FÉ, VIGILÂNCIA E SUBMISSÃO: o segredo da sobriedade. Parte 2
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FÉ, VIGILÂNCIA E SUBMISSÃO: o segredo da sobriedade. Parte 2

Como continuação do devocional anterior, eu te convido a , junto comigo,  fazer uma imersão na primeira epístola de Pedro, especialmente na passagem de 1Pe 5.8-9. Na qual o apóstolo fornece três coordenadas para sair daqueles labirintos de há...

Daniele
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Como continuação do devocional anterior, eu te convido a , junto comigo,  fazer uma imersão na primeira epístola de Pedro, especialmente na passagem de 1Pe 5.8-9. Na qual o apóstolo fornece três coordenadas para sair daqueles labirintos de hábitos escravizadores e pecados recorrentes nos quais nos enfiamos e nos quais ele próprio havia padecido um bocado. Essas coordenadas são: fé, vigilância e sujeição a Deus. Na parte 1 deste devocional, nosso foco esteve mais direcionado à fé e à vigilância, agora, na parte 2, será direcionado à submissão ou sujeição a Deus.

De fato, desde a abertura, quando Pedro saúda aqueles a quem a epístola é direcionada, ele já estabelece sua tônica – a sujeição a Jesus Cristo:

De Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos escolhidos, que residem na dispersão do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, Bitínia, eleitos pelo desígnio de Deus Pai, pela consagração do Espírito, para se submeterem a Jesus Cristo e serem aspergidos com o seu sangue: a vós graça e paz abundante. 1Pe 1.1-2.

Ao longo da epístola, Pedro trata da fé, porque a sujeição é resultado dela. Não se trata exatamente de um resultado, mas de um movimento: a fé se direciona para a sujeição a Deus. O exercício da fé na minha e na sua vida deve seguir nessa direção. Usar a fé em Cristo para alcançar a realização da nossa vontade é um contrassenso, e é garantia de fracasso na caminhada cristã. Porque isso não é fé, é idolatria. A fé verdadeira dirige-se para a sujeição a Deus, e a vigilância está na observância da manutenção desse movimento. Essa é a dinâmica da sobriedade.

Sendo assim, está claro que essa dinâmica não ocorre em nossas vidas de forma automática, trata-se de um exercício que requer minha agência e que quanto mais é praticado mais robustece a minha fé que, com isso, é aperfeiçoada. É a isso que Pedro se refere no versículo 7 do capítulo 1: Se o ouro, que perece, é aquilatado no fogo, vossa fé, que é mais preciosa, será aquilatada para receber louvor, honra e glória, quando Jesus Cristo se revelar. 1 Pe 1.7

Ora, se eu estou exercitada em praticar a fé – me sujeitando a Cristo –, aceito sua vontade de bom grado.  Mais do que isso: dedico minha vida a cumpri-la e o louvo por poder glorificá-lo participando do cumprimento de sua vontade, mesmo que ela seja que eu morra martirizada pela causa do evangelho (como foi o caso do apóstolo Pedro).

Voltemos, então, à análise de 1 Pedro 5.8-9:

Sede sóbrios, vigiai, pois vosso adversário, o Diabo, como leão rugindo, dá voltas buscando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que vossos irmãos no mundo sofrem as mesmas penas.

Onde encontramos a perspectiva da sujeição ou submissão nessa passagem? Exatamente na última sentença: “sabendo que vossos irmãos no mundo sofrem as mesmas penas”. Veja bem, Pedro está se referindo a um contexto de resistência às tentações do Diabo, mas ele não está simplesmente falando das comuns e cotidianas, que conhecemos. Pois as penas sofridas pelos destinatários da epístola eram perseguição, espoliação e martírio, perpetradas contra os cristãos pelo império romano. Nesse caso, a submissão a Deus estava em não duvidar de sua bondade e fidelidade, a despeito das circunstâncias.

Pedro entende que Deus, o Senhor da História, havia determinado que seus filhos, naquele momento, em todo o mundo, deveriam passar por aqueles sofrimentos. Nesse cenário, o inimigo teria muito espaço para tentar minar a fé deles em um Deus bondoso, poderoso e providente.

