Co-criando o Metaverso
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Co-criando o Metaverso

#0032: Walled Gardens da Meta a parte, já é possível experimentar um pouco do que o antigo Facebook quer desenvolver, você pode até ignorar a experiência, mas não pode ignorar a ideia extremamente forte que é o mundo descentralizado e para onde estam

Tiago Ricotta
11 min
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#0032: Walled Gardens da Meta a parte, já é possível experimentar um pouco do que o antigo Facebook quer desenvolver, você pode até ignorar a experiência, mas não pode ignorar a ideia extremamente forte que é o mundo descentralizado e para onde estamos caminhando como sociedade.

Disrupção a vista (1/7)

Quem constrói um mundo sem arquitetos e engenheiros? No one, no one...
Quem constrói um mundo sem arquitetos e engenheiros? No one, no one...

No texto Como construir o Metaverso? comentei sobre como no livro Snow Crash, o autor Neal Stephenson dizia que existia o local chamado STREET, que vinha a ser o mais famoso do mundo virtual conhecido como Metaverso em que mesmo fisicamente inexistente, milhões de pessoas estavam transitando por ele naquele momento.

Pois bem, hoje em dia alguns locais virtuais já são mais visitados que muitos lugares físicos, mas estamos acostumados a medir isso através de números de views, seguidores, clicks, interações e tudo o que a internet atual é capaz de proporcionar, alguns desses indicadores chegam facilmente na casa dos milhões.

Estudando mais a fundo alguns projetos que querem construir o Metaverso, um deles me chamou bastante atenção por já conter quase todos os conceitos que o Zuckerberg apresentou na live de lançamento da Meta: presença, avatar, construção, teletransporte, interoperabilidade, privacidade e NFTs ficando faltando somente a questão das interfaces neurais para melhor experiência do usuário, o que no fim faz uma brutal diferença no processo e pode ser o grande ponto de virada desta história.

O projeto que gostei bastante se chama Decentraland e é totalmente open source, o que torna a brincadeira muito, mas muito interessante.

Um dos fatores que torna o Decentraland muito legal para entender tudo o que deve vir por aí nos próximos anos é que ele já te deixa vivenciar o que é um Metaverso e entender toda a grande sopa de letrinhas que vai aparecer nas nossas vidas no futuro sem precisar de um gadget de realidade estendida, você pode acessar o mundo virtual diretamente do seu navegador.

Esse exercício é importante porque se, de fato, as pessoas e empresas comprarem o que a Meta está propondo como visão já é possível antecipar várias e várias tendências dos próximos anos e isto abre um leque de oportunidades enorme.

Alguns conceitos que já são possíveis vivenciar hoje e que vamos abrir por capítulos:

  • Blockchain sendo utilizado como moeda virtual sendo a Mana a moeda do Metaverso da Descentraland;
  • Existe um mundo com vários cenários e dentro de cada cenário existem vários terrenos para construir, esta pensando que não vai precisar de Habite-se pra construir no virtual, é?;
  • Avatar e o teletransporte já podem ser entendidos e vivenciados, o que só torna o processo de entendimento do conceito ainda mais surreal em termos de interoperabilidade;
  • NFTs a rodo dentro do universo e praticamente qualquer um pode construir qualquer coisa utilizando tecnologias open source ou softwares proprietários, your choice;
  • Shows, paradas, protestos e eventos já ocorrem no mundo virtual e você já pode participar;
  • A STREET já existe;

Vamos então destrinchar cada etapa do futuro.

Carteira virtual (2/7)

Real money to digital money
Real money to digital money

Existe todo um esquema padrão dentro do Decentraland, mas humanos geralmente querem se diferenciar dos padrões e para isto é preciso abrir a carteira, literalmente, para conseguir customizar seu avatar e conseguir evoluir na experiência dentro do Metaverso.

É algo primordial e sem uma carteira virtual você não consegue adentrar o negócio? Não, você pode simplesmente fazer um login simples com um e-mail e assim conhecer as entranhas do mundo virtual sem criar carteira virtual nenhuma.

O ponto interessante aqui é que a carteira virtual é mais real do que você pensa, a MANA é um token de criptomoeda fungível da Decentraland que roda em cima do Ethereum, a MANA pode ser utilizada em troca de parcelas de terra, vestimentas, itens especiais e nomes.

Só que para você ter Mana você tem que comprar Ethereum, para comprar Ethereum você tem que desembolsar doletas. Não sei quantos aqui vão lembrar, mas a Meta havia anunciado alguns anos atrás a criação da moeda digital chamada Libra, a história esta até que bem contada no wikipedia, mas a Libra acabou virando o Diem.

