Na curta rodada de enfrentamentos entre israelenses e palestinos, uma demonstração sobre pragmatismo e desesperança
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Na curta rodada de enfrentamentos entre israelenses e palestinos, uma demonstração sobre pragmatismo e desesperança

Henry Galsky
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Depois da morte de Khader Adnan, membro sênior da Jihad Islâmica Palestina (PIJ, em inglês) após 86 dias em greve de fome numa prisão de Israel, houve uma nova escalada de violência no conflito entre israelenses e palestinos. E, quanto a isso, há uma espécie de consenso silencioso entre as partes; a dinâmica de enfrentamento costuma ser a mesma - os grupos terroristas na Faixa de Gaza lançam foguetes e mísseis sobre Israel. Israel ataca bases e pontos de interesse desses grupos na Faixa de Gaza. Tem sido assim desde que o Hamas tomou o controle do território costeiro palestino em 2007, na sequência de um conflito armado que resultou na expulsão da Autoridade Palestina (AP) do enclave.

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Esta rodada parece ter se encerrado a partir de um acordo de cessar-fogo entre as partes mediado por Egito, Catar e pela ONU, segundo a agência Reuters. Em menos de 24 horas, Hamas e Jihad Islâmica lançaram mais de cem foguetes. Em Sderot, cidade localizada a menos de três quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza, houve danos materiais, dois feridos leves após serem atingidos por estilhaços e um trabalhador estrangeiro ferido com gravidade.

Depois de uma noite em que os cerca de 70 mil israelenses que vivem nas comunidades que ficam ao redor do território palestino (mas do lado israelense da fronteira, não há qualquer assentamento em Gaza desde 2005), o prefeito de Sderot, Alon Davidi, concedeu entrevista pela manhã ao Canal 12. Esgotado por ter dormido pouco e mal, suas declarações têm como alvo o governo e apontam descontentamento com a estratégia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu:

"Queremos ter tranquilidade por um período longo. Aqui (em Sderot) não temos a expectativa de 100% de segurança. Se for necessário que haja uma operação militar - ou o retorno à política de eliminação seletiva (das lideranças dos grupos terroristas da Faixa de Gaza) - que possa nos garantir tranquilidade por mais tempo, acredite em mim, todos os moradores daqui irão dizer: 'estamos prontos para permanecer nos quartos de segurança por um, dois meses'", disse.

E aqui é importante esclarecer: em Israel, quase todas as casas e apartamentos possuem um quarto fortificado, um abrigo para ser usado em caso de ataques contra o país. Normalmente, trata-se de um cômodo comum, mas que possui paredes de concreto e uma porta de ferro. Ficar por um mês num quarto como esse é, de fato, um sacrifício.

Há muitas leituras que podem ser feitas a partir das declarações do prefeito. Mas esta é a dimensão humana da parte israelense da história. É o olhar pragmático de alguém que administra uma cidade que de tempos em tempos passa por essa situação, alguém esgotado por entender que não há solução real capaz de resolver os problemas dos moradores.

É difícil obter informação precisa e isenta quanto ao número de mísseis e foguetes lançados sobre Sderot. Mas, considerando que os ataques começaram em 2001 e que em apenas três dias do mês de agosto de 2022 foram mais de mil foguetes, certamente é possível dizer que já foram alguns milhares de disparos.

Ainda sobre o que disse o prefeito, vale lembrar que, claro, ele fala em nome de si. Nenhum prefeito tem o poder de ser o porta-voz preciso da forma como pensa o conjunto dos moradores de uma cidade. Mas em sua fala há, digamos, uma postura um tanto ambígua em relação ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, alvo direto de sua crítica. Por um lado, considera que ele não é firme o bastante por não apresentar uma estratégia clara - ao contrário, o prefeito o considera responsável por essa espécie de dinâmica "consensual" entre as partes.

Por outro lado, a ideia de sacrificar a população da cidade em nome de uma operação capaz de garantir alguma tranquilidade por um prazo mais longo é, também ela, a confirmação da estratégia adotada por Bibi desde que retornou o cargo em 2009 (e permaneceu na liderança política do país até 2021, ficando na oposição por apenas 14 meses): a lógica de manutenção do chamado status quo do conflito. Não há solução, negociações ou projetos reais de acordos de paz. Os ciclos de violência, desta forma, são, de fato, explosões pontuais que dão conta de lembrar - em especial aos moradores do sul de Israel - que há um conflito não resolvido.

Mas, claro, este não é um projeto único de Israel enquanto país sob a liderança de Netanyahu. O prefeito é também pragmático por saber que, logo ali a menos de três quilômetros de distância, está um território cuja administração fica a cargo do Hamas, grupo que sequer reconhece o direito de Israel existir. O confronto desta vez se deu pela morte de um membro da Jihad Islâmica Palestina (PIJ), grupo armado e financido pelo Irã, que igualmente defende a destruição de Israel.

No final, esta curta rodada de enfrentamento apresenta de forma resumida alguns dos principais aspectos do conflito mais amplo entre israelenses e palestinos. E mostra também as dificuldades que qualquer ator - interno ou externo - terá para quebrar uma cadeia de acontecimentos que combina, de forma sempre trágica a ambas as populações civis, pragmatismo e desesperança.