Com isso, a maior preocupação de Pedro não estava em ensiná-los a fugir do sofrimento, mas a sujeitarem-se a Deus, a fim de não caírem nas garras do Diabo. Esse posicionamento do apóstolo está claro no versículo 19 do capítulo 4: “Portanto, os que padecem por vontade de Deus, continuem fazendo o bem e confiem suas vidas ao Criador, que é fiel”.

A luta contra a própria carne e contra as investidas do inimigo contra a nossa fé será uma constante até o dia da revelação de Cristo Jesus, quando seremos transformados e, enfim, nem a morte nem o pecado terá mais nenhuma influência sobre nós. Foi Deus quem determinou assim. Cabe a nós nos sujeitarmos à vontade dele, a qual é que, ao combatermos as tentações, exercitemos nossa fé e, com isso, ela seja aperfeiçoada; porque isso o glorifica.

Antes do dia de Cristo, não existe mudança definitiva nem vitória perene contra o pecado na caminhada cristã. Por isso, devemos permanecer vigilantes em manter a dinâmica da sobriedade. Muitos acreditam que Pedro, após o evento do Pentecostes, tornou-se outro homem e nunca mais se viu às voltas com suas falhas de caráter. Ledo engano. Na carta de Paulo aos Gálatas, no episódio dos judaizantes, podemos ver que quando o apóstolo Pedro não vigiava, sua natureza carnal mostrava os dentes:

Quando Cefas[1] chegou a Antioquia, eu o enfrentei abertamente, pois era censurável. Antes que viessem alguns da parte de Tiago, ele costumava comer com os pagãos; quando chegaram, ele se retraía e se afastava por medo dos judeus. Os outros judeu-cristãos começaram a fingir como ele, a tal ponto que também Barnabé se deixou arrastar ao fingimento. Quando vi que não agiam retamente segundo a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, que és judeu, vives de modo pagão e não judeu, como obrigas os pagãos a viver como judeus? Gl 2.11-14.

Porém, ao longo de sua trajetória, Pedro aprendeu a vigiar na manutenção do exercício fé, que lhe garantiu sobriedade a tal ponto de, no fim de sua vida, ao invés de sucumbir ao medo, ter a capacidade de ser martirizado, de bom grado, pela causa de Cristo. Era o mesmo homem, com as mesmas fraquezas, o que havia mudado é que ele havia aprendido a se sujeitar a Deus.

Eu louvo a Deus, a quem aprouve, para o nosso bem, que em sua Palavra ficassem registradas todas essas coisas.  Para que pudéssemos aprender que nenhum homem é infalível e que não devemos desanimar devido a nossa falibilidade, pois o poder de Deus é exaltado quando nos sujeitamos e ele opera eficazmente em nós, a despeito de nossas fraquezas.

ORAÇÃO:

Pai santo, muito obrigada pela instrução que tu nos concedes na tua Palavra. Te peço perdão por não exercitar a minha fé. Ela está tão mirrada, a ponto de eu me desesperar ou desanimar por qualquer coisinha. Enquanto os primeiros cristãos a tinham tão exercitada que davam suas vidas por amor a Cristo. Perdoa-me, Pai, por não me sujeitar a ti, por querer as coisas do meu jeito. Tu sabes o que é melhor para o teu povo, para as ovelhas do teu aprisco. Eu sou só uma ovelha, como vou querer contender com o Pastor da Minha Alma? Perdoa-me, Senhor! Eu fui eleita para sujeitar-me a ti, eis-me aqui. A tua graça me basta. O teu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza. Que tu sejas tudo e eu seja nada. Que minha vida aponte para ti e não para mim. Que eu jamais me esqueça que dependo completamente de ti e que no dia que em que eu deixar de me sujeitar a ti serei como um avião que, em pleno ar, desliga as turbinas. Não me deixe jamais tirar os olhos de ti, Pai. É o que te peço, e já te agradeço, em nome de Jesus. Amém. 

[1] Nome que Jesus deu a Pedro, quando o conheceu (Jo 1.40-42).