3 perguntas para Eric Lallier, curador do Jimmie Rodgers Digital Archive
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3 perguntas para Eric Lallier, curador do Jimmie Rodgers Digital Archive

Eric Lallier é uma das personalidades mais atrativas do universo Bob Dylan no Twitter. Passei a segui-lo por indicação de Breanna McCain (confira a entrevista dela neste link). O que me chamou a atenção foi um insight genial de Eric: usar "Th...

Gab Piumbato
6 min
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Eric Lallier é uma das personalidades mais atrativas do universo Bob Dylan no Twitter. Passei a segui-lo por indicação de Breanna McCain (confira a entrevista dela neste link). O que me chamou a atenção foi um insight genial de Eric: usar "The man in me" como despertador.

Esta é a minha canção preferida de "New Morning". Talvez seja mesmo uma das minhas dez canções preferidas do Bob Dylan quando não se trata de hits ou das mais conheicdas. Uma vez fiz um top ten de versões fora dos álbums oficiais, e esta entrou na lista com a versão do clássico show de Avignon em 1978.

Bem, mas vamos ao motivo principal do texto de hoje. A seguir, você lê 3 perguntas para Eric Lallier.

1) Eric, em primeiro lugar, por que "The man in me"? O que esta canção significa para você?

“The Man in Me”, para mim, captura Dylan no seu estado mais feliz. Seu fraseado e entrega vocal estão cheios júbilo verdadeiro. Os “la la las”, especialmente, são cantados com uma eloquência bastante apaixonada. Já tuitei: quando "The Man in Me" começa, meu coração para de bombear sangue e preenche minhas veias com pura euforia – e eu continuo a afirmar isso com todo o coração.

O alegre órgão de Al Kooper traz um enorme sorriso ao meu rosto. A performance de Bob no piano é tão memorável quanto o seu desempenho vocal. Conforme a melodia cresce, a interação entre seu canto e seu ritmo no piano, edificante, é deslumbrante. O baixo estrondoso de Charlie Daniel entra no mix e atua como o batimento cardíaco da música. Os joviais vocais de fundo de Hilda Harris, Albertin Robinson e Maertha Stewart estão repletos do poder divino de todo um coro gospel. O dueto de guitarra entre David Bromberg e Ron Cornelius é maravilhoso e acrescenta muito à natureza edificante da melodia. O ritmo anda à perfeição por causa do groove relaxado de Russ Kunkel.

Antes de escolher "The Man in Me", eu tinha usado o tom de alarme genérico do meu celular e apertava o botão de soneca botão indefinidamente – o que me causava uma enorme quantidade de estresse diário. Como resultado, eu estava sempre na correria, o que é um hábito muito desagradável. A manhã agora se tornou minha hora favorita do dia. Começando às 5h30 todas as manhãs, enquanto “The Man in Me” toca, por três minutos e seis segundos, minha vida é perfeita.

2) Qual a importância de Bob Dylan na sua vida?

Uau, essa é uma ótima pergunta. Ele é tão importante para mim quanto comida e abrigo, por mais exagerado que pareça. Eu não seria a pessoa que sou hoje sem sua música e o senso de companheirismo que ela tem me trouxe (e continua a me trazer). Tento manter uma visão da vida o mais positiva possível, mas lutei contra a ansiedade, bem como a baixa autoestima – e quando me sentia sozinho, sua música me trouxe uma sensação de consolo. Isso me levantou das cordas quando me senti genuinamente minúsculo, e sou para sempre grato. Eu o sinto menos como um artista e músico, e mais como um amigo que pode me fornecer orientação e familiaridade.

3) Por favor, fale um pouco mais sobre o seu projeto no "The Jimmie Rodgers Digital Archive". Bob Dylan tem um carinho especial por ele. Eu adoraria te ouvir falar sobre como você vê a influência de Jimmie em Bob e como os tributos do Bob a ele se inserem na tradição folk americana, ao mesmo tempo em que a renovam continuamente.

The Jimmie Rodgers Digital Archive” tem o objetivo de trazer o nome de Jimmie de volta para o centro das atenções. Ele é um artista com o qual me conectei em um nível quase celestial. Muitas pessoas são cientes dele historicamente, mas eles não sabem o quão influente ele foi como um artista popular, além de ser um pioneiro em seu estilo. Ele é o homem que inspirou Howlin’ Wolf a uivar. Ele era o cantor popular favorito de Robert Johnson. Seu alcance era muito maior para ser circunscrito ao mercado de música “caipira” (hillbilly), como a música era conhecida no país durante o seu auge. Ele foi um dos mais vendidos da Victor Talking Machine Company quando eles eram a entidade mais poderosa no mundo da música. Por trás das imagens e contos de rounders, assassinos, prisioneiros, álcool e vagabundos, estava um homem de família dedicado que se preocupava profundamente com seu esposa Carrie e sua filha Anita. Um homem que nunca cumpriu pena, e só bebeu álcool para limpar sua garganta antes de cantar, pois sofria de tuberculose.

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Os motivos que me atraem ao Jimmie são muitos dos mesmos que me atraem ao Bob. Quando ouço a música deles, há uma qualidade íntima, sinto que os conheço de verdade. Suas canções são ricas em imagens e contos que me transportam para uma viagem sônica através do espaço e do tempo. Jimmie não tem o crédito que merece por seu papel na polinização cruzada da música popular. Ele é bem visto na cena country americana, mas ele é muito maior do que o molde que criou, sendo a primeira estrela solo do country na era dos fonógrafos. Ele incorporou elementos da música havaiana, folk, caipira (hillbilly), blues, Tin Pan Alley e jazz, para criar um som distinto e diverso. Ele foi uma estrela na era da Tin Pan Alley, e suas composições se destacaram no cenário da música popular devido à sua estrutura narrativa, orientada para o personagem, bem como sua qualidade verdadeiramente humana. Ele sempre esteve disposto a experimentar e progredir em sua forma de arte.

Tanto Jimmie quanto Bob inspiraram muitos imitadores, mas nenhum capturou sua essência. Ambos são mestres da balada, embora seu conteúdo lírico seja diferente. Jimmie e Bob são almas gêmeas no sentido de que capturam mesmo a condição humana dentro da forma musical. Com cada sílaba, eles fazem você acreditar – e o puxam para dentro desse universo. Bob pode te fazer dançar, chorar, sorrir, mas o mais importante, ele simplesmente te faz acreditar.

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Não se esqueça de seguir o Eric Lallier no Twitter. Acompanhe também o seu trabalho à frente do Jimmie Rodgers Digital Archive. Este é um projeto que está apenas começando e merece o seu apoio.

Sou autor da melhor discografia comentada de Bob Dylan em português. Inscreva-se nesta newsletter clicando no botão acima para receber as próximas edições direto no seu email.