Tá, confesso: Já tive político de estimação

Eu nasci em 1978. Ninguém na minha casa liga pra política. Meu pai é economista, minha mãe tem uma clínica de estética. Quando garoto ela era dona de casa, profissão que inclusive acho escrotamente menosprezada pelas proprias mulheres mais novas.

Ou seja, zero ligação com lado, partido, candidato. Zero. 

Nunca ninguém em casa votou no PT. Mas ninguém era de direita ou de esquerda. Iam conforme o candidato. Era assim na década de 80. 

Meu pai tem um respeito fodido pelo exército. Pela polícia. Sempre teve e me passou isso. Mas não havia essa pauta. Era Maluf x Erundina. Meio que Maluf contra a rapa. 

Toda eleição em SP ele estava. E eu, novinho de tudo, só assistia debate com meu pai e morria de rir do Maluf dando pau nos outros. Eu adorava aquele tiozinho na tv.

Na época havia uma piada de que ele fazia e roubava. Mas não tinha prisão de político, condenação de fato. Era tudo boato. Embora soubéssemos que em 90% dos casos era verdade. 

Votávamos como vota parte do Brasil até hoje: Quem me convencer melhor com suas bravatas eu escolho ele. A informação era 1% do que é hoje. Éramos completamente reféns da Globo ou do horário eleitoral onde era permitido mentir a vontade sem consequências.

Um dia eu estava na escola - lá pelos meus 13 anos -  e um amigo começou a brigar no futebol. Eu adorava uma briga, entrei no meio, sai chutando um e nem sabia quem era, porque, de que lado estava. Só queria estar na briga. 

E depois de uns empurrões e dois socos na cara ele começou a falar de política. Coitado, tinha 13 anos, não sabia nada do que tava falando. Mas o pai dele era candidato a alguma merda. 

E ele era rival do Maluf. Como eu já tinha batido nele, eu não podia concordar com ele. E mesmo não sabendo do que se tratava eu sai falando que o Maluf era o cara! Só pra ficar contra ele.

O tempo passou, ele e eu viramos inimigos na escola. E eu comecei a adorar o Maluf pra poder ofender o rapaz. Que loucura. Coisa de criança. Aliás, na minha época, com 13 anos a gente era criança e não um bando de retardado querendo descobrir se era homem, mulher, morcego, petista ou intelectual. A gente só queria brincar.

Saudades.

Chegou a eleição e na minha rua tinha uma sessão eleitoral. Dias antes era papel pra cacete, bandeira, um caos. Eles sujavam a cidade toda prometendo limpa-la.  Domingo eu passei ali tinha gente dando santinho, camisa, bandeira, tudo dos candidatos.

Peguei um bolo de panfleto do Maluf e levei pra casa. Roubei mesmo, que se foda. Mas roubei bandeira, panfleto, adesivo, a porra toda. (Maluf, desculpa, mas eu roubei e fiz a campanha! Entao voce me entende e perdoa)

Na segunda-feira meu colega chegou na escola e metade da classe tava de camisa, bandeira, adesivo do Maluf sem nem saber o que era. Nem eu sabia o que era. 

Ele surtou. Comecei a cantar a musiquinha da campanha dele, subi na mesa, fui suspenso, mas ele ficou louco! Ligou chorando pro pai dele busca-lo.  Eu chorava de rir e ele de nervoso. Foi épico. Que momento.

Até que meu pai me explicou que o Maluf era um politico e que eu não sabia porque estava apoiando aquele cara.  E eu confirmei. Não, não sei! Só queria zoar o inimigo! E então ele me liberou porque achou justo o que eu fiz. 

E foi mesmo. O moleque era um playboy muito cuzão que se achava e humilhava na escola quem ia embora a pé ou de van, porque ele ia de motorista.

Arrombado.

Enfim.

Militei! Fiz campanha. Sai de bandeira e os caralho pra um politico e lembrei disso essa semana, enquanto tentavam determinar na internet se eu era de esquerda ou direita.

Agora eu posso falar. No alto dos meus 13 anos de sabedoria e estudos políticos: eu era Malufista, porra! 

#paz 

RicaPerrone