dados e observado a operação de um projeto de arquitetura acontecendo foi perceber que uma equipe de quatro pessoas em que três eram bem capacitadas no software de modelagem e uma quarta estava iniciando seus passos na ferramenta que a produtividade do time cai abruptamente.

Todos os profissionais eram arquitetos excepcionais, mas o fato de ter alguém com pouca proficiência no software e que está sendo impactada diretamente pela falta de UX dos 63 parâmetros acaba fazendo com que este profissional sempre solicite ajuda e interrompa o trabalho dos outros. A imagem abaixo ilustra mais ou menos a questão:

Custos ocultos, custos ocultos everywhere...
Custos ocultos, custos ocultos everywhere...

Esta falta de UX pode fazer com que este profissional que está começando cometa alguns erros que levem a corrompimento de arquivos, fique parado esperando ajuda, tenha dúvidas que o levem a pensar 10 vezes sobre o processo retardando o desenvolvimento do projeto e por aí vai.

Isto faz parte do que considero custos ocultos em relação a adoção da tecnologia, pois para sanar este tipo de problema as empresas devem manter um programa de capacitação continuada e melhoria de contínua de seus processos.

Existem muitas e muitas maneiras de se resolver problemas de modelagem, não existe uma verdade única e as vezes uma atualização nos softwares já faz com que um determinado processo seja revisto e ganhe em produtividade, só que para ganhar em produtividade você precisa capacitar, para evitar parar pessoas da equipe e ganhar confiança no que se esta fazendo é preciso prática e pouca gente contabiliza essas horas, mas devem sim ser contabilizadas.

Se você tem um time de 100 arquitetos que precisam de uma hora de treinamento por semana para evoluir suas habilidades você vai precisar de 110 horas de investimento do escritório para isto (alguém tem que preparar material, tirar dúvidas, preparar webinar e etc).

É preciso manter bibliotecas e templates inteligentes atualizadas. Novas versões precisam muitas vezes de atualização de hardware, de rede e de materiais didáticos porque usuários percebem diferenças de logos e caem em descrença quando percebem que o material é antigo e defasado.

Se você esta em projetos em uma versão de software e o projeto para e volta dali a dois ou três anos existe um custo de gerenciamento de atualização. Se a pessoa entra e precisa ser treinada nos padrões no onboarding, as vezes você vai perder aquele profissional por mais dois ou três dias.

Com certeza em escritórios será necessário de apoio de profissionais dedicados e as vezes também apoio de consultorias externas.

Esse custo todo vem associado por conta de 63 parâmetros? Não, mas quando você conhece processos em que as pessoas nem exigência de software estão fazendo porque no onboarding de 2 ou 3 dias a pessoa já sai capacitada e jogando como parte dos titulares do time e não como reserva que vai entrando no final dos jogos para tentar o marcar o gol da vitória você se questiona bastante sobre os processos atuais.

Principalmente quando o mercado acha normal ter processos de contratação de projetos com BIM Mandates de 150~200 páginas. Noves fora setor público que é uma coisa a parte, no setor privado é um absurdo ter padrões de 150 ~ 200 páginas. Livros de 600 páginas de mastering elementos como o guarda-corpo.

Enfim, são as várias as consequências de não pensar em simplificação e democratização real da tecnologia, eu acredito muito que o mercado ganharia absurdamente se o processo fosse mais conectado e menos linear.

Think Big.

Pense o futuro (7/7)

Dado é melhor que petróleo porque dado é renovável.

Analisar o que o futuro do desenvolvimento de projetos pode ser é muito legal porque não creio que o futuro esta ligado a arquitetos e engenheiros olhando telas de computador e colaborando apertando botões de sincronização.

Já é possível fazer projetos utilizando outras formas de construção geométrica e colaboração, muitas coisas ainda são embrionárias, mas quando empresas se juntam a especialistas em Design para repensar formas de construir projetos é quando vejo que há muito o que o mercado AEC pode ganhar com estas parcerias.

Aqui, aqui, aqui e aqui vocês podem mais sobre este futuro que envolve UX na veia e menos 63 parametros para configuração. Isso porque nem falamos de games.

Se você gostou deste conteúdo se cadastre na newsletter e compartilhe com seus pares, quanto mais começar a discutir processos de UX em seus fluxos de trabalho mais o mercado tem a ganhar:

Seguir meu Canal
Compartilhar conteúdo

Obrigado,

Abs.

Tiago Ricotta

Publicado em 01 de Dezembro de 2021 às 22:44