Se o Diem vai ser o dinheiro do Metaverso da Meta, não sei, mas o conceito de ter uma carteira virtual para comprar e negociar itens diretamente na plataforma me faz imaginar que o caminho será esse no futuro.

Só de curiosidade, o market cap da Mana saiu de U$ 1,5Bi antes do anúncio da Meta e saltou para U$ 7,3 bi quando posto esse texto em 24 de novembro de 2021, mas antes de sair por aí fazendo loucuras estude bem o mercado cripto, tem muita gente agindo de má fé e criando projetos disfarçados de pirâmides financeiras e golpes, fique esperto.

Terreno virtual no seu IRPF (3/7)

Email image

Particularmente eu não sei qual é a ideia da Meta em termos de limitação ou não do mundo e de suas criações, mas que a ideia do Decentraland é muito, mas muito boa isso é, porque lá o mundo é finito. Eis a descrição traduzida do site:

O espaço virtual 3D finito e percorrível dentro da Decentraland é chamado de LAND, um ativo digital não fungível mantido em um contrato inteligente Ethereum. O terreno é dividido em parcelas que são identificadas por coordenadas cartesianas (x, y). Essas parcelas são propriedade permanente de membros da comunidade e são compradas usando MANA, o token de criptomoeda da Decentraland. Isso dá aos usuários controle total sobre os ambientes e aplicativos que criam, que podem variar de qualquer coisa como cenas 3D estáticas a aplicativos ou jogos mais interativos.

Com o perdão do francês, quando eu li isso eu coloquei a mão na testa e não parava de falar PQP!!! Isto, meus amigos, é o futuro das transações imobiliárias e como vamos operar as coisas no mundo descentralizado (até porque o início do projeto veio para fazer exatamente essas transações).

Lembram do texto sobre a terrível experiência que tive para tentar comprar um apartamento? Se uma construtora tivesse isso seria o clássico “shut up and take my money”.

O que a Decentraland criou foi um mundo finito (igual a terra), com cenários finitos (que aqui vou chamar de cidades) e terrenos finitos dentro de cada cenário, ou seja, se o market cap da mana saiu de U$ 1.5 bi para U$ 7.3bi o que vocês acham que aconteceu com os valores dos terrenos? Boom.

Yeap, tem terreno hoje em um mundo virtual valendo U$ 2 milhões de dólares. Esta com dúvida? É algo padrão? Veja os valores negociados dos NFTs da LAND aqui.

Existe um outro conceito interessante que ronda o LAND é que você pode criar o seu cenário e submeter a comunidade para que ela vote na criação dele e que fique hospedado nos terrenos que são mantidos pela própria Decentraland, inclusive no mapa é mostrado com estrelinhas esses cenários que foram votados.

Os cenários SOHO PLAZA e GENESIS PLAZA disputam entre si para serem a STREET deste Metaverso, agora imagina uma coisa: caso essa plataforma tenha potencial para ter 1 milhão de usuários andando por essas PLAZAS, quanto não valeria estes terrenos virtuais?

E a Meta com mais de 3 bilhões de usuários em suas redes... imagina o quanto de visibilidade sua marca não teria se conseguisse cravar um outdoor na Times Square do Zuckerberg?

Futuro do marketing vai ser interessante.

RPG (4/7)

Seja o que quiser
Seja o que quiser

Uma coisa que todo mundo gosta de fazer nos ambientes virtuais é customizar o seu avatar, e como um conceito tão demonstrado pelo Zuckerberg obviamente temos os nossos avatares no Decentraland.

Aqui dá para compreender muito bem o conceito dos itens colecionáveis e como o NFT entra na jogada, pois se você quiser criar um item você vai ter que escolher o quão comum aquele item vai ser:

Uma cadeira como calça, mas vale o demonstrativo
Uma cadeira como calça, mas vale o demonstrativo

Você pode comprar um item raro que vai ficar em sua posse e que pode valorizar com o tempo caso aquele artista de quem você comprou o item fique famoso e valorize sua arte no longo prazo.

Não são conceitos precisamente novos, mas a lógica de utilização das coisas é bastante interessante. No caso, se algo for muito interessante para você, é possível que você mesmo desenhe, modele e crie o seu item definindo o preço que você desejar para venda no marketplace do Metaverso.

Isso porque estamos falando de algo open source, agora imagina o que vai ser o Marketplace da Meta com todas as marcas querendo desenvolver seus itens e colocando na vitrine do tio Zuck?

Vai ser interessante.

