A rodada de enfrentamento que se encerrou há pouco entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) guarda semelhança com os demais confrontos entre Israel e o Hamas ocorridos entre o grupo estabelecido na Faixa de Gaza e o exército de Israel....
A rodada de enfrentamento que se encerrou há pouco entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) guarda semelhança com os demais confrontos entre Israel e o Hamas ocorridos entre o grupo estabelecido na Faixa de Gaza e o exército de Israel. No entanto, há diferenças relevantes a partir justamente do que escrevi acima: ao contrário dos demais ciclos de relativamente curta duração com o Hamas, este foi um enfrentamento entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina (PIJ), um grupo menor que o Hamas e cuja liderança não está na Faixa de Gaza: o comandante do grupo, Ziad Nakhaleh, está em Teerã, a capital iraniana. | ||
Este é um ponto importante da análise, uma vez que, de forma mais ou menos direta, é possível dizer que se tratou de um enfrentamento por procuração entre Israel e o Irã, lembrando sempre que este é um momento de impasse em torno das negociações sobre o programa nuclear iraniano e sua tentativa de conseguir obter arsenal nuclear - objetivo negado pelas autoridades iranianas ao longo deste século, mas cuja retórica tem mudado recentemente. O Irã já não faz muita questão de esconder seus objetivos com o programa nuclear. | ||
O confronto entre Israel e a PIJ pode ser entendido como resultado de uma escalada dos acontecimentos militares no conflito israelense-palestino após a prisão de Bassem Saadi, um dos líderes do grupo na a Cisjordânia. De acordo com o Shin Bet, o serviço de segurança interno de Israel, Saadi buscava estabelecer uma força militar significativa da PIJ na Cisjordânia. Na sequência de sua prisão, as autoridades israelenses diziam ter obtido informações de que a PIJ estava prestes a realizar atos de vingança relevantes, o que levou ao governo de Israel a uma espécie de autofechamento da região sul, chegando mesmo a impor bloqueios nas estradas e interrupção total da circulação dos trens, causando revolta na população israelense que vive nesta parte do país. | ||
Lembrando sempre que os palestinos vivem em dois territórios distintos: a Faixa de Gaza sob comando do Hamas, e a Cisjordânia, sob governo da Autoridade Palestina (AP), entidade reconhecida pela comunidade internacional como o governo oficial palestino. | ||
A PIJ, neste caso, é, portanto, uma nova entidade neste jogo geopolítico, o que também é algo relevante no cenário regional de forma mais ampla e no conflito entre israelenses e palestinos, em particular; desde que tomou a Faixa de Gaza e expulsou a Autoridade Palestina do território em 2007, o Hamas mantém a retórica terrorista que prega a destruição de Israel, mas (e este "mas" é muito importante) assumiu o papel prático de governo em Gaza. | ||
Portanto, para além de seu braço armado, funciona também como uma entidade que lida com decisões burocráticas e de estado em todas as suas complexidades. A contrário da PIJ, que é apenas um grupo armado com igual retórica e prática terroristas, e que não pretende assumir (ao menos neste ponto) qualquer papel burocrático ou institucional para além da luta armada contra Israel. Esta diferença fundamental estabelece também as dúvidas sobre o conflito de curta duração que acaba de (aparentemente) se encerrar e também sobre os próximos que virão. | ||
Há duas grandes questões que se apresentam: o Hamas controla a Faixa de Gaza, mas tem dificuldades de manter a PIJ sob suas determinações. De fato, a PIJ é um grupo rival ao Hamas. O Hamas desta vez se manteve distante do enfrentamento, dando voz apenas à retórica contra Israel. Como e quando estará pronto para um próximo confronto, uma vez que ainda se recupera dos danos estruturais sofridos em maio do ano passado? E quais serão as consequências internas na Faixa de Gaza sob o ponto de vista de liderança a partir do momento em que a PIJ se apresenta individualmente para um confronto com Israel? | ||
Pode não parecer, mas esta rodada de curta duração pode ter grande importância nos destinos não apenas do conflito israelense-palestino, mas também na configuração regional. Passou despercebido em muitas análises, mas é evidente que as forças israelenses têm mapeado a ascensão da PIJ na Cisjordânia por uma razão simples: esta é uma força militar que segue diretrizes a partir do Irã e recebe recursos da mesma origem. Em Gaza, o cenário é bastante conhecido. Mesmo sob o governo do Hamas, Israel conseguiu estabelecer uma dinâmica de atuação frente ao grupo e de relativa manutenção do status quo - o que aliás prejudica com frequência a população do sul do país, importante dizer. | ||
Mas o mesmo não se aplicaria para uma eventual configuração em que a PIJ, sob as diretrizes do Irã, estaria baseada na Cisjordânia. A região faz fronteira com a parte central e norte de Israel. A região central abriga a maior parte da população e é justamente aí que estão as duas maiores cidades do país: Jerusalém e Tel Aviv. A terceira maior cidade é Haifa, ao norte, que também estaria sob a mira da PIJ. Este é o problema da vez de Israel e provavelmente por isso o alerta das autoridades chegou ao ponto mais alto. Impedir que a PIJ (sob as diretrizes do Irã) se estabeleça na Cisjordânia é certamente a prioridade do governo israelense. |