No conflito entre israelenses e palestinos uma nova rodada de violência começa a ganhar corpo
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No conflito entre israelenses e palestinos uma nova rodada de violência começa a ganhar corpo

Quatro atentados em três semanas deixaram 13 israelenses mortos. Durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã, um período que costuma ser acompanhado de tensões na região, há a perspectiva de que os ataques terroristas marquem o início de uma no...

Henry Galsky
3 min
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Quatro atentados em três semanas deixaram 13 israelenses mortos. Durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã, um período que costuma ser acompanhado de tensões na região, há a perspectiva de que os ataques terroristas marquem o início de uma nova escalada no conflito entre israelenses e palestinos.

Israelense coloca flores no Bar Ilka, em Tel Aviv, local do atentado do dia 7 de abril (foto Henry Galsky)
Israelense coloca flores no Bar Ilka, em Tel Aviv, local do atentado do dia 7 de abril (foto Henry Galsky)

No entanto, há algumas diferenças em relação a ciclos de violência anteriores, em especial os que se iniciaram a partir de 2007, quando o Hamas tomou a Faixa de Gaza da Autoridade Palestina (AP), a organização liderada pelo presidente Mahmoud Abbas e reconhecida internacionalmente como o governo oficial palestino.

Neste momento, o foco da violência parte justamente da Cisjordânia, território parcialmente controlado por Abbas, não de Gaza. É sempre importante lembrar que hoje, na prática, há dois governos palestinos atuando de forma paralela e oposta: como escrevi, o oficial, de Abbas, na Cisjordânia; e o paralelo, do Hamas, na Faixa de Gaza. As tentativas de conciliação entre ambos nos anos recentes foram infrutíferas.

O terrorista que cometeu o atentado de quinta-feira à noite, dia 7 de abril, em Tel Aviv, era morador de Jenin, na Cisjordânia. Aparentemente, Jenin tem se mostrado uma localização de difícil controle por parte das forças de segurança palestinas sob comando do presidente Abbas. De acordo com fontes ouvidas pelo canal público de Israel Kan, a Autoridade Palestina (AP) estaria sendo desafiada em relação ao controle deste território por dois grupos: a Jihad Islâmica Palestina (PIJ, em inglês) e o Fatah, facção liderada pelo próprio Abbas.

Pode parecer confuso, mas mesmo parte do Fatah questiona a liderança de Abbas. O movimento atual pode indicar uma rota de colisão entre esses três grupos na Cisjordânia: a PIJ, o Fatah e a AP. A presidência de Abbas está longe de ser unanimidade entre os palestinos e sua posição está fragilizada. No cargo desde 2005 e sem realizar eleições para sucedê-lo (o seu mandato deveria terminar em 2009), ele governa basicamente por meio de decretos presidenciais. Abbas já tem 87 anos de idade e existe a expectativa de disputas cada vez mais acirradas para substituí-lo.

Todo este cenário poderia explicar o silêncio do Hamas até agora. Apesar de ter enviado comunicados oficiais celebrando cada um dos quatro atentados terroristas em Israel, o grupo por ora se mantém apenas como espectador. Mas é possível que comece a agir e retomar o lançamento de foguetes e mísseis sobre o território israelense dependendo dos próximos passos, em especial da resposta que o governo Bennett - também fragilizado, como escrevi em meu texto mais recente - colocará em prática. Há pressão interna em Israel para que o primeiro-ministro e as forças de segurança tomem medidas mais duras para conter esta onda de atentados.

Como pano de fundo, o próximo mês de maio marca um ano após o conflito mais recente entre Hamas e Israel, ocorrido durante 11 dias em 2021. A depender da evolução das tensões atuais, existe a possibilidade de o Hamas aproveitar o momento para marcar posição e se projetar ainda mais como a principal força entre os palestinos, causando ainda mais instabilidade à Autoridade Palestina (AP).

O Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza da AP em 2007, como já mencionei acima. Desde então, Israel e Hamas já travaram quatro conflitos: em 2008/2009, 2012, 2014 e 2021.