Interoperabilidade (5/7)

Esteban Ordano, Ariel Meilich, Yemel Jardi e Manuel Araoz lançam um paper explicando o conceito e a ideia do Metaverso descentralizado, um grupo de pessoas compra a ideia e começam a testar e a ajudar no feedback do projeto.

Imagina que tudo o que você vê em 3D pode vir de qualquer tipo de lugar, desde que no final você entregue para o projeto arquivos GLTF ou GLD, ou seja, não importa de onde seu arquivo vem, se você levar isso pro Blender ele vai te exportar esses formatos e você vai conseguir levar isso para frente.

Obviamente pela minha curiosidade fui eu testar como fazer para criar o MASP dentro do Metaverso dos caras, o processo foi muito, muito, muito simples. E porque o MASP? Bom, primeiro que gosto demais da história do museu e segundo porque existem vários museus de arte no Metaverso em que você pode ver NFTs diversos e acompanhar a produção de arte digital.

Sendo assim, abri o 3D Warehouse, baixei o MASP, exportei em GLD por um plugin do SketchUp e 2 minutos depois tínhamos o projeto da Lina BO na minha conta do Metaverso, mas para ele existir no mundo que foi criado eu teria que comprar um terreno, o que neste caso preferi parar no editor de cenários e terrenos.

Um belo museu de arte também virtual
Um belo museu de arte também virtual

Agora os arquitetos e engenheiros vão entender a pergunta inicial da primeira imagem do texto, afinal, se as marcas comprarem a ideia elas vão querem ter algo que seja muito disruptivo em termos de arquitetura dentro do negócio, ou seja, os criativos vão ser essenciais dentro deste contexto, inclusive, já visando isso, já existe um escritório de arquitetura para o Metaverso.

Diria que dentro dos 6 Ds da digitalização estamos no meio do momento de decepção em que grande parte do mercado está olhando tudo o que está rolando em torno desse tal Metaverso e desacreditando, o quão rápido vai ser o passo para a disrupção e desmonetização é que é o grande X da questão.

Em um mercado em que é muito difícil escalar e falta modelo mental de negócio para criar recorrência, isto pode ser uma bela oportunidade na industria AEC.

Eventos online de outra forma (6/7)

Futuro dos shows?
Futuro dos shows?

A pandemia acelerou muito a questão de distribuição de conteúdo na internet e não sei vocês, mas hoje eu já seleciono muito que tipo de live eu vou assistir e também participar.

Um novo formato que esta se abrindo nesse contexto são os eventos hospedados nestes mundos virtuais. No Fortnite você pode fazer festas com seus amigos. Paris Hilton comandou um show no Decentralend em outubro e o negócio foi parar no Youtube.

É um pouco bizarro? Com certeza, mas não dá para saber muito aonde esse tipo de coisa vai parar, particularmente eu gosto da ideia de reuniões nesses ambientes, principalmente para apresentar e colaborar em projetos.

O poder que esse tipo de experiência pode trazer para co-criação de projetos é o que mais me anima, o modelo de cada arquiteto e engenheiro olhando a sua tela de computador e tendo que apertar botões de sincronização para colaborar acredito que está fadado a morrer no futuro próximo.

Não creio que em um futuro próximo vamos ter um JARVIS fazendo projetos, mas que minimamente conseguiremos estar em um mesmo ambiente virtual modelando e colaborando isso eu creio que será totalmente possível.

A tecnologia vai caminhar para este sentido e quanto mais aberta e colaborativa forem as iniciativas melhor, é impossível solucionar a fragmentação da construção sozinho, já disse em outros texto, o futuro é open e quanto antes as big techs do setor entenderem isso melhor para todos.

O pessoal esta construindo um mundo contando com a colaboração de diversos usuários, olhem os avanços da comunidade do ifc.js fizeram nos últimos dias e peguem a data de início do projeto.

O que falta é a camada de experiência do usuário.

Viva a experiência (7/7)

Por mais que você não seja um entusiasta de tecnologia ou que não queira participar deste mundão que esta se abrindo, tente ao menos conhecer o que esta sendo feito lá no Decentraland.

Tem muita coisa ali que invariavelmente vai acabar chegando no seu dia-a-dia mais cedo ou mais tarde, então é legal ao menos dar uma zapeada pelo ambiente e ver como podem ser as coisas no futuro.

Enquanto isso vamos seguindo nos estudos e possibilidades para a indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção e que você pode acompanhar aqui na Newsletter.

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Tiago Ricotta

Publicado em 24 de Novembro de 2021 às 18:27