Os 5 piores erros ao alfabetizar seu filho e como evitá-los
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Os 5 piores erros ao alfabetizar seu filho e como evitá-los

Alfabetizar é um ato desafiador seja para pais ou professores. Por isso separei aqui o que devemos evitar para não errar nesse processo.

Mariane Assis Dias
8 min
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Alfabetizar é um ato desafiador seja para pais ou professores. Por isso separei aqui o que devemos evitar para não errar nesse processo.

- O que é a alfabetização?

Segundo a Política Nacional de Alfabetização (PNA) (Brasil, 2019), com base na ciência cognitiva da leitura, a alfabetização é definida como o ensino das habilidades de leitura e de escrita em um sistema alfabético.

“Se alguém é alfabetizado, significa que é capaz de decodificar e codificar qualquer palabra em sua lõngua. Mas a aquisição dessa técnica não é um fim em si. O objetivo é fazer que se torne capaz de ler e escrever palavras e textos com autonomia e compreensão".

Ou seja, primeiro é preciso aprender a ler, dominar o sistema alfabético e ser capaz de decodificar palavras para que posteriormente utilize desse conhecimento para compreender textos, que é a finalidade da alfabetização.

  • Como escolher o método de alfabetização?

Não é apenas importante, como essencial escolher uma metodologia de ensino adequada para ensinar uma criança a ler. Isso porque uma boa metodologia reúne as melhores práticas para o ensino da leitura e deve ser baseada na premissa mais importante para aprendizagem correta:

“Aprender a ler não é natural, portanto não se aprende a ler, lendo. Para aprender a ler alguém precisa ensinar e para ensinar a educadora deve compreender todo o processo da alfabetização”. No artigo “não nascemos programados para ler” (disponível aqui) essa premissa foi profundamente fundamentada.

Para aprender a ler, a criança precisa compreender como a escrita, ou seja, a letra que ela vê diante dela, representa a fala. Uma vez que o alfabeto é um sistema de escrita no qual os caracteres representam as menores unidades fonológicas da língua (os fonemas) ou, popularmente conhecido, os sons das letras (Morais, 1996).

Se por um lado na alfabetização um ponto é unanimidade – para decodificar, ou seja, ler, o aprendiz precisa reconhecer o sistema de escrita alfabética como representação dos sons da fala. Outro ponto é tema de amplo debate: nem todas as metodologias de alfabetização se baseiam na premissa citada acima, de que aprender a ler não é natural e que não sendo natural, precisamos ensinar. Não é possível negar, portanto, a importância do domínio da relação letra-som. Mas, o que diferencia os teóricos da alfabetização é a forma que se dá a aquisição dessa relação letra-som. Enquanto alguns métodos de alfabetização se baseiam na premissa de que esse conhecimento virá através de um ensino contextualizado, como é o caso dos métodos globais; os métodos sintéticos, particularmente o método fônico parte da premissa que essa instrução da relação letra-som deve ser explícita e ensinada desde o início, antes do contato com a tentativa de leitura de palavras e textos.

Os métodos globais ou analíticos de alfabetização levam em consideração que a aprendizagem da leitura deve ser mais significativa e motivadora para a criança e que para isso a alfabetização deveria partir das maiores unidades da linguagem, textos ou palavras. Por esse motivo que a maioria das metodologias de alfabetização vigentes no Brasil hoje parte das palavras, como o próprio nome do aluno ou de textos e não instruem especificamente sobre os elementos constituintes da palavra. Ou seja, não começam ensinando sobre os sons das letras ou formação das famílias silábicas e como elas formam uma palavra e somente depois frases e textos.

Ao contrário disso, os métodos sintéticos, em especial o método fônico de alfabetização baseia-se na premissa citada acima: a criança não sabe quais são esses elementos constituintes da palavra e para isso é preciso ensinar explicitamente as letras e o que elas representam: valores sonoros.

Quando escolhemos uma metodologia de alfabetização é preciso pensar que mais do que o passo a passo para seguir, devemos nos basear em uma premissa coerente com a aprendizagem da leitura. Se ela não é natural, é preciso fornecer as bases essenciais para a alfabetização e nesse ponto, os métodos sintéticos são mais eficazes.

  • Qual o melhor método de alfabetização?

Diante do exposto acima, entre os métodos sintéticos de alfabetização, que podem ser: soletração, silábico ou fônico, aquele que ensina explicitamente desde o início, ou seja, que promove a instrução fônica explícita da relação letra-som é o método fônico. As últimas décadas de pesquisa no campo da ciência da leitura evidenciaram que essa instrução fônica explícita, o conhecimento dos sons das letras, a capacidade de perceber e manipular esses sons presentes na palavra e o desenvolvimento do princípio alfabético são habilidades que melhor se relacionam com o sucesso na aquisição da leitura (Snowling & Hulme, 2013).

  • Como ajudar na alfabetização do meu filho?

