Tite: É hora de demitir?
10
0

Tite: É hora de demitir?

O torcedor "comum" ao assistir os últimos jogos da Seleção Brasileira, e, apesar dos bons resultados, não visualizar um excelente desempenho, se questiona cada vez mais sobre a continuidade do trabalho do técnico Tite. Dito isso, é preciso an...

Ryam Henrique
5 min
10
0
Email image

O torcedor "comum" ao assistir os últimos jogos da Seleção Brasileira, e, apesar dos bons resultados, não visualizar um excelente desempenho, se questiona cada vez mais sobre a continuidade do trabalho do técnico Tite. Dito isso, é preciso analisar racionalmente se é a hora de demiti-lo. Realmente há motivos para isso?

Tite foi contratado pela CBF para comandar a Seleção no dia 20 de julho de 2016, fez sua estreia no dia 1 de setembro do mesmo ano. Na época, a Seleção estava passando por uma fase extremamente difícil, com chances reais de não se classificar para a Copa do Mundo de 2018. O técnico era Dunga, eterno capitão do título mundial de 1994, mas que possui um baixo repertório tático. Por esses e outros fatores (como o ótimo currículo de Tite, campeão mundial com o Corinthians, curiosamente a última equipe brasileira a vencer o torneio), a contratação do gaúcho diante a opinião pública foi unânime.

Na época, a Seleção vinha fazendo uma péssima Eliminatórias, ocupava somente a 6° posição, com 9 pontos, somava 2 vitórias, 3 empates e 1 derrota. Tite assumiu o cargo com a missão de reverter essa situação e apresentar um bom desempenho, e o fez: após a chegada do técnico, a Seleção somou 10 vitórias, 2 empates e nenhuma derrota, ficando assim na 1° colocação da Eliminatórias, com 41 pontos, 10 a mais do segundo colocado, o Uruguai.

Com um time rápido e "ofensivo", a Seleção Brasileira foi para a Copa do Mundo com uma grande esperança de título, apesar do mal estar do seu grande craque, Neymar, que se lesionou pouco antes do início da competição. Foi na Copa que Tite teve sua primeira frustração, encontrou seleções compactas e bem armadas taticamente, viu a tática superar a técnica, os brilhos individuais serem ofuscados pela organização coletiva das outras seleções. No jogo da fatídica eliminação, contra a Bélgica, o Brasil criou mais chances de gol, teve pênalti legítimo não marcado, dominou grande parte da partida, mas o jogo terminou com o placar de 2 x 1 para os belgas, com duas falhas individuais do volante brasileiro Fernandinho. Assim, a Seleção Brasileira acabou selando a sua eliminação da Copa do Mundo 2018.

Após o baque na Copa, Tite repensou conceitos e convicções e mudou a maneira de montar a Seleção Brasileira. Logo depois do final da Copa já houve uma renovação grande de jogadores, aos poucos o técnico foi deixando os medalhões de lado, com o intuito de dar mais oportunidades para os jovens jogadores que se destacam mundo afora, principalmente na Europa.

Ao observar a grande organização tática da maioria das seleções na Copa, Tite passou a se preocupar com a parte defensiva e o jogo coletivo em geral. Desde 2019, Tite treina uma Seleção compacta, com as linhas bem próximas, que realiza muito bem a pressão pós perda, com laterais mais defensivos, um coletivo mais forte que não necessariamente precisa de grandes atuações individuais para vencer, um jogo mais reativo e objetivo, algo bem diferente do que era apresentado no início da "era Tite".

O torcedor brasileiro por muito tempo vem ouvindo o discurso simplista que vem de grande parte da imprensa esportiva, de que a Seleção Brasileira precisa "jogar bonito", "dar espetáculo", então, quando se tem um treinador que apresenta um "jogo feio", obviamente, não vai ter a aceitação imediata dessas pessoas. A solução não é jogar bonito ou feio, é fazer o jogo necessário.

Depois da Copa, a Seleção, além de estar fazendo uma Eliminatórias com 100% de aproveitamento, disputou duas vezes a Copa América, chegando na final das duas, ganhando uma e perdendo a outra. Ao todo, Tite tem 64 jogos no comando da Seleção Brasileira, somando 48 vitórias, 11 empates e 5 derrotas, com mais de 80% de aproveitamento. Sinceramente, não me recordo de outro treinador da Seleção Brasileira com números melhores ou iguais a esses. 

Por que mesmo com números ótimos, Tite é tão pressionado?  A resposta está lógica e puramente nessa discussão simplista e completamente rasa feita por vários setores da imprensa esportiva brasileira sobre o futebol. Tite tem erros, como a excessiva necessidade de se defender a maior parte do tempo, mas o fato é que ele é o melhor treinador brasileiro a mais de 10 anos, pensa futebol como poucos. Não há motivos plausíveis para demiti-lo neste momento.

No Brasil, no final, o que vale é o resultado (títulos). O resultado final do jogo assistido na TV não representa 10% de todo o trabalho que é feito nos bastidores. Essa cultura extremamente resultadista que vivemos no Brasil, é fruto de uma grande desinformação instaurada principalmente pela imprensa esportiva, por dirigentes, ex jogadores etc.

As pessoas que pedem modernidade a todo momento são as mesmas que, após um resultado ruim, pedem a cabeça do treinador. Tite representa a modernidade, mas ao que parece, essas pessoas não gostam tanto assim dela.