Botafogo, Goiás, Coritiba e Avaí subiram! Mas...

Apesar do acesso conquistado em campo por Botafogo (campeão), Goiás, Coritiba e Avaí (vaga conquistada praticamente no último minuto da última rodada), os quatro clubes que retornam à elite do futebol brasileiro viverão por alguns meses ainda a dura realidade financeira dos times que jogam a segunda divisão do futebol do país.

Isso acontece porque os valores de receitas de direitos de transmissão - que são a maior fatia das receitas da grande maioria dos clubes brasileiros - relativos à primeira divisão só começam a ser pagos a partir de Junho de 2022. Ou seja, os recém promovidos continuam até Maio do próximo ano sobrevivendo com os valores bem abaixo dos recebidos pelos times que disputaram a Série A em 2021.

Diferente do que acontece no Brasileirão da Série A, a CBF não premia os clubes que disputam a segunda divisão de acordo com a classificação ao final do campeonato de acesso. Isso quer dizer que todos os clubes que aderem ao acordo coletivo da detentora dos direitos (Globo) recebem o mesmo valor. Algo em torno de 8 milhões de reais. Alguns clubes, com maiores torcidas, optam por não aderirem ao acordo coletivo e recebem de acordo com os valores de pay-per-view. São os casos de Botafogo, Vasco e Cruzeiro. Só conheceremos os valores reais recebidos por cada um dos 3 na divulgação dos seus balanços, mas é certo que os valores são consideravelmente maiores do que o valor do repasse coletivo feito pela Globo aos outros times que disputaram a segunda divisão. Por exemplo, o Cruzeiro divulgou em seu balanço de 2020 que a receita por direitos de transmissão foi perto dos 40 milhões de reais (considerando todas as competições do ano, ainda assim a fatia recebida pela Série B é maior que os 8 milhões do acordo coletivo). De acordo com a previsão do início de 2021, o Botafogo receberia pelo pay-per-view valor perto de 15 milhões de reais (o clube possui em torno de 3% a 4% dos assinantes). Quase o dobro dos 8 milhões "coletivos".

Ainda assim, são valores menores do que os recebidos pelos times que já estão na elite do futebol nacional em 2021. E aí vem um dos grandes desafios para os 4 times em questão: como montar elencos competitivos na virada da temporada pra disputa do Brasileirão 2022, com valores de receitas de segunda divisão? O fato do início da temporada brasileira ser ocupado pelos Estaduais pode "facilitar" essa tarefa pois sabidamente o nível de competição é bem menor e os "reforços" podem então esperar. Mas por outro lado, exige dos times uma capacidade maior de negociação e busca por jogadores em um momento do ano - Abril/Maio - que as opções de atletas serão reduzidas (visto que os outros clubes da Série A já iniciaram com antecedência a montagem dos seus elencos). Além disso, cabe à direção desses clubes uma ótima comunicação com sua torcida esclarecendo a situação de desvantagem em relação aos seus concorrentes pra montagem dos elencos, para que o desgaste por possíveis resultados ruins nos primeiros 5 meses da temporada não afetem o restante do ano. Aquelas contratações desesperadas que já estamos cansados de ver no futebol brasileiro, sabe?!?

A realidade é que o modelo do contrato de televisão e repasse da CBF aos clubes da segunda divisão dificulta muito a vida dos times que conseguem o acesso e talvez isso ajude a explicar o efeito "iô-iô" tão comum entre as 1a e 2a divisões no Brasil. Chapecoense promovida em 2020 já está com a queda confirmada em 21, além de outros 2 que subiram com a Chape estarem lutando perto da zona de rebaixamento (Juventude e Cuiabá).

Óbvio que essas dificuldades são "menos piores" do que a permanência por mais de uma temporada na segunda divisão, mas o ponto de largada é mais um complicador pros 4 novos integrantes da elite do futebol nacional. Boa sorte e competência à Botafogo, Goiás, Coritiba e Avaí!

Vejo-os na elite em 2022!