Para ajudar de maneira eficiente na alfabetização de uma criança é preciso compreender os elementos presentes na aprendizagem da leitura e no artigo “5 respostas fundamentais para a pergunta: como ensinar a ler?”, que apontei os tópicos essenciais que toda família precisa se atentar durante a alfabetização.

Outro ponto é que, você, tenha a certeza que cabe à família o direito-dever inerente à educação. Perceba que não é só direito, é também um dever e quando os recursos familiares isolados não são suficientes surge então a escola como seu prolongamento natural, conforme frisou Padre Leonel França em seu livro “A formação da personalidade”, como um apoio à educação integral do ser humano.

Além disso, quanto maior for o envolvimento adequado das famílias e cobranças quantos aos métodos de ensino, maior será a chance de mudanças ocorrerem na educação brasileira.

 Para deixar esse momento da alfabetização o mais claro possível para cada família, selecionei alguns erros que devem ser evitados nessa etapa:

  • Erros que devemos evitar no processo de alfabetização

Erro 1: Pensar que o importante no processo de alfabetização do seu filho é o material didático

Mais importante do que o material didático, é a premissa sobre como se dá a aquisição da leitura que ele se apoia. Conforme apontado nos itens anteriores, se o material didático se basear em métodos globais de alfabetização é a grande a chance de esse processo ser penoso e a criança enfrentar dificuldades ou um tempo exagerado para compreender o sistema alfabético.  Não há atividade, tecnologia ou pilhas de materiais didáticos que sejam capazes de suprir um método ineficiente de alfabetização. No artigo “atividades para não fazer na alfabetização” exemplifiquei atividades ineficientes.

Por outro lado, o que garante um bom processo de alfabetização é uma educadora bem formada, ou seja, a qualidade do mestre quem conduz o processo.

Erro 2: Não saber o que ensinar e ignorar como ocorre a aprendizagem da leitura e o campo da ciência da leitura.

Se pensarmos, por exemplo, que cada criança aprende de um jeito e não importa o método de alfabetização, a chance é grande de esse processo ser difícil. Isso porque se ignora quais as habilidades devem ser desenvolvidas para a formação de um bom leitor, aquele que é capaz de decodificar qualquer palavra e compreender o que lê. O pesquisador americano. David Kilpatrick, apontou que ensinamos a ler de maneiras diferentes, mas as crianças aprender a ler com proficiência apenas de uma maneira. E essa maneira tem como uma dos principais pilares a instrução fônica explícita, além de outros pontos evidenciados no artigo “Alfabetização: existe o melhor método?

Erro 3: Acreditar que cada criança tem seu tempo para aprender.

Afinal, a frase acima equivale a dizer que se a criança ainda não aprendeu é porque não chegou o tempo dela. Quando na verdade, na maioria das situações pedagógicas no Brasil, o que faltou foi um ensino explícito. Mark Seidenberg é enfático ao apontar que todas as crianças precisam aprender as mesmas coisas para se tornarem leitores hábeis, mas para isso precisamos saber quais são elas.

Erro 4: Acreditar que são necessárias horas diárias de ensino para uma criança aprender a ler.

Quando na realidade, se houver ensino explícito, o ensino pode ser reduzido a 30 minutos à 1 hora diariamente. Nesse contexto aproveita-se do tempo de atenção da criança, que é costumeiramente curto, para ensinar explicitamente e de forma sistematizada, ou seja, do que é mais fácil ao que é mais difícil para ela aprender. Garantindo um ensino em progressão contínua.

Erro 5: Não preparar a criança adequadamente para a alfabetização e acreditar que esse processo se inicia pelo alfabeto.

Anteriormente a exposição a palavras e textos escritos, a criança precisa desenvolver diversas habilidades preditoras como o desenvolvimento da linguagem e compreensão oral, memória fonológica, consciência fonológica, desenvolvimento motor grosso e fino, sentidos, entre outras. Afinal não basta esperar que a criança compreenda o universo das letras se anteriormente ela não foi preparada para essa aprendizagem. No ambiente domiciliar, desde os primeiros anos de vida de uma criança a prática da leitura em voz alta pode garantir a compreensão oral e a ampliação do vocabulário, que serão extremamente úteis para a fase da alfabetização. No artigo “Literacia familiar: o que pode ser feito no ambiente domiciliar para preparar a criança para a alfabetização?” sugestões de práticas foram indicadas.

Em um contexto da educação formal, a partir dos 4 anos de idade algumas atividades educativas podem ser incentivadas, visando a adequada preparação para a alfabetização e um material sobre isso pode ser acessado no artigo “educação infantil: as melhores atividades educativas aos 4 anos”

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Referências

Brasil, 2019. PNA, 2019. Política Nacional de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/images/banners/caderno_pna_final.pdf

Snowling, M.; Hulme, C. 2013. A ciência da leitura. Penso.