1º Ano - 5 atividades para um processo de letramento efetivo
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1º Ano - 5 atividades para um processo de letramento efetivo

Alfabetização e letramento são indissociáveis, porém isso não significa que seja a mesma habilidade a ser desenvolvida durante o processo de ensino da língua, conheça atividades que contribuem de forma efetiva para a consolidação desse proces...

Mariane Assis Dias
7 min
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Alfabetização e letramento são indissociáveis, porém isso não significa que seja a mesma habilidade a ser desenvolvida durante o processo de ensino da língua, conheça atividades que contribuem de forma efetiva para a consolidação desse processo.

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  • Compreensão e valorização da cultura escrita

John Savage (2015) cita que o letramento é uma meta de qualquer sociedade civilizada e uma competência cada vez mais importante no mundo de hoje. Uma vez que o letramento é o conjunto de representações e processos que o indivíduo adquire como consequência obrigatória e direta de aprender a ler e escrever. Ao aprender a ler o ser humano é capaz de usar a leitura para aprender sobre as mais variadas realidades e para se posicionar na sociedade, quanto mais ele puder avançar no letramento, melhor.  Para isso é importante compreender como se dá a aquisição da cultura escrita, que foi uma invenção humana para representar a linguagem oral.

“A escrita foi desenvolvida há relativamente pouco tempo na história da humanidade, apenas alguns milhares de anos atrás. Para ser capaz de ler, as estruturas em nosso cérebro que foram projetadas para coisas como o reconhecimento de objetos precisam ser reconectadas. Outra grande lição de décadas de pesquisa científica é que, embora usemos nossos olhos para ler, o ponto de partida para a leitura é o som. O que uma criança deve fazer para se tornar uma leitora é se conscientizar como as palavras que ela ouve e fala se conectam as letras que ela vê. A escrita mapeia a fala, ou seja, a escrita é um código inventado pelos homens para representar os sons da fala e as crianças precisam decifrar esse código para se tornarem leitores. Essa decodificação não é natural, é preciso um ensino explícito, sistemático e bem instruído sobre como as letras representam os sons da fala". 

Se não há um ensino explícito dessa relação entre os sons da fala com a cultura escrita, as crianças que não possuem níveis suficientes de habilidades relacionadas à leitura no inicio da alfabetização se verão forçadas a basear-se cada vez mais em estratégias ineficientes de identificação de palavras (ex.: uso de ilustrações, pistas visuais parciais e adivinhação contextual), cujo uso continuado levará, inevitavelmente, a dificuldades de aprendizagem da leitura, a evitação, a falta de atenção e ao distanciamento de tarefas de aprendizagem da leitura. Isto é, o efeito Mateus no sentido negativo - o pobre ficando cada vez mais pobre, Stanovich (2000), ou, o leitor com dificuldade, ficando cada vez mais com dificuldade para ler. E, consequentemente, cada vez menos letrado e menos participante da sociedade. Portanto, compreender e valorizar a cultura escrita passa primeiramente pela etapa mais básica da alfabetização que é a aprendizagem da leitura. Será esse conhecimento que permitirá que a criança avance ao longo da vida nos degraus de letramento. John Savage (2015), citado no início desse texto, define também que o letramento é um processo “autoatualizante” que define, em parte, quem somos. Pois o que aprendemos ao longo da vida por meio da aquisição inicial da leitura é capaz de nos forjar por muitos anos.

Para que o letramento seja possível e que melhore a cada nova leitura confira abaixo o que um leitor iniciante deve desenvolver desde o primeiro contato com as letras:

  • Apropriação do sistema de escrita: o conhecimento do princípio alfabético.

A apropriação correta e adequada do nosso sistema de escrita refere-se a capacidade da criança perceber como a escrita representa a fala, para isso é essencial desenvolver as atividades de 1 a 5 listadas à seguir.

1 - Conhecer os sons das letras

Para alcançar o letramento as crianças precisam ter consciência que as letras representam sons. Para isso, o primeiro passo é ensinar explicitamente quais são esses sons. A letra cuja forma gráfica é “F” e tem o nome “Efê” representa um valor sonoro de /f/. E para a leitura, o que importa é esse som. Para isso, assegure-se de apresentar explicitamente esse som. Assim como de todos os sons do nosso alfabeto. No artigo “as letras têm sons” esse tema é mais profundamente abordado, confira aqui.

Esse conhecimento não é natural por isso é importante uma instrução explícita dessa relação. Mas, atenção: não basta instruir explicitamente e não desenvolver a consciência fonêmica de uma forma adequada, conforme evidencio nas próximas linhas.

