Outro dia, no trânsito matinal na Avenida Pedro I, vindo do aeroporto de Confins reparei no Sistema MOVE, um corredor de ônibus articulados da cidade de Belo Horizonte. Ônibus com aspectos de velhos, mal conservados, lotados obviamente c...
Outro dia, no trânsito matinal na Avenida Pedro I, vindo do aeroporto de Confins reparei no Sistema MOVE, um corredor de ônibus articulados da cidade de Belo Horizonte. Ônibus com aspectos de velhos, mal conservados, lotados obviamente como em toda grande cidade e parando em sinais de trânsito, o que me chamou muita atenção. Nesse pequeno texto, irei focar apenas na quantidade de semáforos nos corredores de ônibus e como isso interfere no serviço proposto. |
Começando pela Avenida Pedro I, lá próximo ao hospital Risoleta Neves, subindo e descendo, passando pela Barragem da Pampulha, entrando na Avenida Antônio Carlos com mais subidas e descidas e saindo lá no complexo da Lagoinha. Nesse percurso, contei 34 sinas, onde apenas 6 tinham motivos reais para estarem instalados em seus respectivos locais. Então me perguntei para que tantos sinais de trânsito em um corredor exclusivo para o transporte que deveria reduzir o tempo de deslocamento? Por que não colocar passarelas para o acesso dos usuários deixando o corredor livre dos semáforos desnecessários? |
Para podermos entender o que é o Sistema MOVE, basta sabermos que ele é apenas a reprodução do sistema BRT implementados em grandes cidades como Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro. A sigla BRT significa Bus Rapid Transit traduzindo, ônibus de trânsito rápido. Sua primeira implantação foi no Canadá e para ser considerado um BRT, as faixas devem ser exclusivas, ser implantadas no centro das vias, com estações onde serão realizadas os embarques e desembarques além da cobrança das tarifas e essas estações deverão estar no mesmo nível dos ônibus visando reduzir o tempo de embarque, desembarque e cobrança das passagens. |
Voltando... Então, fui entender como funciona o sistema. Segundo informações que estão disponíveis no site da própria Prefeitura de Belo Horizonte, “o sistema MOVE é composto de 16 linhas troncais, 73 linhas alimentadoras e 13 outras linhas diametrais que se integram nas estações de transferência.” Então, seguindo na leitura do site abri o diagrama do sistema e então eu entendi como funcionava, suas integrações e estações, mas a pergunta ainda me martelava a cabeça. Para que tantos semáforos desnecessários? Então no final do dia, resolvi encarar a Avenida Cristiano Machado e contei seis semáforos onde desses seis, quatro não havia necessidades no trecho entre a saída do túnel. Então, guardei essa informação e anotei ao retornar ao aeroporto de Confins. Enquanto aguardava meu voo de volta para o Rio de Janeiro, resolvi medir as distâncias dos dois corredores. Pedro I/Antônio Carlos e Cristiano Machado. O corredor Pedro I/Antônio Carlos tem cerca de 11,3 km e o corredor da Avenida Cristiano Machado 5,4 km. Com isso em mente tive a impressão de que corredor Cristiano Machado é mais eficiente com relação ao tempo de deslocamento dos ônibus. |
Se passaram duas semanas e retornei a BH, agora para uma temporada de uma semana na cidade. Nesses sete dias, tive um de folga. Então, o normal seria eu visitar os pontos turísticos da cidade, mas resolvi utilizar o sistema MOVE pela primeira vez. Peguei o Uber até a estação Vilarinho e de lá peguei o ônibus da Linha 65. Ainda na estação resolvi calcular o tempo que o ônibus ficava parado nos sinais que considero sem nenhuma necessidade. O percurso até o Centro no corredor Pedro I/Antônio Carlos durou pouco mais de cinquenta e cinco minutos com o ônibus parando em 15 sinais com tempo médio de um minuto, ou seja, quinze minutos perdidos por um sinal que poderia ser sido substituído por uma passarela. A viagem poderia até ser mais rápida se o ônibus pudesse seguir numa velocidade maior, uma vez que ele circula em uma faixa exclusiva, fora a perceptível falta de força nos trechos em aclive. Sendo assim, o Rapid Transit, na minha visão se vai. |
Portanto, se eu ficar aqui apontando todas as falhas do sistema, posso facilmente provar que o MOVE é um BRT com band-aid, onde algumas linhas circulam nos corredores e quando chegam ao Centro, mesmo com as faixas exclusivas, ainda precisam competir nas paradas com as linhas convencionais e quando os ônibus acessam os bairros ficam reféns do trânsito local e por aí vai. Então, para não ficar só na crítica, deixo uma sugestão. Por exemplo: A linha 5106 Bandeirantes x BHShopping. Tem necessidade dela cruzar toda a cidade? E se ela virar uma alimentadora assim como no sistema BRT do Rio de Janeiro, onde uma linha convencional entra no bairro e traz o passageiro até estação do BRT? BH tem uma vantagem que o Rio não tem. Alimentar o sistema na “veia”. No Rio, o passageiro precisa desembarcar do ônibus e caminhar até a estação. Já em BH, devido ao tipo de ônibus, o passageiro pode desembarcar direto na estação. Pegar o MOVE até o Centro e de lá seguir em outra alimentadora até o BHShopping. Funcionaria assim: O passageiro embarca no Bandeirantes em uma linha alimentadora e desembarca na estação UFMG. Lá, ele embarca na Linha XX até a estação Carijós, onde ele irá desembarcar e pegar outro ônibus alimentador até o BHShopping. Esses ônibus alimentadores, teriam pontos exclusivos, sem competição com outras linhas convencionais reduzindo o tempo de viagem. Creio que todos ganham. Ganha a empresa que explora o serviço com a redução dos custos de manutenção e combustível, ganha o passageiro com um tempo de viagem menor, e uma tarifa mais baixa e ganha a cidade com um sistema de transporte mais eficiente e que poderá dizer que é RT de rapid transit ou, transito rápido. |