Web3, NFT, IFC e o futuro digital da construção
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Web3, NFT, IFC e o futuro digital da construção

#0048: No caminho da digitalização, são diversos os desafios e caminhos a serem escolhidos e percorridos, pensar no longo prazo é a melhor forma para evitar grandes problemas no curto prazo, já que a curva de tempo da evolução tecnológica vem diminui

Tiago Ricotta
8 min
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#0048: No caminho da digitalização, são diversos os desafios e caminhos a serem escolhidos e percorridos, pensar no longo prazo é a melhor forma para evitar grandes problemas no curto prazo, já que a curva de tempo da evolução tecnológica vem diminuindo drasticamente.

Explico.. (1/7)

Uma teia totalmente interligada
Uma teia totalmente interligada

Quando a Meta fez o anúncio da mudança de foco para a construção e desenvolvimento de tecnologias para o Metaverso eram pouquíssimas as pessoas que sabiam o que era um NFT, o que era a ideia do tio Zuck e todas as tecnologias que estavam envolvida no processo.

Avançando alguns meses no tempo, desde o anúncio da Meta temos a popularização de vários termos e explicações, talvez a mais comum (e que a que você deve ter lido por aí) seja a afirmação abaixo:

  • Web3 = Comunidade
  • NFT = Propriedade
  • Blockchain = Validação
  • Crypto = Valor monetário
  • DAO = Governança
  • Metaverso = Experiência

Diante das tecnologias, uma grande dúvida ainda persiste dentro do imaginário coletivo: o que de fato vai vingar de tudo isto? Qual o caminho que podemos seguir e evoluir? Como isto vai afetar os negócios?

Se este é o mundo digital que está se desenhando para os próximos anos e que vai afetar a tudo de maior ou menor maneira, como esta digitalização afetará a indústria AEC? O que está sendo pensado que pode impactar o ecossistema digital de construção? É difícil responder isto, mas colocaria os seguintes conceitos:

  • IDS = Especificação
  • GPT-3 = Automação
  • Open = Descentralização
  • DeCon = Fragmentação

Explicando um pouco de cada item e juntando conceitos da Web 3 podemos vislumbrar no futuro algumas visões bem interessantes para o mercado de construção, não  só melhorando os processos atuais, mas pensando como será a digitalização do amanhã com novas formas de fazer e pensar.

Comunidade/Propriedade (2/7)

Arte física no mundo digital?
Arte física no mundo digital?

Talvez o conceito mais fraco daqueles apresentados sobre Web3 em AEC seja justamente a Web3 e seu senso de comunidade.

Fazendo um paralelo para com o que ocorreu na Web2, quando o Facebook/Google surgiram se tornou muito comum fazer login em sites, aplicativos, jogos e afins utilizando o ID das gigantes de tecnologia, mas quantas vezes você utilizou esta função para acessar sistemas voltados para construção?

Se eu preciso acessar sistemas de Prefeituras e agências públicas para enviar projetos para aprovação é necessário lá realizar meu cadastro, receber login / senha, submeter os dados dos projetos e fazer o ciclo de aprovações com outras pessoas que estão acessando o sistema via o mesmo procedimento de criação de banco de dados de usuários.

Exemplificando a ideia no contexto do que existe hoje: imagine que você tem um endereço de registro em uma blockchain (até pode ser chique e ter um ENS oficial) e que a sua faculdade minta um NFT para você dizendo que você se graduou em Arquitetura e isto é adicionado ao seus colecionáveis.

O ponto é: este NFT emitido pela faculdade pode fazer você solicitar ao CAU/CREA um NFT deles que também será adicionado ao seus colecionáveis dando acesso ao sistemas do CAU/CREA para geração de RRT/ART e todos os serviços envolvidos.

Ao ter a NFT do CAU/CREA você acessa o sistema de qualquer entidade pública e consome os serviços ofertados de maneira direta. No CAU/CREA a RRT/ART é uma NFT que pode ser transmitida para o endereço de registro do cliente quando este compra o projeto do arquiteto.

Juntar o conceito de comunidade com propriedade talvez seja o que mais rápido pode chegar no processo de digitalização de AEC, não vou me alongar neste tópico, mas da para ir muito, muito longe.

Validação/Especificação (3/7)

Respeita a legislação ou não?
Respeita a legislação ou não?

O conceito de validação na blockchain em conjunto com um processo de especificação via IDS (Information Delivery Specification) talvez seja algo que muitas entidades públicas podem se beneficiar.

Do ponto de vista da especificação quantas regras existem para que uma construção saia do papel? Além do respeito ao código de obras, zoneamento, bombeiros, vigilância sanitária, etc a forma como estas validações são feitas hoje é algo dependendo do ultra conhecimento que profissionais possuem da interpretação destas normas.

Digo interpretação porque já vi uma danceteria não poder ser aprovada em um zoneamento, mas um bar dancante sim, no final o estabelecimento foi construído e aprovado com base em uma subjetividade da lei com o fim sendo praticamente o mesmo.

