Novos tempos, velhos erros...
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Novos tempos, velhos erros...

A crítica de certos setores da sociedade quanto ao aumento dos juros proposto pelo Bacen não se sustenta em bases sólidas e tem uma visão reducionista sobre o papel da autarquia...

João Vitor Vasconcelos de Araujo
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Nos últimos meses surgiram no debate público críticas a política de juros utilizada pelo Banco Central do Brasil (Bacen), tratando-a como algum tipo de excesso de cuidado e trazendo críticas quanto à relação entre causas da inflação que enfrentamos e as medidas efetivas tomadas pelo Bacen. Tais críticas não poderiam estar mais erradas e vou tentar explicar seus erros rapidamente aqui.

Banco Central e alta dos juros 

Os juros são um instrumento primário do Banco Central para trabalhar as expectativas e fazer o controle da inflação em momentos de descontrole, através deles é possível aumentar ou diminuir os incentivos da economia auxiliando o controle da inflação. Entretanto, como falei em meu texto sobre inflação, suas possíveis causas não são uma só e a má aplicação de remédios pode levar a situações econômicas ainda mais graves.

Causas de nossa inflação

A causas da inflação que enfrentamos hoje são variadas mas podemos dizer que ela é, em seu cerne, uma inflação ligada aos custos e não uma inflação por demanda.

Digo isso porque suas principais causas são nosso cambio, que esteve defasado nos últimos anos, e o preço do petróleo que, devido ao conflito Russia x Ucrânia, apresentou uma alta acima do normal em tempos recentes. Isso, combinado aos custos de logística internacional, que ainda não retornaram ao padrão pré-pandemia, levou a um aumento generalizado no custo dos insumos levando a um aumento dos preços na economia.

Observando essas causas primarias, alguns empresários e economistas, de diversas linhas de pensamento econômico, passaram a criticar a política de juros aplicada pelo Bacen, sobre o pretexto de que ela não seria efetiva por não termos, no atual cenário, uma inflação por demanda. Essas críticas não estão 100% erradas, porém as coisas não são tão simples quanto os críticos do Bacen querem te fazer acreditar, para entenderem o porque disso vou falar um pouco sobre os impactos da política monetária, sobre o pensamento por traz da alta nos juros que vemos hoje e falar um pouco das metas para inflação.

Possíveis impactos da política do Banco Central 

Ao falarmos de politica monetária, ela pode se encaixar em dois perfis: Politica monetária expansionista  ou política monetária contracionista.

No caso desse texto focaremos na politica contracionista, ja que ela tem sido o caminho tomado pelo Bacen nos últimos meses. Os impactos de uma política contracionista são, em curto prazo, danosos para o crescimento econômico. Como o Banco Central reduz os incentivos na economia através de juros, passa a valer mais a pena botar o dinheiro na renda fixa do que pegar empréstimos para investir em empreendimentos. Com isso, a economia inevitavelmente passa por um período de maior cadência. Em compensação, com menos incentivos, temos também menos demanda e assim menos impulsos para empurrar a inflação.

Através do controle dessas variáveis, e da administração das expectativas, o Bacen busca manter sob controle os índices inflacionários e com isso seguimos para o regime de metas para inflação

Regime de metas para a inflação e suas bases

De maneira resumida, o regime de metas para a inflação é um regime monetário aonde o Banco Central se compromete a atuar a fim de alcançar certa meta anunciada publicamente. No regime de metas do Banco Central do Brasil (BCB) são definidas: a meta pontual e as bandas no entorno da meta, definem-se bandas para dessa maneira considerar a ação de fatores externos sobre os preços, e consequentemente sobre a inflação.

Quando pensamos na atuação do Banco Central, não veremos ele atuando somente sobre a inflação do momento, mas também sobre os ciclos inflacionários futuros. Isso acontece pois a inflação de hoje, e suas consequências adjacentes, impactam as expectativas futuras elevando ainda mais a curva inflacionária em médio e longo prazos.

Por esse motivo a critica feita sobre a atuação do banco central não faz sentido algum, como o próprio Bacen explicou em sua ultima ata: "O conflito na Europa adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário prospectivo, e impõe um choque de oferta importante em diversas commodities. O Comitê considerou que a boa prática recomenda que a política monetária reaja aos impactos secundários desse tipo de choque, prática que leva em consideração as usuais defasagens dos efeitos da política monetária.” Ou seja, o Banco Central, com essa ultima sequencia de altas, busca não tratar a inflação de hoje, que é uma inflação causada por fatores externos, mas sim tratar seus impactos na inflação futura, dessa maneira, tratando em um horizonte mais longo os problemas inflacionários e permitindo que voltemos à meta nos próximos anos. Entretanto, como foi dito no ultimo tópico, esse remédio não vem sem seu conjunto de amarguras e, para voltar a meta, o banco central terá de fazer escolhas difíceis. No longo prazo esses sacrifícios valem a pena para manter os preços sobre controle e impedir uma escalada inflacionária, no curto prazo, porém, as empresas e demais entes da economia sentem os impactos dessas escolhas. 


Se gostou do texto e achou que agregou algum conhecimento a você, não deixe de compartilhar com seus amigos usando o botão abaixo! Eu sou João Vitor Araujo e esse foi mais um texto da Dutconomics.

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