Eu tinha tanto para dizer e não disse. Por que não?
Eu tinha tanto para dizer e não disse. Por que não? |
Eu podia sentir o gosto das palavras que se acumulavam na garganta, prontas para sair. |
Até tentei, mas alguém atravessou na frente, certamente com algo muito mais interessante para dizer. Recuei, e aí perdi a chance de falar outra vez, mas a garganta apertou. Já não podia conter aquele amontoado e, por isso, as paredes da garganta se comprimiam, loucas para expulsá-las dali. |
Tentei de novo, não fui ouvida, murchei. |
Agora vai, né? Vou tentar de novo. |
Tentei, mas então não disse. |
Eram muitas palavras. Muitas mesmo. Algumas deveriam ser engolidas, outras cuspidas, mas eu fiquei tão afobada pela perspectiva de finalmente falar, que me atropelei. Não contive nenhuma e, no fim, me perdi. |
Eu sempre me perco. |
Acho que as palavras que não saíram boca afora se esconderam no meu coração. Deve ser por isso que ele está apertado, pesado, triste. |
Mas agora é tarde, já não tenho com quem falar. |
Talvez eu devesse escrever uma longa carta, para ninguém em específico. Só uma carta recheada de coisas. |
Talvez. |
Mas o que eu mais queria nessa coisa toda de falar era obter uma resposta. |
De preferência, de alguém que não eu mesma. Alguém de fora, porque o outro parece o meio de descobrirmos quem somos a partir do que não somos. |
Eu devia ter dito. Eu queria. |
Mas eu não disse. |