2 - Desenvolver consciência fonêmica

A consciência fonêmica é um poderoso prognóstico do bom desempenho na leitura e o conhecimento prévio dos sons das letras ajudará a criança a perceber, identificar e manipular essas menores unidades sonoras da palavra. Portanto, após a aprendizagem e memorização de todos os sons das letras a criança deve ser conduzida a identificar na palavra quais sons estão presentes ali, começando pela habilidade mais simples que é identificar os sons iniciais. Partindo depois para outras habilidades, como a adição e exclusão de fonemas na palavra. Uma atividade que pode ser desenvolvida nessa etapa é selecionar uma lista de palavras para serem lidas para a criança, não é preciso apresentar a palavra escrita para a criança uma vez que nessa etapa o objetivo é desenvolver a percepção auditiva dos fonemas constituintes da palavra. Para isso represente os fonemas com objetos concretos como peças de montar. Diga a palavra OCA e pergunte: ao adicionar o fonema /f/ o que formou? FOCA. Confira algumas sugestões de palavras que podem ter fonemas adicionados:

ATA – MATA

ALA – MALA

ORA – FORA

AMA – FAMA

OLHO – MOLHO

OPA – SOPA

3 - Instrução fônica

A instrução fônica explícita e sistemática, ou seja, que não deixa na “mão” dos alunos levantarem hipóteses (as quais podem ser erradas) sobre a relação letra-som é uma parte importante das suas vidas educacionais, conforme apontado por Savage (2015). Ainda segundo o autor: “as crianças que não sabem como os sons e os símbolos se relacionam uns com os outros estão em enorme desvantagem no trato com palavras desconhecidas que encontram na leitura e na tentativa de escrever corretamente palavras”. Para que isso não ocorra com a criança que está diante de você garanta que ela aprenderá a associar efetivamente o som a cada letra representada no papel.

4 -  Leitura e desenvolvimento da fluência

A fluência requer ausência de problemas de decodificação e para isso o ensino prévio das habilidades citadas anteriormente é essencial. Considerando que a criança desenvolveu adequadamente as habilidades prévias, a fluência será adquirida com a exposição frequente a leitura. Nesse momento já é possível avançar consideravelmente no letramento, uma vez que novos textos podem ser apresentados para a leitura autônoma da criança. Mas para que essa leitura seja efetiva é importante aplicar algumas estratégias de fluência leitora e uma delas é a “leitura repetida”, quando a criança lê o mesmo texto três ou quatro vezes com observações do professor, até que a fluência seja alcançada (Savage, 2015). Ou seja, o professor acompanha ativamente a leitura em voz alta da criança, ajustando e corrigindo a entonação e a velocidade da leitura. A leitura fluente é imprescindível para a compreensão leitora e para motivar a criança a ler cada vez mais. Não desenvolver a fluência em sala de aula ou no treino diário em casa impacta diretamente na formação de crianças que não avançarão adequadamente no letramento. Uma vez que elas lerão cada vez menos, pois a leitura torna-se algo penoso e cansativo. Nesse ponto o papel do professor, aquele que guia a aprendizagem é essencial. Pois será ele quem será capaz de fornecer o modelo adequado da leitura, o exemplo de como se ler e dar a chance da criança ser um leitor fluente. 

5 - Desenvolvimento da oralidade: a importância da leitura em voz alta para a compreensão leitora. 

O objetivo da leitura é a compreensão, todas as habilidades citadas anteriormente só têm razão de existir porque cooperam para o desenvolvimento da compreensão leitora. Um leitor fluente e hábil, aquele que compreende o que lê precisará decodificar corretamente as palavras e para isso precisa dominar o sistema alfabético além de ler sem tropeçar nas partes das palavras, através do desenvolvimento da fluência. Um ponto importante que está além dos olhos da criança e foi apontado por John Savage (2015) é o imaginário mental e o conhecimento prévio do pequeno leitor. Esses dois pontos podem ser amplamente desenvolvidos anteriormente à aquisição da leitura através da leitura em voz alta realizada por um adulto. Então se você deseja que uma criança compreenda o que ela lê, incentive a leitura em voz alta desde sempre, pois isso a garantirá previamente uma boa compreensão oral e ampliação do seu imaginário antes mesmo de compreender a cultura escrita.

O que você achou desses exemplos de atividades, já teve contato com essa perspectiva sob o letramento? Então compartilhe este texto nas suas redes sociais e ajude os seus amigos a também a conhecerem mais sobre o assunto! 

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Referências

Savage, J. 2015. Aprender a ler e a escrever a partir da fônica. Penso.