Fechem os olhos e imaginem duas situações. A primeira é você chegando de manhã cedo da Europa ou os Estados Unidos, de um voo de oito, dez horas, cansado da viagem, independente da classe que você viajou, doido para chegar em casa, tomar aquele banho e descansar e ainda ter que enfrentar um engarrafamento logo na única rota de saída do aeroporto, seja pelo excesso de veículos ou devido a uma operação policial. Imaginaram? Complicado, né? Agora imaginem a segunda situação, onde nesse mesmo horário, você precisa estar no aeroporto, mas precisa enfrentar os mesmos problemas de quem está chegando enfrenta. E aí, imaginaram? Pois, essa é a realidade de cariocas e turistas que embarcam e desembarcam no aeroporto do Galeão diariamente. O aeroporto está localizado na Ilha do Governador e as formas de se chegar e sair, além de táxis, veículos de aplicativos e veículos próprios, é por ônibus, e a única forma de se chegar ou sair da Ilha do Governador, é passando pela Linha Vermelha. Nem mesmo a olimpíada em 2016 conseguiu conter a debandada de voos. Cancelamentos de rotas e redução de frequências se tornaram rotina, ao ponto do seu Terminal 1, hoje se encontrar desativado por falta de passageiros. Muitos dizem que o problema está no histórico de corrupção dos governos, que desestimula investimentos na cidade e/ou estado, outros culpam a violência que desestimula a vida de turistas. Ambas as justificativas são validas, mas o principal problema que o Galeão enfrenta hoje, é a falta de uma conexão rápida com o resto da cidade. |
Vou me usar como exemplo. Eu moro na Barra da Tijuca e toda semana estou voando a trabalho para Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, ou até mesmo para visitar meus pais que moram em Belo Horizonte, vez ou outra. Eu saindo de casa para o Santos Dumont às seis e meia da manhã, utilizo um ônibus convencional até o Terminal Alvorada, onde conecto com BRT utilizando uma linha expressa até o Jardim Oceânico, faço a conexão com o Metrô seguindo até a Cinelândia, conde faço outra conexão, dessa vez com o VLT, chegando no aeroporto Central da cidade em uma hora e meia no máximo. Se eu for de carro para o Galeão, o tempo de deslocamento é praticamente o mesmo, seguindo pela Avenida Ayrton Sena, Linha Amarela e Vermelha. Se eu utilizar ônibus convencional até o Terminal Alvorada e conectar com BRT utilizando a linha Semidireta até o Galeão, o tempo de viagem em média pode levar até duas horas. Isso mesmo, duas horas. Dez minutos no convencional e o resto no BRT por conta de sinais de trânsito e sua velocidade limitada a 60 km/h. Já fiz esse percurso em bem menos tempo, mesmo assim, acaba não compensando. Na primeira vez que utilizei o serviço, quase perdi o voo, pois julguei erroneamente que seria mais rápido. Lembrando que de carro ainda tem o estacionamento. Então, o Galeão para mim, acaba ficando como plano B |
Mas quando uso o Galeão? Bem, uso o Galeão quando o horário, tanto de partida quanto de chegada estão fora dos horários de rush. Trocando em miúdos, para sair ou chegar, o horário dos voos deve ser entre as 9h e 16h., para evitar os engarrafamentos no trajeto, via Linha Amarela e Linha Vermelha. Fora desse horário, apenas quando são voos internacionais e mesmo assim, ultimamente tem sido mais vantajoso deixar a cidade pelo Santos Dumont e o país por Guarulhos. |
Então, o que precisaria ser feito para que o Galeão volte a se tornar um aeroporto competitivo? A resposta é complicada e muitas pessoas têm ideias que afirmam que irá resolver, mas o que eu considero primordial é que o aeroporto precisa ser conectado com o Centro da Cidade de forma rápida. Quando olhamos os maiores aeroportos do mundo, mesmo estando distantes do Centro, ele é conectado ou por trem, ou por linhas de metrô. Um exemplo disso é o aeroporto de Hong Kong que fica a aproximadamente 32Km do Centro da cidade e, é conectado por uma linha de trem de grande velocidade. Ou, Nova York que possui ligação através de um monotrilho conectado ao sistema de metrô. Esse monotrilho, leva e traz os passageiros dos terminais do JFK. |
Logo, no meu ver, um pacote de obras de mobilidade deverá sem implantado para facilitar o acesso ao aeroporto, que deveria ser implementado por etapas. Na primeira, implantação da linha de trem expresso saindo do aeroporto e seguindo direto para o Centro da Cidade, podendo conectar ao sistema de metrô e trem urbano na estação Central do Brasil ou até mesmo na antiga Estação da Leopoldina. Junto a implantação dessa linha, deverá ser concluído o projeto original da Linha 1 do metrô, partindo da Estação Gávea, seria escavado um túnel por dentro do Maciço da Tijuca, saindo na Usina e conectando na Estação Uruguai, formando um anel, que funcionaria como uma linha de distribuição dos passageiros, com composições circulando nos sentidos horários e anti-horários. E na segunda etapa, implantar o prolongamento da Linha 4 em dois sentidos. Na Barra da Tijuca, partindo da estação Jardim Oceânico e indo até o Terminal Alvorada e a partir da Gávea, seguindo via Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo, chegando até o bairro da Urca, conectando esta linha com a Linha 1 nas estações Gávea e Botafogo. Essa segunda etapa facilitaria os deslocamentos de cariocas e turistas para as Zonas Norte, Sul e Oeste da cidade, locais onde estão concentrados os pontos turísticos como praias, museus, hotéis e centros de negócios da cidade. |
Portanto, com o olhar e a percepção de quem precisa utilizar os aeroportos da cidade com frequência, a implementação de um sistema de transporte eficiente, conexão rápida entre os terminais do Galeão ao sistema de transporte no Centro da Cidade, facilita o acesso da população e turistas ao Galeão, que consequentemente, poderá trazer um incremento de passageiros e novas frequências e destinos tanto domésticas e internacionais, atração de investimentos e instalações de novas empresas na cidade, gerando economia e renda. Outro ponto importante, será o benefício que esse pacote de obras para o Galeão traria para os habitantes da cidade, principalmente para os moradores da Ilha do Governador, que ganhariam uma forma rápida de chegar e sair da ilha, sem enfrentar o trânsito de todo dia na Linha Vermelha. Claro que do ponto de vista teórico, é fácil eu dizer o que precisa ser feito, mas, na prática, não é tão simples assim. São obras caras, com alguns desafios de engenharia para enfrentar, como a transposição de trechos da Baia de Guanabara, por exemplo, para conectar a Ilha ao continente, mas que pode ser possível com parcerias público privado, incentivos fiscais ou até mesmo a aprovação para as empresas que queiram explorar esses serviços, conforme o Marco Legal das Ferrovias, aprovado em 2021. Aeroporto traz desenvolvimento, gera empregos e renda para a cidade. |