Cresce o poder da extrema direita em Israel
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Cresce o poder da extrema direita em Israel

A extrema direita cresce em Israel. Benjamin Netanyahu se associou a ela para retornar ao cargo de primeiro-ministro, mas agora parece ter perdido o controle deste movimento. E é impossível prever os resultados disso.

Henry Galsky
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Os sinais estão aí para quem quiser vê-los. Não é necessário nem se dedicar muito a pesquisar, nem um olhar muito atento. A Caixa de Pandora está aberta em Israel. Como ocorreu em muitos países, inclusive no Brasil, não é exatamente fácil retornar ao estado anterior. Depois que o extremismo de direita se assenta na sociedade é complexo imaginar uma rota de saída.

Em Tel Aviv, milhares de manifestantes protestam contra o projeto de Reforma Judicial 
Em Tel Aviv, milhares de manifestantes protestam contra o projeto de Reforma Judicial 

E associar Israel à extrema direita é uma tarefa complexa. Isso porque o movimento que sustenta as diversas correntes que operam no mundo se apoia sobre alguns pilares importantes. Seja na Itália, Hungria, Polônia ou no Brasil, uma de suas bases é o antissemitismo. Seja a versão que atribui a George Soros as responsabilidades por todas as questões nacionais (manifestações de opositores ou imigração), seja a que abertamente culpa os judeus, seja a que imagina conspirações internacionais que têm como alvo uma suposta "pureza" ou "inocência" nacionais ora perdidas. O antissemitismo está imerso em cada uma dessas e outras narrativas.

Em Israel a extrema direita precisa se contorcer para encaixar esses discursos e desviar daquilo que a sustenta em outras partes do mundo. Pode-se dizer que o discurso da extrema direita israelense não é judaico de nenhuma maneira porque o judaísmo é plural e certamente não é racista. Mas essa é uma discussão distinta e que não cabe neste texto. Mas a extrema direita daqui tem como alvos prioritários os seus inimigos internos: a oposição (toda ela), a modernidade, a pluralidade em si, as minorias (todas elas, novamente) e os árabes, em especial.

E aí o que ocorreu em Huwara ocupa papel central neste cenário. Os fatos falam por si. O problema é que, para além dos atos de extremistas, o extremismo em si subiu ao poder. Não personalizado em Netanayhu, porque o primeiro-ministro israelense é adaptável, é um político que gosta de circular nos fóruns internacionais, que se importa com a própria biografia e que certamente entende que dar respaldo a atos terroristas e supremacistas não o ajuda neste projeto. Mas Bibi permaneceu na oposição por cerca de um ano e manteve a sua obsessão por retornar ao cargo. Um cargo que ele imagina não haver nenhum outro ser humano capaz de exercê-lo. E então, diante deste fato, optou por aliar-se a duas das figuras mais radicais do cenário político israelense: os atuais ministros Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich - que, juntos, dão a Netanyahu 13 cadeiras no Knesset.

E esta guinada à extrema direita está agora manifesta em todas as partes, inclusive para além do jogo político no parlamento. Está nas ruas, nas conversas, nas intimidações. Como escrevi, a Caixa de Pandora foi aberta. E talvez neste ponto resida o erro de Bibi: muito embora sua prevalência política tenha se afirmado no século 21, ele ainda pensa a política como um conjunto de processos do século 20. E parece acreditar na possibilidade de usar o poder dessas figuras da extrema direita neste momento para posteriormente descartar tudo a um só tempo - Ben Gvir, Smotrich e este movimento. Bibi usa muitas vezes a linguagem da extrema direita, muitos de seus métodos e teorias, mas não compra o pacote completo. E talvez esta seja a sua principal contradição.

Mas o que as ruas de Israel mostram - e o jogo político que Bibi crê controlar em sua integralidade - é justamente o oposto: os atos em Huwara, os extremistas que cuspiram e atiraram pedras em israelenses na entrada de um kibutz no norte do país (o movimento kibutziano é associado à esquerda), os ataques violentos aos jornalistas do país, as teorias de conspiração reproduzidas por Yair Netanyahu (o filho mais novo de Bibi), a milícia que Ben Gvir pretende obter; tudo isso deixa claro que o extremismo de direita não é mais um movimento controlável e contornável. É um movimento que caminha com as próprias pernas e cujos prejuízos ao país de forma mais ampla são incapazes de serem previstos. Como a realidade brasileira e de outros lugares tem a ensinar, é um caminho cujo início é possível de ser identificado, mas de consequências incalculáveis. Ao seguir por esta rota, Israel tem muito a perder.