Além de trabalhar questões de subjetividade, trabalhar que informações devem ser inseridas em modelos para que as aprovações possam ser realizadas é outra dor muito forte. Comentei no texto sobre o Corenet X o processo de digitalizacao da aprovação de Singapura, mas dependendo do que é são mais de 700 atributos de informação que devem ser inseridas em um modelo para aprovação.

Um humano vai levar meses para analisar estas 700 informações espalhadas, muitas vezes, por mais de 200 mil objetos (média de um projeto de uma torre de 20 andares). Ao criar uma especificação através do IDS esse processo de validação ganha um mecanismo muito interessante.

Claro, se quiser validar e criar um certificado de aprovação em uma blockchain é um passo natural para o processo. O alvará pode ser uma NFT? Também. Só entender os conceitos e aplicar aquilo que faça mais sentido ao processo.

Experiência / GPT-3 (4/7)

Certeza que já usei essa imagem em outro texto..
Certeza que já usei essa imagem em outro texto..

Hoje os profissionais AEC estão presos em dispositivos realizando o desenho/modelagem de seus projetos.

Existe uma certa idiotização do charme da complexidade onde quanto mais complexo uma coisa é, mais valorizada as coisas são, o que não faz o menor sentido na linha do que é o desenvolvimento de plataformas atualmente e experiência do cliente.

Ao evoluir a ideia e testar vários Metaversos nos últimos meses tenho para mim que a experiência de projeto do futuro não passa pelo Metaverso em si, mas pela experiência de ser menos dependente de uma CPU, mouse e teclado.

Ao olhar o que uma Dall-E 2 pode fazer utilizando inteligência artificial e deep learning creio que o caminho da experiência de projeto de um futuro bem distante é a do merge entre a imersão e experiências do Metaverso com a geração de objetos/modelos inspirados em uma GPT-3 (não que seja GPT-3 ou OpenAI).

É brincar de Tony Stark.

Descentralização / Fragmentação (5/7)

..também já devo ter usado esta imagem
..também já devo ter usado esta imagem

Como mencionado no texto sobre a ideia de uma construção descentralizada, ter um modelo em que você vai enriquecendo dados com base na própria maior dor de AEC, a fragmentação, é algo que acredito firmemente que é o caminho que AEC deveria seguir.

No caso a habilitação tecnológica passa pelo mundo open source no que mais vejo de valor em padrões abertos trazidos pelo schema IFC é a possibilidade de enriquecer os dados de maneira descentralizada (mas registrando quem faz a alteração).

Muitas pessoas enxergam os Property Sets para gerenciar informações relativas aos elementos dos modelos, mas existe uma parte do schema que existe, mas é bem pouco difundido e mesmo legível pelas principais ferramentas, que a parte da gestão das propriedades, ativos e pessoas.

Lá no final do ano passado eu trazia um conceito de um tal IfcHash para gerenciar algumas informações trazidas na Blockchain, mas acontece que para o nível de propriedade poderíamos utilizar Property Sets que já existem no Schema no nível do IfcSite, IfcBuilding, IfcBuildingStorey e indo longe até o IfcSpace.

Nesse enriquecimento de informações ao longo do processo, a construtora, no limite, pode criar uma escritura utilizando um smart contract e as informações do Smart Contract pode ser hospedada no IFC dentro destes property sets na visão de espaços/compartimentações.

Com a beleza de ser um processo incremental e seguro, voltaremos a isso em outro momento para explicar no schema como isto pode funcionar.

Crypto / DAO (6/7)

DAO é um negócio que assusta
DAO é um negócio que assusta

Hoje você quer assinar um serviço de streaming, que existe uma complexidade na jornada de compra por trás, mas que para o usuário final acaba sendo um processo de passar o cartão e esta liberado.

Agora, quer passar o cartão e já ter seu apartamento liberado? Ou passar o cartão e ter a geração da sua licença de software já na hora e liberada para todas as suas plataformas (desktop, tablet, celular)?

Para algumas coisas é fácil e para outras fica um pouco mais complicado pelo pandemônio tributário e dificuldades de operação de crédito existente atualmente (passar o ap no cartão....

É algo que com moedas digitais e o conceito de organização autonoma seria plenajemente possível, um bom exemplo do que se pode fazer é o que o Roberto Justus falou em entrevista um tempo atrás.

Não existe bala de prata (7/7)

Claro que muito do que falamos aqui é algo que parece simples de ser implementado e a prova de fogo de qualquer problema, mas a realidade é que culturalmente ainda existe uma grande resistência.

A própria história do Metaverso é algo que esta aí para provar que não é possível impor uma cultura no mundo de hoje e forçar as pessoas a comprar as suas ideias se não houver algo atrativo e objetivo na relação de consumo, mesmo que esse objetivo e atratividade seja uma dança que entretenha o povo.

Continuamos debatendo, pesquisando e testando muita coisa por aqui, vamos compartilhando com o canal estas experiências e viagens, mas enquanto isso não deixe de compartilhar e ajudar contato aqui na pingback crescer:

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Obrigado,

Abs.

Tiago Ricotta

Publicado em 13 de Abril de 2022 às 19:30