Amsterdã (2022) | Crítica

Anunciado em 2020, Amsterdã chega aos cinemas sendo a terceira parceria entre o diretor David O. Russell e Christian Bale, nas quais as anteriores foram o grandioso O Vencedor (2010) e o excelente Trapaça (2013).  Aqui acompanhamos a história de três amigos acusados de um assassinato que precisam correr atrás para provar sua inocência enquanto uma sociedade secreta busca matá-los.

Ao analisar a lista de atores, se espera o mais dos magníficos dos filmes. Temos aqui nomes como Taylor Swift, Robert de Niro, Rami Malek, Mike Myers, Anya Taylor Joy, Chris Rock, dentre vários outros. Com esse elenco fenomenal, juntamente com David O. Russell que é um diretor que tem seus ótimos trabalhos, não tinha como dar errado né? Bom..., aqui vemos como a expectativa e um grande elenco talvez não seja a garantia de um ótimo filme.

Amsterdã começa sendo um filme histórico, de época. Ele busca se fundir com a história americana enquanto que busca criar seu próprio mundo. Pouco tempo depois, ele já começa com a trama do assassinato e de descobrir de quem é o assassino e se o filme buscasse seguir por esse caminho, daqueles filmes de investigação estilo Assassinato no Expresso do Oriente, seria sensacional. Uma pena que não segue. Para mim o maior problema do filme é não focar justamente onde acerta e passar muito tempo onde não é interessante, onde o espectador não tá interessado.

O grande defeito do filme é criar vários núcleos de história e jogar vários personagens e nomes onde vai enchendo o espectador com muita informação, não deixando ele respirar ou assimilar tudo aquilo que está vendo. Se em certos filmes a história é corrida e vemos tudo passar rápido, com Amsterdã é justamente ao contrário. O filme tem tempo suficiente para contar tudo aquilo que quer e de criar várias tramas e situações e ao meu ver isso vai cansando muito o espectador. 

O roteiro escrito por David O. Russell (que contou com a ajuda de Christian Bale apesar de não ser creditado) parece aquela redação de 5.000 palavras que sua professora pede para você fazer e você só vai jogando tudo aquilo que lhe vem a mente para completar a tarefa. Parece que o estúdio exigiu que o filme tivesse 2h e 14 min e o roteirista teve que criar uma história e foi enrolando para chegar a tal objetivo. É sério, é muito obstáculo que vai sendo posto para os nossos protagonistas chegarem ao seu objetivo, onde tem sempre que falar com um personagem que conhece outro personagem, que conhece outro e assim vai.

Apesar de todo esse problema com a história complexa que poderia ser mais simples e sem muito núcleos, Amsterdã tem seus bons pontos. O primeiro que é realmente impressionante é a ambientação e figurino. Sinceramente, o trabalho feito com o figurino e toda a ambientação, os carros antigos, as ruas, os objetos de época é perfeito, onde não deixa escapar ou parecer artificial em nada aos olhos do espectador. Até descobri depois por fotos que houve certos usos de tela verde que passa muito despercebido durante o filme.

Outro parte sensacional do filme é o Chris Rock. Ele não está muito presente no filme (acho que se juntar todas as suas cenas dá uns 3 minutos) porém toda vez que ele aparece é cômico e traz o público a gargalhadas. Inclusive, fato curioso dos bastidores, Christian Bale parou de falar com Chris Rock durante as gravações do filme pois o comediante estava toda hora soltando piadas e divertindo Bale, fazendo com que ele estivesse saindo do personagem (coisa que quem conhece Christian Bale sabe que ele odeia, por ser um ator metódico).

Como sempre, Christian Bale rouba a cena onde ele aparece e aqui não é diferente. Bale aqui interpreta Burt, um médico veterano de guerra quebrado, por suas cicatrizes e por perder o seu olho direito (piada recorrente durante o filme). Bale é o personagem principal do filme (inclusive é o narrador do longa) e dá um show de interpretação, onde em meio a tantos problemas que acontece com o seu personagem, consegue manter sua cabeça para cima e manter o foco na missão. 

Em meio a alguns personagens excelentes e bem feitos, outro ponto que me lembrei que poderia ser melhor explorado no filme era a sociedade secreta chamada de "O Comitê dos Cinco". A sociedade secreta que move a trama do filme sequer é mostrada direito ou explorada. Justamente aquilo que é o perigo para os protagonistas e que faz toda a história do filme acontecer é deixado de lado e perde um grande potencial. 

John David Washington e Margot Robbie são ótimos atores e aqui trazem personagens interessantes, com suas nuances únicas (inclusive o bom desse filme é que cada personagem é caricato da sua forma, onde se diferencia e destaca muito um dos outro). O filme busca formar os dois como um casal, haver um grande romance entre os dois porém isso fica muito genérico, não dá para comprar a ideia que os dois estão ali apaixonados e vivem um romance.

No fim, Amsterdã é um filme que tinha um potencial imenso pois tem um elenco fenomenal juntamente com um diretor competente e uma história muito interessante porém se perde ao deixar o roteiro se agigantar demais com vários núcleos, fazendo com que o espectador fique confuso com o tanto de informação que lhe é dada.

Aos que não tenham planos para assistir um filme específico no cinema, vale ver pelo elenco e por todo trabalho de ambientação e figurino. Talvez, se o filme tivesse um corte de 1h45min haveria um impacto maior e um melhor aproveitamento da história. 

Nota: 5,5